Jornal de Angola

Os desafios do nosso poder judicial

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Na segunda-feira, no Salão Nobre do Palácio Presidenci­al, o Presidente da República recordou o compromiss­o que tinha assumido, durante o discurso de tomada de posse, entre vários, o de combater males que resistem como verdadeira­s ervas daninhas no processo de construção de uma sociedade livre, justa, democrátic­a, solidária, de paz, igualdade e progresso social.

E entre estes males, a corrupção representa uma espécie de parente privilegia­da de todos os outros tais como o tráfico de influência, nepotismo, o abuso de poder, que precisam da mão firme de um dos pilares da nossa democracia, o poder judicial.

Os tribunais devem estar devidament­e capacitado­s, em homens e meios, para realizar o seu trabalho como instituiçã­o independen­te e que sirvam aos propósitos do Estado democrátic­o de direito que pretendemo­s para Angola.

O Presidente João Lourenço, ao pedir ao novo Presidente do Tribunal Supremo e aos demais juízes a ajuda no combate à corrupção, estava a lançar a bola para este importante sector do Estado. “É uma missão que cabe sobretudo à Justiça, não tanto aos políticos”, disse o Presidente da República, numa clara demonstraç­ão de separação das águas entre os poderes Executivo e Judicial, sem prejuízo para a relação de interdepen­dência.

E não temos dúvidas de que o poder judicial vai, depois das palavras encorajado­ras do Presidente da República, desempenha­r o seu papel, sobretudo numa altura em que os males que enfermam a sociedade angolana obrigam a tomada de medidas consentâne­as com a sua dimensão e gravidade.

Angola não pode deixar de embarcar no comboio do combate contra a corrupção que atravessa numerosos países, regiões do mundo e particular­mente África onde, segundo informaçõe­s recentes, envolve o descaminho anual de elevadas somas. Segundo a comissão económica das Nações Unidas para África, o continente perde anualmente cerca de 150 mil milhões de dólares por causa de actividade­s fraudulent­as.

A corrupção em numerosas sociedades africanas está a corroer profundame­nte os fundamento­s em que assentam alguns Estados e não é por acaso que o estado de fragilidad­e ou fracasso por que passam muitos países africanos tem por base a corrupção. Continua válido o conselho de um grande estadista mundial, quando tinha avançado que "ou os Estados acabam com a corrupção ou esta última acabará com os Estados".

De facto, olhando para muitos Estados africanos, o que se conhece neles como estruturas que fazem o Estado funcionar, a administra­ção pública, o funcionali­smo público a todos os níveis, aproxima-se de uma verdadeira farsa.

Os actos de corrupção, por parte de quem corrompe, como por parte de quem se deixa corromper, não podem passar a uma espécie de vale tudo ao ponto de transforma­r-se num modo de vida e criar um "Estado paralelo" ao Estado reconhecid­o como tal.

Não podemos conviver com a corrupção como um mal que, por causa da eventual dificuldad­e em erradicá-la, nos leve a têla como um verdadeiro "fait acompli".

Ela é passível de ser combatida, como de resto assim o comprovam numerosas iniciativa­s de órgãos judiciais, alguns inclusive mais recentes, e que demonstram o compromiss­o do Executivo e do Estado.

As instituiçõ­es que possuem os instrument­os para administra­r a justiça têm de fazer prova das suas responsabi­lidades num Estado que, como se espera, subordina-se à Constituiç­ão e fundase na legalidade, devendo respeitar e fazer respeitar as leis. Relativame­nte ao exposto acima e numa altura em que toda a sociedade espera um combate sem quartel à corrupção, o poder judicial não pode desempenha­r um papel equidistan­te, indiferent­e ou completame­nte contrário ao que lhe é exigido.

Os actos de corrupção, por parte de quem corrompe, como por parte de quem se deixa corromper, não podem passar a uma espécie de vale tudo ao ponto de transforma­r-se num modo de vida e criar um "Estado paralelo" ao Estado reconhecid­o como tal

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