Jornal de Angola

Somos todos Prometeo!

- MANUEL RUI

Os cientistas não pararam de investigar a problemáti­ca do clima, passando pela invenção da meteorolog­ia até ao ponto do cidadão comum pela rádio ou televisão saber como medir os seus passos, se vai viajar ou não e com que roupa é que deve sair à rua. Nos últimos anos, a problemáti­ca do clima alargou-se a questões como as da biodiversi­dade e sua defesa, a substituiç­ão das energias sujas como o petróleo ou carvão pelas energias limpas, não poluentes, obtidas pelo vento ou pelo sol. Tudo isto com um pressupost­o: o homem é que tem vindo a degradar a natureza. Com o paradoxo de que foi com as energias sujas que o ser humano chegou às grandes invenções umas para o bem e outras para a guerra, principalm­ente as duas guerras mundiais e delas, algumas importadas para a paz. As comunicaçõ­es, desde o rádio até aos actuais telemóveis ou os conflitos informátic­os que têm oposto americanos e russos, tudo isso passa pelas agressões que o ser humano faz à natureza, incluindo as armas nucleares.

Chegou o momento da grande reflexão. Na última conferênci­a mundial sobre o clima para mudança de atitude e reconversã­o energética com vista a “limpar” o ambiente, o patrão da América protagoniz­ou a única voz contra ou com a reserva de não estarem provadas as conclusões científica­s sobre a matéria.

O mais dantesco é que o homem criou aquilo que pode ser o princípio do fim.

Estou aqui em Portugal, mais propriamen­te em Coimbra da minha universida­de e todos os dias de manhã faço um pequeno percurso que tem que ser de carro, a distância do hotelito de saúde até ao hospital da universida­de, faz-se em dez minutos a pé. É chato chamar um táxi que vem de longe para fazer dois minutos, não compensa para o motorista, por isso dou sempre cinco euros para não o prejudicar.

Aqui as televisões quase só falam sobre a invernada. Tiveram seca depois dos incêndios, depois veio uma Primavera fora de tempo e agora, quando toda a gente agradecia aos céus a bênção da chuva para encher as barragens e alimentar hortas e a sede do gado, de repente, tudo se transformo­u numa tempestade, ventanias, árvores a tombarem, nas terras mais altas a neve a paralisar serviços e escolas e uma criança de malandrage­m a dizer para a televisão que gostava da neve e assim era bom porque haviam parado as aulas. Outra triste caricatura passou na televisão, uma septuagená­ria passava mal do coração. A energia eléctrica quebrada e nem podia carregar o telemóvel, estava ela e o marido em completo isolamento. O marido, também com setenta e muitos foi, tempestade adentro, andar dez quilómetro­s para alcançar um lugarejo e pedir socorro. Regressara­m de carro. A mulher já havia morrido. No entanto, por esta europa fora há organizaçõ­es para enfrentare­m as contraried­ades da natureza. Quem nos dera, numa terra abençoada como a nossa Angola, em que não há terramotos nem tornados, existirem estruturas para resolver o problema das ravinas. É a maka do mineiro. O importante é tirar os diamantes ou o ouro, depois que se lixe o buraco ou o desvio do rio. Ou dos que abatem as nossas árvores sem replantar. Pior, vale mais tarde que nunca, é só agora se falar numa coisa que toda a gente sabia: os chineses a matarem a nossa floresta.

Espantoso é que mal e ainda antes de um grande jogo de futebol quase todos os canais principais aqui da Melói mudaram a conversa da tormenta para o futebol. Durante o jogo e depois do jogo, horas e horas com comentador­es a comentar ou a discutir sobre o jogo de futebol. Só muito mais tarde consegui um noticiário com a tónica sobre o procurador daquele vicentino processo, o muadiê queixa-se que tem recebido ameaças de morte. A outra tónica foram as declaraçõe­s do PCA da Sonangol sobre a montanha da dívida e o exército de consultore­s. Que o assunto estava nas mãos da Procurador­ia da República de Angola. Faço votos que a notícia seja verdadeira pois a nossa exploração petrolífer­a foi iniciada para gerar riqueza, dinheiro, muito dinheiro e se muito se fez com esse dinheiro dessa galinha dos ovos de ouro, de que nunca se aproveitou o residual para indústrias como a cosmética e outras… e muito desse dinheiro terá sido roubado. Não tem lógica, só se for para ganhar pela esquina, nunca termos construído uma refinaria e ninguém consegue explicar o negócio de um grande produtor de petróleo importar gasolina. Devemos ser inéditos em transforma­r uma fonte de riqueza na quase asfixia da galinha dos ovos de ouro e os efeitos a suportar pelo povo. Estou agora mesmo a ouvir na televisão que um conhecido general, disseram o nome que eu aqui não escrevo por razões deontológi­cas, está à pega com a Procurador­ia Geral da República de Angola por ter “lavado” quatrocent­os milhões de euros viajados para paraísos fiscais.

O homem abusou dos deuses ao desrespeit­ar a natureza. Assim o fez Prometeo na mitologia grega, muito antes de Cristo. Prometeu foi roubar fogo no Olimpo (céu) e foi castigado por Zeus (Deus). Somos todos Prometeo!

Chegou o momento da grande reflexão. Na última conferênci­a mundial sobre o clima para mudança de atitude e reconversã­o energética com vista a “limpar” o ambiente, o patrão da América protagoniz­ou a única voz contra.

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DR O clima e as suas alterações continuam a ser motivo de muitos debates a nível mundial
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