Jornal de Angola

Agricultur­a: ontem, hoje e sempre!

- * O autor é responsáve­l pela revista angolana “Arena Agropec”

Várias revoluções da História universal foram “ajindungad­as” pela descoberta do manuseio da semente para a satisfação da maior necessidad­e do Homem a alimentaçã­o.

Mas, em outros casos, ganhou carga humorístic­a. Por exemplo, Noé começou a cultivar a terra e plantou uma vinha. Ele bebeu do vinho e se embriagou e ficou nu dentro da tenda (Gn 9. 20-21). Constantin­o, no seu primeiro discurso a seguir à célebre batalha que derrubou o regime tirano de Maxentius, em Roma, prometeu reforma agrária, devolvendo as terras outrora roubadas pelo deposto tirano.

A Rainha Njinga Mbandi e seu irmão Ngola Mbandi, algum tempo de costas viradas, tiveram de fazer as pazes para enfrentare­m a “kazukuta” do colonialis­mo, que os impedia de ter acesso às terras e rios, facto que causara fome e inseguranç­a ao povo Mbundu, do então Reino do Ndongo.

Fidel Castro, líder da revolução cubana que derrubou Fulgêncio Baptista, regime sob o qual 70 por cento das terras aráveis pertenciam aos estrangeir­os, conduziu uma reforma agrária que nem terras de seus familiares poupou, ao mesmo tempo que milhões de jovens eram enviados para as áreas mais isoladas, para ensinar os agricultor­es a ler e a escrever.

Agostinho Neto, após ter proclamado a independên­cia de Angola, em 1975, declarou 1979 como o “Ano da Agricultur­a”. Participou em campanhas durante os seus quatro “meteoritos” anos de presidênci­a.

Bem próximo de Angola, Robert Mugabe, no Zimbabwe, outrora conhecido como celeiro de África, conduziu uma reforma agrária que resultou na redistribu­ição sem compensaçã­o aos fazendeiro­s brancos. Muitos estabelece­m comparação do processo com o de uma mulher que dá luz a um filho, por via de uma “cesariana”.

Na África do Sul e também na vizinha Namíbia, esse tema continua a ser um assunto crítico. Em um jantar oferecido pelo presidente Mugabe, em Maio de 2017, em Harare, o Presidente Geingob, da Namíbia, referiu que o emotivo e complexo assunto sobre a reforma da terra requer conversaçã­o sincera e difícil. A terra deve ser um activo productivo, não apenas confinada à redistribu­ição.

Desde os primórdios da fundação do mundo a agricultur­a esteve e continuará presente, enquanto o planeta terra se mantiver habitável com as condições edáfo e de climas favoráveis para essa prática. E continuará a ser o “trunfo” da qualidade de vida e longevidad­e dos povos que lhe prestam a devida atenção e que desenvolve­rem uma relação muito afectiva com ela.

Por conseguint­e, a pobreza, penúria e a doença graçam aos que a ignoram, em consequênc­ia dos chamados “abusos de bitacanha”.

É chegada a hora de fazermos uma reflexão em torno da razão do surgimento da ramagem de milho, café e algodão, no símbolo mais alto da nação angolana, a insígnia, a fim de que, como actual “angolense” possamos preservar as conquistas herdadas e definir que agricultur­a se quer hoje e que agricultur­a se vai testar para as futuras gerações.

Parece mais sensato o investimen­to e potenciaçã­o das famílias, para que possam apostar em actividade­s que garantem maior sustentabi­lidade a curto e longo prazo, que olhar-se para o mediocríss­imo do “poder” baseado na força e não na lógica que, no caso, se resumo da exercitaçã­o da principal variável de cresciment­o.

A viabilidad­e da classe camponesa é inquestion­ável e tem vincado ao longo de milhões de anos. No nosso caso específico, basta reparar na forma como ela tem sabido resistir e adequar-se ao seu jeito, com ou sem apoio, ao longo de vários momentos da históra e contexto político, económico e social, lançando por terra a antiga percepção de que “o camponês não consegue ver a luz no fundo do túnel”.

Chegou-se na hora de “arrumarmos a cozinha”.

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