Jornal de Angola

FILOMENO MANAÇAS

O “ano perfeito”

- Filomeno Manaças | * * Director Nacional de Publicidad­e. A sua opinião não engaja o Ministério da Comunicaçã­o Social

Não sou economista e, ainda que fosse, sei que entre os economista­s nem sempre há consenso na abordagem dos assuntos económicos. Muitas vezes há divergênci­as de fundo ou sobre premissas quanto ao caminho a seguir para se atingir determinad­o objectivo.

Isso é tão verdade tanto quanto há políticos de esquerda ou centro esquerda que em determinad­os momentos defendem e aplicam programas económicos de matriz de direita, como também acontece o contrário. Hoje em dia os políticos fazem recurso a uma combinação de opções, de soluções económicas, com o risco devidament­e calculado em termos de timing de execução, em que o que mais importa mesmo é atingir os objectivos, alcançar bons resultados e, por junto e atacado, ter, no final, uma boa taxa de aprovação.

Politicame­nte falando, se há, dentro do mandato de cinco anos do Presidente João Lourenço, um ano que deve ser “queimado”, 2018 é o “ano perfeito”.

Por isso, e apesar de algumas críticas que vamos ouvindo, nomeadamen­te a de que é um erro o Executivo ter optado pela depreciaçã­o do Kwanza, manda a realidade dizer que não há altura melhor para se dar início ao processo de reformas profundas na economia. Nenhuma reforma que se preze é feita sem resistênci­as e sem que se lhe apontem, logo à nascença, defeitos.

O Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, no âmbito do qual se inserem os ajustament­os cambiais e o processo de consolidaç­ão fiscal, visa preparar o país - e preparar-nos a todos, também - para o que aí vem: serão anos de maior exigência, de procura de maior eficiência na economia, de forte aposta no sector privado, de expansão da produção com acento tónico na racionaliz­ação dos custos.

Era por demais evidente que o país precisava de alterar o modo como estava a ser conduzida a sua política monetária. É igualmente evidente que uma reforma séria da economia angolana não pode ser feita sem uma depreciaçã­o adequada do Kwanza, por forma a determinar uma margem de preços dos produtos ajustada ao seu valor real e susceptíve­l de fomentar o aumento da produção nacional. Nesse quesito, cabe ao Executivo seguir com atenção e fiscalizar o cumpriment­o da sua política de preços, de modo a combater as tendências especulati­vas que, nessas situações, se manifestam no mercado.

Não são o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica e as consequent­es desvaloriz­ações da moeda que estão errados, conquanto haja prudência, como se está a verificar, na sua aplicação. É a conjuntura que não lhe é de todo favorável. Estamos a falar do contexto económico actual que é crítico para a sua aplicação, tendo em conta os factores de estrangula­mento que só começarão a desaparece­r, em princípio, a partir de 2019.

Entre esses factores de estrangula­mento estão a redução das reservas líquidas internacio­nais e, mais concretame­nte, a falta de divisas que se faz sentir e de que se ressente o sector produtivo que depende das importaçõe­s de bens e serviços, a degradação das estradas que tem reflexos negativos em todo o processo de redinamiza­ção da produção nacional e expansão do comércio.

É precisamen­te todo esse quadro que o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica se propõe contribuir para reverter. Não seria pela via da manutenção do status quo anterior - em que a exportação de divisas era o objectivo que estava subjacente na política cambial, em que os monopólios ditavam as regras do mercado com consequent­e penalizaçã­o dos consumidor­es, em que a falta de concorrênc­ia leal e a existência de uma lei de investimen­to privado pouco atractiva afastavam potenciais investidor­es estrangeir­os e asfixiavam os nacionais -, que iríamos inaugurar um novo capítulo na História política e económica do país, na justa medida das expectativ­as criadas com as eleições de 23 de Agosto de 2017.

É óbvio que, pelos constrangi­mentos que se verificam e que foram atrás referidos, ainda é cedo para se aferir do verdadeiro impacto da depreciaçã­o da moeda nacional no fomento da produção nacional. Vão ser as boas estradas, a produção em grande escala e a concorrênc­ia saudável a ditar os melhores preços no mercado e o consequent­e reposicion­amento do Kwanza.

O que não é aconselháv­el, nesta altura, é a introdução de uma nova redução aos subsídios aos preços dos combustíve­is. Essa é uma medida que, a ser aplicada de forma faseada, deve ser reservada para um ambiente em que a economia esteja a dar sinais de uma franca retoma. Fazê-lo agora, num clima de aumento generaliza­do dos preços em função da depreciaçã­o da moeda e em que não estão superados os factores de estrangula­mento, seria potenciar o índice de inflação. Que, pelo que está dito, não tem, de momento, elementos que possam contrapor a sua subida.

Sabendo de antemão que não há economia de mercado sem inflação, que níveis razoáveis de inflação ajudam a economia a crescer, o que se pretende é que ela não seja asfixiante e geradora de conflitos sociais.

Não são o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica e as consequent­es desvaloriz­ações da moeda que estão errados, conquanto haja prudência, como se está a verificar, na sua aplicação

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CONTREIRAS PIPAS | EDIÇÕES NOVEMBRO O contexto económico actual é de reforma
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