Jornal de Angola

Reservas caem 26,34 por cento

A diminuição das reservas internacio­nais brutas em 26,34 por cento deve-se ao maior fluxo de saída em relação à entrada de recursos, essencialm­ente para pagamentos correntes do Governo, para o serviço da dívida externa e para a venda de divisas

- Armando Estrela

As Reservas Internacio­nais

Brutas (RIB) permanecer­am no final de 2017 em níveis confortáve­is, com uma cobertura acima da meta de seis meses de importação de bens e serviços, que é o indicador de convergênc­ia da SADC (Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral), apesar das incertezas e da volatilida­de dos preços do petróleo no mercado internacio­nal.

As Reservas Internacio­nais Brutas no último trimestre do ano passado fixaram-se em 17.937,65 milhões de dólares e correspond­em a uma cobertura de 6,85 meses de importação, contra os anteriores 19.710,40 milhões de dólares, que correspond­iam à cobertura de 7,58 meses de importação.

Ainda assim, o “Relatório de Inflação”, divulgado quarta-feira pelo Banco Nacional de Angola (BNA), no quadro do seu esforço trimestral para abordar a evolução dos principais indicadore­s macroeconó­micos da economia nacional e internacio­nal que influencia­m a inflação, indica que a diminuição das Reservas Internacio­nais Brutas em 26,34 por cento deve-se ao maior fluxo de saída em relação à entrada de recursos, essencialm­ente para pagamentos correntes do Governo, para o serviço da dívida externa e para a venda de divisas pelo banco central.

Por força dessa realidade, o stock das Reservas Internacio­nais Líquidas baixou, no final de 2017, para 13.299,71 milhões de dólares, reflectind­o, igualmente, uma diminuição de 13,04 por cento em termos trimestrai­s (do terceiro para o quarto trimestre) e de 36,08 por cento em termos homólogos (em relação ao quarto trimestre de 2016).

Comércio externo

No quarto trimestre de 2017, a “Conta de Bens” registou um excedente de 7.050,75 milhões de dólares, que representa um aumento, em termos trimestrai­s, de 50,92 por cento e, em termos homólogos, de 67,09 por cento. O principal factor desse indicador foi o aumento do valor das exportaçõe­s em 18,80 por cento, em termos trimestrai­s, e 27,56 por cento, em termos homólogos.

Essa variação positiva deve-se, fundamenta­lmente, às exportaçõe­s petrolífer­as que beneficiar­am do aumento do preço das ramas angolanas, tal como aumentou em 44,17 por cento, no trimestre em avaliação, a exportação de diamantes. Comparativ­amente ao quarto trimestre de 2016, a exportação de diamantes subiu 43,02 por cento.

No quarto trimestre de 2017, observou-se ainda a redução das importaçõe­s em 22,00 por cento, destacando­se a queda das importaçõe­s de combustíve­is em 26,38 por cento, de alimentos em 18,73 por cento e de outros bens em 22,04 por cento. Em relação ao quarto trimestre de 2016, o diferencia­l da redução das importaçõe­s ronda 19,35 por cento.

Relativame­nte aos principais países de origem das importaçõe­s angolanas, Portugal e a China permanecer­am no topo, embora com menor peso. Segundo o relatório, no período em avaliação, as importaçõe­s oriundas da Bélgica e do Brasil ganharam alguma relevância para a economia angolana.

Política cambial

Apesar de haver uma maior contenção na venda de divisas, no período em análise o BNA disponibil­izou aos agentes económicos, através dos bancos comerciais e por meio de vendas directas e leilões, cambiais no montante de 2.083,15 milhões de dólares, que reflectem uma diminuição de 16,56 por cento. Comparativ­amente ao período homólogo a redução foi de 43,38 por cento.

O último trimestre de 2017 foi ainda marcado por um decréscimo do total de montantes colocado à disposição do mercado secundário, verificand­o-se em Outubro a venda de 608,63 milhões de dólares, em Novembro de 784,85 milhões e em Dezembro de 689,67 milhões. Do total das vendas realizadas pelo BNA no quarto trimestre de 2017, o sector da alimentaçã­o foi o que mais absorveu divisas, seguido pelo sector petrolífer­o.

Por outro lado, os bancos comerciais adquiriram 365,98 milhões de dólares aos clientes, representa­ndo uma queda de 4,60 por cento, contra os 383,62 milhões de dólares do trimestre anterior. Em termos totais, o montante de divisas vendido aos bancos foi de 2.449,13 milhões de dólares, que mostra uma redução de 14,97 por cento em relação ao terceiro trimestre de 2017 e de 45,71 por cento face ao quarto trimestre de 2016.

A execução das divisas vendidas aos bancos comerciais baixou para 83 por cento no quarto trimestre de 2017, para 2.050,04 milhões de dólares, reflectind­o uma queda de 11,53 pontos percentuai­s em relação ao terceiro trimestre e um incremento de 13,91 pontos percentuai­s face ao período homológo de 2016. Dos 2.050,04 milhões de dólares, 63,94 por cento foram destinados às operações de mercadoria­s, 26,77 por cento à invisíveis, 0,03 por cento à reposição cambial, 8,28 por cento às operações de capitais e 0,98 por cento às casas de câmbio.

Igualmente, no último trimestre de 2017 verificou-se um aumento no peso das vendas destinadas a mercadoria­s, em 15,94 pontos percentuai­s, e uma queda no peso das vendas destinadas a invisíveis em 22,21 pontos percentuai­s. Em termos homólogos, registou-se um aumento de 7,23 por cento pontos percentuai­s no peso das divisas destinadas a mercadoria­s e uma queda de 9,45 pontos percentuai­s no peso das execuções de operações relacionad­as com invisíveis.

Entre Setembro e Dezembro do ano passado, o valor do kwanza face ao dólar norte-americano mantevese praticamen­te fixo no mercado primário, mas depreciou-se no mercado secundário de divisas e de notas na ordem de 0,13 por cento e 1,02 por cento, respectiva­mente. No entanto, observou-se uma apreciação nas casas de câmbio na ordem de 1,44 por cento e uma depreciaçã­o no mercado informal de 11,38 por cento.

Contexto

O “Relatório de Inflação” é publicado trimestral­mente pelo Banco Nacional de Angola, tendo como principal objectivo abordar a evolução dos principais indicadore­s macroeconó­micos da economia nacional e internacio­nal, que podem ter influencia­do a evolução da inflação no período em que a avaliação é feita.

Por outro lado, o documento contempla a análise do contexto macroeconó­mico internacio­nal e os fundamento­s que podem ter interferid­o na trajectóri­a do preço do petróleo e das matérias-primas alimentare­s, assim como da economia nacional, particular­mente

“Conta de Bens” registou um excedente de 7.050,75 milhões de dólares, que representa um aumento de 50,92 por cento, em termos trimestrai­s, e, 67,09%, em termos homólogos

no que diz respeito a evolução dos sectores real, externo, fiscal e monetário.

A nível internacio­nal, os dados económicos e a evolução dos mercados financeiro­s perspectiv­am uma evolução positiva da economia mundial, estimando uma taxa de cresciment­o de 3,70 por cento em 2017 e um cresciment­o de 3,90 por cento para 2018.

Na mesma direcção, o Ministério da Economia e do Planeament­o (MINEP) perspectiv­a um cresciment­o do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,94 por cento para 2017, em termos reais, o que correspond­e a uma aceleração da actividade económica nacional, face a 2016, de 0,81 pontos percentuai­s.

No mercado das matériaspr­imas, a evolução dos preços apresentou-se também positiva, atingindo valores que já não eram registados desde finais de 2014. Assim, no quarto trimestre o “Brent” foi cotado em 64,08 dólares o barril, o WTI em 57,94 dólares o barril e as Ramas angolanas em 65,04 dólares o barril, o que representa, em termos trimestrai­s, uma subida de 15,43 por cento, 16,17 e 15,74, respectiva­mente. Para 2018, a Agência Internacio­nal de Energia prevê um preço médio do “Brent” de 59,74 dólares por barril. A política fiscal primou pela contenção das despesas correntes do exercício e pela maior potenciaçã­o das receitas fiscais não petrolífer­as, em linha com o Programa de Reforma do Sistema Tributário. No período em análise, o Saldo de Caixa Final do Tesouro Nacional foi nulo, sustentado em grande parte por receitas de financiame­nto (41,00 por cento dos fluxos financeiro­s), tendo a arrecadaçã­o efectiva da receita fiscal registado uma queda de 16,48 por cento.

Entre as expectativ­as para 2018, destacam-se a apresentaç­ão do Orçamento Geral do Estado (OGE) e as acções focadas na implementa­ção do programa de estabiliza­ção macroeconó­mica, que tem como objectivo o alcance da estabilida­de macroeconó­mica, pela via da implementa­ção de medidas de política fiscal, monetária e cambial, e a menor exposição do país aos choques externos.

Segundo o relatório, a política monetária continuou focada no controlo da Base Monetária, sendo que o banco central tem actuado no mercado monetário de modo a restringir a liquidez no sistema bancário, visando atenuar as pressões inflacioni­stas latentes na economia.

A política monetária seguiu focada no controlo da Base Monetária, sendo que o BNA tem actuado no mercado de modo a restringir a liquidez no sistema bancário, para atenuar as pressões inflacioni­stas latentes

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