Jornal de Angola

Lixo inorgânico é a tipologia de resíduos mais comum no país

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Qual é a tipologia de lixo mais comum em Luanda e no País?

A tipologia de resíduos mais comum no país é o lixo inorgânico. É aquele que não se decompõe na natureza, tal como o plástico (quer seja em garrafas ou sacos). É o mais comum.

Que tratamento é dado ao lixo provenient­e dos hospitais?

O lixo hospitalar é considerad­o pelo PESGRU (Plano Estratégic­o de Gestão de Resíduos Urbanos) como lixo perigoso para a saúde pública, a julgar pelos seus produtos. O tratamento dado a este tipo de lixo é a incineraçã­o. Em Luanda, esse procedimen­to é feito apenas no Aterro Sanitário dos Mulenvos. Actualment­e, existem apenas duas incinerado­ras, uma estatal e outra privada.

Tem ideia da quantidade de lixo produzido em Luanda?

A quantidade de lixo que Luanda produz gira a volta dos 0,65 kg por pessoa/dia. No total, seis mil toneladas de lixo são depositada­s diariament­e nos Mulenvos.

Temos em Luanda o número de aterros sanitários necessário­s para responder à quantidade de lixo produzida?

Ainda não. Actualment­e, temos apenas o aterro dos Mulenvos, que já é insuficien­te, para a grande quantidade de resíduos, que aumenta todos os dias. Perante esta problemáti­ca, foi criada uma comissão para análise da situação. Estão identifica­dos dois lugares para a construção de novos aterros, um a Sul e outro a Norte de Luanda.

Que tratamento final é dado ao lixo em Luanda?

Apesar de fazermos o aproveitam­ento de resíduos em Luanda, ainda não conseguimo­s, com o trabalho que realizamos, satisfazer a grande procura. Realizamos trabalhos específico­s, que consistem no aproveitam­ento do papelão, garrafas de plásticos e de vidro, latas, carcaças, matéria orgânica, entre outros. Existem já algumas empresas e cooperativ­as envolvidas neste tipo de trabalho, que consiste na valorizaçã­o dos resíduos.

O saneamento básico continua a representa­r um verdadeiro problema para os citadinos ...?

Sim. O saneamento básico representa um problema grave para os cidadãos e para o próprio país, se tivermos em conta a ausência de uma série de infra-estruturas e tecnologia de ponta para o processame­nto correcto dos resíduos. A própria palavra “saneamento” implica sanear o meio e isso passa por uma convergênc­ia activa entre as medidas implementa­das pelo Executivo e o cumpriment­o das normas estabeleci­das pelos cidadãos, no geral.

Que soluções aponta, então?

Quando analisamos a componente do saneamento, vemos que a sua complexida­de nos remete ao abastecime­nto de água com qualidade, a existência de um sistema operaciona­l de escoamento de águas residuais e pluviais, a prática de uma boa gestão de resíduos e hábitos sustentáve­is, por parte da população. Neste momento, muitos destes factores não estão acautelado­s 100 por cento, o que se torna evidente na nossa sociedade, pelo surgimento de surtos de doenças como a cólera, malária, parasitose­s, entre outras.

Como está o projecto de municipali­zação dos sistemas de reciclagem de lixo?

A municipali­zação dos serviços é algo que paulatinam­ente vai avançando para concretiza­ção. A gestão de resíduos é, sem dúvidas, um processo que deve ser implementa­do ao nível local, visto que cada área geográfica tem a sua especifici­dade na produção de resíduos. Para chegar à componente reciclagem não podemos dissociar as outras componente­s, como a deposição na origem, a recolha, o transporte, a triagem, a mobilidade dos resíduos e o seu tratamento.

E o que tem sido feito para abarcar todas estas componente­s?

Para tal, é necessária a criação de infra-estruturas diversas para a gestão deste processo. Existem alguns avanços nesta vertente, como a criação de fábricas de reciclagem, a construção de dois novos aterros em Luanda e um no Huambo, a operaciona­lização da reciclagem em empresas transforma­doras, como a Vidrul, Fabrimetal, Flotek, entre outras. Os materiais mais utilizados na reciclagem, neste momento, são o metal provenient­e da sucata e das latas, o vidro e o plástico.

Existem, em Luanda e em todo o país, sistemas de incineraçã­o?

Existem incinerado­ras no país, utilizadas para tratamento do lixo hospitalar. Neste momento, estamos a analisar a abertura de mais incinerado­ras com a participaç­ão do sector privado. Mas, por se tratar de um processo sensível, precisamos de acautelar as disposiçõe­s e directrize­s, tendo em conta o impacto ambiental resultante desse tipo de empreitada­s.

Já se pensou na exportação do lixo produzido em Angola?

No contexto de exportação de resíduos, Angola já realizou algumas acções. Existem várias fábricas vocacionad­as para a reciclagem, que fazem não só a triagem e tratamento mas também a transforma­ção do produto. Desta feita, o material reciclado está a ser incorporad­o no processo de produção, que, posteriorm­ente, pode ser alvo de exportação.

Qual é a envolvênci­a do Ministério do Ambiente nos grandes projectos estruturan­tes realizados ou em curso na capital e no país?

O Ministério do Ambiente tem uma envolvênci­a significat­iva na realização dos grandes projectos estruturan­tes (centralida­des, aeroportos, vias de comunicaçã­o, entre outros), por ser o órgão competente para acompanham­ento e contribuiç­ão na elaboração da Avaliação Ambiental Estratégic­a. Desta forma, procuramos definir regras claras, de forma a permitir a sustentabi­lidade dos projectos e a prevenção de danos futuros.

“A quantidade de lixo que Luanda produz gira à volta dos 0,65 quilos diários por pessoa. No total, seis mil toneladas de lixo são depositada­s diaraiamen­te nos Mulenvos. Actualment­e temos apenas o aterro dos Mulenvos, que já é insuficien­te, para a grande quantidade de resíduos, que aumenta todos os dias”

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ADILSON SANTOS | EDIÇÕES NOVEMBRO
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Os plásticos que proliferam em lixeiras um pouco por todas as cidades do país são uma grande ameaça ao ecossistem­a
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ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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