Eleitores serra-leoneses escolhem novo Presidente
Votação de hoje marcada por apelos à não-violência e compromisso de respeito pelos resultados nas urnas
A Serra Leoa vai hoje a votos para eleger o Presidente da República e os deputados ao Parlamento em eleições gerais marcadas pelo apelo à não-violência, num país que ainda recupera das feridas da guerra civil dos anos 1990 e, mais recentemente, de um surto de ébola que matou milhares de pessoas.
Um total de 16 candidatos concorrem às eleições presidenciais, enquanto outros tantos partidos políticos aspiram formar Governo. A maioria das forças políticas comprometeram-se junto das Nações Unidas, União Africana (UA), União Europeia (UE) e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) a respeitar a paz e estabilidade antes, durante e depois da votação.
Este compromisso ficou comprovado durante a campanha eleitoral, apesar de se terem registado alguns incidentes que, segundo a Comissão de Registo de Partidos Políticos (PPRC), que organiza a votação em conjunto com a Comissão Nacional de Eleições (NEC), não põem em causa o processo eleitoral.
De saída está o Presidente Ernest Bai Koroma, que respeitou a Constituição e não se candidata a um ilegal terceiro mandato, deixando esta possibilidade para o ministro cessante dos Negócios Estrangeiros Samura Kamara, candidato escolhido em Outubro de 2017 pelo Congresso de Todos os Povos, no poder. Economista de 67 anos, Kamara já foi ministro das Finanças e governador do Banco Central da Serra Leoa e, depois das eleições, quer vença ou não, substitui também Koroma na liderança do APC.
Como principal candidato da oposição, indicado pelo Partido Popular da Serra Leoa (SLPP), concorre Juilus Maada Bio, antigo general, de 53 anos, que, em Janeiro de 1996, então ministro da Defesa, liderou o país por dois meses, à frente de uma Junta Militar que derrubou o na altura Presidente Valentine Strasser.
O candidato da oposição já saiu derrotado nas eleições presidenciais de 2012.
Se os dois candidatos polarizam as sondagens locais para as presidenciais, também os dois partidos que os apoiam (APC e SLPP) são considerados favoritos nas legislativas, numas eleições em que Koroma prometeu à comunidade internacional que tudo vai fazer para que sejam livres, justas e transparentes. Independente desde 27 de Abril de 1961, a área costeira da Serra Leoa tornou-se uma colónia inglesa em 1808, “cedida” pelos portugueses, que aí chegaram no século XV. Em 1896, já com o território definido, tornou-se um protectorado britânico na costa ocidental de África.
Com presença assídua nos primeiros lugares dos índices internacionais de pobreza, a Serra Leoa tem sido alvo de vários golpes de Estado e de guerras civis, em que se estima terem morrido mais de 50 mil pessoas e que dilaceraram, entre 1991 e 2002, a economia de um país rico em diamantes, mineral que teve sempre um papel central nas sucessivas instabilidades.
Presidente Ernest Bai Koroma foi elogiado por respeitar a Constituição do país e indicar o ministro cessante dos Negócios Estrangeiros, Samura Kamara, como candidato do partido Congresso de Todos os Povos às eleições
Prova disso mesmo é a violenta guerra civil durante os anos 1990, em que os confrontos entre as forças do Governo e os guerrilheiros da Frente Revolucionária Unida (RUF) eram constantes. Boa parte das armas foi obtida por meio de traficantes, que recebiam o pagamento em diamantes extraídos das regiões montanhosas do interior do país.
A calma regressou após a maior intervenção de sempre das Nações Unidas, que conseguiu enviar para a Serra Leoa cerca de 17.000 soldados, incluindo um forte contingente militar britânico.
Mais recentemente, em 2014, a Serra Leoa, que conta com cerca de 7,4 milhões de habitantes (dados do Banco Mundial referentes a 2016), maioritariamente muçulmanos (60 por cento) e cristãos (30 por cento) - não há conflitos inter-religiosos , foi atingida por um surto de Ébola, que vitimou mais de 4.000 pessoas e voltou a destruir a já de si débil economia do país.