Bispos condenam cultura do enriquecimento ilícito
Bispos católicos, reunidos em assembleia anual no Namibe, exortaram ontem os políticos a terem de facto, sem retórica, o bem-estar da população como o centro de toda a sua acção
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom Filomeno Vieira Dias, denunciou ontem a promoção no país de uma cultura que exalta o sucesso e o enriquecimento fácil, em vez da honra e do dever cumprido. O também arcebispo de Luanda, que falava na abertura da primeira assembleia anual dos bispos católicos, que decorre na cidade de Moçâmedes (Namibe), exortou os políticos a seguirem no caminho da realização e desenvolvimento das populações e que a política não seja via indigna de enriquecimento pessoal.
O prelado sublinhou que Angola vive “um momento particular de grandes expectativas, muita esperança e sinais de diálogo permanente”. “Sente-se, respira-se, toca-se com os dedos o desejo popular de mudança. Há sinais de querer-se ouvir e dialogar mais com todos e de pensar-se a Nação a várias vozes”, observou o prelado.
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom Filomeno Vieira Dias, exortou ontem os políticos angolanos a seguirem no “caminho da realização e desenvolvimento” das populações e que a política “não seja via indigna de enriquecimento pessoal”.
Dom Filomeno, que falava em Moçâmedes na abertura da primeira assembleia anual da CEAST, disse ainda ser “importante e imperioso” desafiar os políticos dos “próprios vícios históricos, metendo-se num caminho da realização sem qualquer outro interesse daquilo que é o bem e o desenvolvimento das nossas populações”.
O também arcebispo de Luanda sublinhou que Angola vive “um momento particular de grandes expectativas, muita esperança e sinais de diálogo permanente”. “Sente-se, respira-se, tocase com os dedos o desejo popular de mudança. Há sinais de querer-se ouvir e dialogar mais com todos e de pensar-se a Nação a várias vozes e a várias tonalidades”, observou Dom Filomeno Vieira Dias.
Por isso, assinalou o prelado, “nesses tempos com muitos rostos visíveis novos e credíveis na política é importante perguntar a quantos estão neste campo do cuidar, do vigiar, do conduzir a coisa pública, perguntar de forma clara quais são as suas próprias intenções”.
“Tendo em conta que o povo quer que a política e o político tenha de facto, sem retórica, no fazer e no pensar quotidiano, o bem-estar da população como seu objectivo e centro da sua acção. As pessoas querem que a política deixe de ser uma via indigna para o enriquecimento pessoal”, adiantou.
Para o bispo, todos os esforços que se têm realizado “pouco servem as necessárias leis se as consciências continuam a respirar uma cultura que exalta o sucesso e o enriquecimento fácil, em vez da honra e do dever cumprido”.
Durante o encontro, os bispos vão efectivar o projecto de reflorestação para travar a desertificação no Namibe, onde existe o deserto do Namibe, considerado o mais antigo do mundo.
“Sabemos que a questão ecológica é de grande actualidade, sobretudo nas nossas terras, e o que pretendemos fazer é durante esses dias dar início a um projecto de reflorestação e um esforço para travar a desertificação aqui neste ponto do Namibe, onde temos de facto esta realidade diante de nós”, rematou Dom Filomeno.
O prelado católico explicou que a intenção surge como resultado da carta do Papa Francisco com o título “Laudato Si” (louvai o Senhor), que apela à preservação do ambiente. O porta-voz da CEAST, Dom José Manuel Imbamba, criticou a apatia de certos cristãos que não se assumem como “verdadeiros católicos ou discípulos de Jesus Cristo” em espaços como a política, ciência e economia. “Falta o testemunho cristão”, considerou o também arcebispo de Saurimo, que questionou: “O cristão católico político o que faz, por exemplo, quando está na Assembleia Nacional, no exercício do poder, na educação, nos laboratórios, hospitais? Como é que ele testemunha Jesus Cristo?”.
Dom Imbamba reconheceu que há ainda algum trabalho por fazer para que o cristão saiba dar a cara, defender os princípios cristãos, no quadro da Doutrina Social da Igreja. O prelado disse que o cristão deve saber promover a vida e “não deve deixar-se contaminar com as filosofias da moda, que degeneram na opressão, ganância, corrupção e tudo aquilo que ofende o princípio evangélico”.
Os 20 bispos católicos presentes no Namibe vão ter a oportunidade de visitar empreendimentos do sector pesqueiro em Moçâmedes e no Tômbwa, a Academia de Pescas e Ciências do Mar e realizar passeios em locais turísticos da província.