Chegada tardia leva à morte de 40 em cada 100 doentes
Muitos pacientes transferidos para o hospital especializado no tratamento da tuberculose são provenientes de unidades de atendimento primário de saúde que se negam às vezes a cuidar destes doentes diagnosticados com a enfermidade
Pelo menos 40 em cada 100 doentes infectados com tuberculose e outras infecções de fórum pulmonar assistidos no Hospital Sanatório de Luanda morrem antes que os técnicos façam grandes intervenções, por causas relacionadas com a sua chegada tardia, revelou ontem o director-geral da unidade clínica.
Rodrigues Leonardo avançou que os casos de chegada tardia ao Sanatório têm concorrido para que a taxa de mortalidade naquela unidade clínica, que ronda os 37,6 por cento, seja das mais altas em estabelecimentos de saúde do país.
O médico cirurgião explicou que uma das causas dessa situação tem a ver com o facto de as unidades primárias de cuidados de saúde de Luanda transferirem para o Sanatório todos os doentes de que suspeitam alguma infecção por tuberculose, quando esses podiam ser tratados nos hospitais de suas zonas de residências.
Pedimos que a nível central se baixe orientações precisas para que a rede primária assuma igualmente a sua responsabilidade, porque estamos com graves problemas
Rodrigues Leonardo considera esta uma das maiores dificuldades, por estar a criar uma pressão acima da capacidade do Sanatório, que tem espaço montado para 250 camas, mas tem internado, neste momento, 276 doentes, além dos mais de 300 assistidos nas consultas externas diariamente.
O director-geral alerta que o Hospital Sanatório é para tratar tuberculose em doentes com complicações, casos resistentes às multidrogas para tratamento da doença ou os pacientes com co-infecção TB e VIH.
Em função do quadro acima avançado, muitos pacientes residentes em zonas distantes do Hospital Sanatório, quando se encontram indisponíveis financeira ou fisicamente acabam por não comparecer às consultas de seguimento e deixam de tomar os medicamentos. “Com isso, eles abandonam, agravam e voltam aqui em estado gravíssimo, o que faz com que alguns não resistam e morrem”, lamenta.
Para inverter esse cenário, Rodrigues Leonardo apelou para as unidades da periferia ou de cuidados primário fazerem o seu papel, numa altura em que os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde, embora existam em grande quantidade, podem escassear rápido, dada a procura no Sanatório.
“Pedimos que a nível central se baixem orientações precisas para que a rede primária assuma a sua responsabilidade, porque estamos com graves problemas, criados pelo facto de nenhum hospital municipal ter uma consulta para os cuidados de tuberculose”, refere.
O médico disse que o doente de tuberculose deve merecer de uma normativa, que se chama DOT, ou seja, observação directa do tratamento, o que só se consegue com a intervenção dos mais eficaz dos agentes comunitários e dos técnicos de saúde. Essa estratégia ajuda a diminuir o abandono à toma de medicamentos.Outro problema que o Sanatório enfrenta tem a ver com à escassez de técnicos, daí a unidade ter sido obrigado a treinar os poucos enfermeiros licenciados, para ocuparem consultórios, porque os 22 médicos não suportam à procura, numa altura em que se precisa de mais 20 médicos. O director-geral disse que a unidade clínica especializada está à espera que se criem condições para a realização de um concurso público para a admissão de mais de 100 técnicos superiores, entre médicos internos e especialistas.
Quanto aos especialistas, o doutor Leonardo avançou que o hospital só tem um pneumologista angolano e dois cubanos. Estes são auxiliados por quatro médicos internos, uma pediatra e 113 enfermeiros, entre licenciados e técnicos médios e básicos. Em relação aos últimos, o Sanatório precisa de mais 123 profissionais.
Sobre casos de técnicos infectados, confirmou os riscos de apanhar a doença e recorreu a um estudo feito, há uns anos, para afirmar que 30 por cento dos trabalhadores do Sanatório tem uma tuberculose latente. “Nós somos como os soldados. Se aceitamos essa guerra, vamos enfrentá-la. Caso morramos, por infecção, será por uma causa justa”, disse.