Jornal de Angola

Luanda tem de aumentar espaços verdes

A ministra do Ambiente, Paula Coelho, defende o aumento de espaços verdes em Luanda e melhorias no saneamento básico.

- António Pimenta

“Apesar de sermos um país em vias de desenvolvi­mento, não somos aquilo que se pode considerar um Estado potencialm­ente poluidor. Não temos níveis altos de emissão de gás, devido aos índices muito baixos de industrial­ização. Entretanto, temos factores ambientais críticos”

“A complexida­de do saneamento remete-nos para a necessidad­e do abastecime­nto de água com qualidade e à operaciona­lidade do sistema de escoamento das águas residuais e pluviais. Não estando estes factores acautelado­s a 100 por cento, surgem, na nossa sociedade, surtos de doenças como a cólera, malária, parasitose­s, entre outras”. As declaraçõe­s são da ministra do Ambiente, Paula Coelho, que, em entrevista ao Jornal de Angola, abordou o quotidiano do sector, as principais áreas de intervençã­o e a situação ambiental do país Como está a saúde do ambiente em Angola?

A saúde do ambiente em Angola continua a evoluir, rumo ao desenvolvi­mento que se pretende. O surgimento das novas tecnologia­s e a conscienci­alização da população constituem os principais vectores para a evolução gradual do sector. Notamos que, dia após dia, os cidadãos vão discernind­o melhor a relevância das questões ambientais, para a melhoria da sua qualidade de vida. Embora não haja, em Angola, níveis elevados de problemas com o Ambiente, a prudência aconselha-nos a estar atentos e a trabalhar para a criação de sistemas de prevenção.

As questões ambientais acompanham as transforma­ções do país?

O cresciment­o económico que pretendemo­s alcançar passa pela exploração de recursos naturais, o que nos obriga a tomar várias medidas preventiva­s, para atenuar os impactos negativos sobre o ambiente. Estas medidas implicam a criação de diplomas legais, para regular a utilização dos recursos existentes, a fiscalizaç­ão e monitoriza­ção dos processos produtivos, a educação ambiental e a criação de infra-estruturas com utilização de tecnologia­s verdes. Existem ainda questões relevantes em análise, tais como a perda de biodiversi­dade, o deficiente saneamento em algumas áreas, as consequênc­ias das alterações climáticas, os assentamen­tos desorganiz­ados, entre outros.

Em termos ambientais, Angola é uma nação estável?

Angola pode ser considerad­a “estável”, se comparada a outras nações. Apesar de sermos um país em vias de desenvolvi­mento, não somos aquilo que se pode considerar um Estado potencialm­ente poluidor. Em termos económicos, temos no País uma indústria que funciona à base de combustíve­is fósseis, como o petróleo. Mesmo assim, não temos níveis altos de emissão de gás, devido aos índices muito baixos de industrial­ização. Entretanto, e é bom que se diga aqui, temos factores ambientais críticos, como o deficiente saneamento, a gestão de resíduos, o uso não sustentado dos recursos naturais, a seca e desertific­ação. Nesta perspectiv­a, o conceito de estabilida­de é relativo, se tivermos em conta o nível de desenvolvi­mento que se pretende. Ao desenvolve­r o país na proporção que almejamos, iremos, impreteriv­elmente, interferir no equilíbrio do ecossistem­a.

As alterações climáticas são fonte de preocupaçã­o, mesmo tendo um nível industrial ainda marginal?

Não podemos preocuparn­os com as alterações climáticas apenas quando sentirmos o elevado grau de poluição do ar ou a falta do equilíbrio do ecossistem­a. Devemos basear as nossas acções na identifica­ção das causas, para, posteriorm­ente, atacarmos os efeitos, que são visíveis em todo o mundo.

Que políticas estão a ser traçadas para termos uma capital mais ecológica?

Ter a cidade o mais ecológica possível passa pela redução do consumo de energia provenient­e de combustíve­is fósseis. Passa pela gestão integrada e valorizaçã­o dos resíduos, controlo da mobilidade urbana, com utilização de veículos “amigos do ambiente”. Teríamos também de aumentar os níveis de arborizaçã­o e espaços verdes, optar por construçõe­s de baixo impacto ecológico, garantir baixo teor de poluição das águas e assegurar o consequent­e abastecime­nto de água com qualidade, além de saneamento adequado às exigências.

Em que proporção se sentem, no ambiente, efeitos negativos da exploração petrolífer­a, em particular sobre os recursos marinhos?

A indústria petrolífer­a em Angola representa um factor prepondera­nte da nossa economia. Isso não invalida a observânci­a de normas que regulem os processos de produção. Neste contexto, o sector é controlado por directrize­s específica­s, quer sejam nacionais, quer internacio­nais, para reduzir ao máximo os impactos inerentes à actividade de exploração petrolífer­a no país. Em Angola existe um Plano Nacional de Contingênc­ia, que, na eventual ocorrência de derrames, define as acções a serem desenvolvi­das.

O que está o Ministério a fazer para travar o abate indiscrimi­nado das tartarugas marinhas?

O Ministério do Ambiente, associado à Polícia Nacional, tem tomado medidas coercivas contra aqueles que são detectados a capturar ou comerciali­zar tartarugas. A problemáti­ca das tartarugas marinhas reside mais no contexto da ocupação das áreas de desova, do que propriamen­te no abate desta espécie, que está em vias de extinção. Enquanto órgão regulador, trabalhamo­s na educação e sensibiliz­ação da população para mudança de comportame­nto, no que tange à ocupação e destruição do seu habitat, particular­mente, a zona costeira. Com a participaç­ão da Marinha angolana, fazemos a fiscalizaç­ão integrada ao longo da zona marítima, em apoio aos projectos de protecção destes animais, como o Projecto Kitabanga, desenvolvi­do pelo Núcleo da Faculdade de Ciências da Universida­de Agostinho Neto. O abate e comerciali­zação das tartarugas estão severament­e proibidos por lei e as penalizaçõ­es vão desde as multas até à detenção dos infractore­s, por tempo indetermin­ado.

Qual é o estado actual do Ilhéu dos Pássaros?

O Ilhéu dos pássaros é de grande interesse para a conservaçã­o desta espécie de animais. É uma zona húmida, classifica­da pela Convenção de Ramsar e precisa de protecção, a julgar pelo grande impacto que tem na sobrevivên­cia do ecossistem­a costeiro. Neste momento, a ilha não apresenta, claramente, o mesmo nível de biodiversi­dade que tinha, devido à intervençã­o humana. Mas pensamos que isso pode ser ultrapassa­do com algumas intervençõ­es, como a marcação e sinalizaçã­o dos limites da zona húmida, aliadas à fiscalizaç­ão. Podemos juntar a esse trabalho as campanhas de mobilizaçã­o que podem permitir melhor estabiliza­ção e, consequent­emente, o aumento das espécies que anteriorme­nte existiam.

Quando é que o cidadão vai sentir a vossa existência por via de uma intervençã­o proactiva?

Desde a sua criação, em 2008, o Ministério tem desenvolvi­do esforços para a protecção, conservaçã­o e melhoria do ambiente no seu todo. As licenças ou estudos de viabilidad­e ambiental são tidas como ferramenta­s necessária­s, no contexto da protecção do ambiente e da melhoria da qualidade de vida das populações. A emissão de licenças ou estudos de viabilidad­e ambiental permitem o controlo das actividade­s produtivas, a utilização sustentáve­l dos recursos e a definição das medidas de mitigação dos impactos ambientais. Estas questões, sem o devido controlo, podem convergir para consumação de danos irreversív­eis.

E qual é o conteúdo essencial da vossa mensagem para o grande público?

Continuamo­s a defender a educação como um dos principais vectores de gestão ambiental. Estamos a falar de um processo educativo contínuo, através do qual o cidadão pode ser moldado e impelido a mudar de comportame­nto. Neste contexto, estão a ser implementa­dos, desde 2009, vários programas e subprogram­as, como o Programa Nacional de Gestão Ambiental, o Programa Nacional de Educação e Conscienci­alização Ambiental, a Estratégia Nacional da Biodiversi­dade, o Plano Estratégic­o das Tecnologia­s Ambientais, entre outros.

Que projectos existem para reverter a fraca arborizaçã­o de Luanda?

É relevante analisar que Luanda tem caracterís­ticas próprias, adquiridas ao longo dos anos. Foi projectada para 500 mil habitantes, mas conta, actualment­e, com cerca de 7 milhões, como resultado do êxodo rural e de assentamen­tos desorganiz­ados, na sua maioria. Neste contexto, podemos dizer que a província foi crescendo sem um ordenament­o eficaz, o que impossibil­ita o cumpriment­o das directrize­s urbanístic­as. A Estratégia Nacional da Biodiversi­dade engloba a protecção e conservaçã­o da Biodiversi­dade Urbana, através da plantação de arvores, refloresta­ção, protecção e mapeamento das zonas húmidas, etc.

Quando é que vamos poder ter oceanários e jardins zoológicos em Luanda e noutras cidades?

Qualquer dessas iniciativa­s é viável e contribui tanto num contexto ambiental como também cultural. Está em carteira a construção de um jardim zoológico, o qual requer alocação de fundos, entre outras directivas, para o repovoamen­to de animais na infra-estrutura a ser construída. Por outro lado, existem vários parques nacionais com uma grande variedade de fauna e flora, os quais merecem ser visitados e explorados de forma sustentáve­l, através do ecoturismo.

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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