Vamos salvar Luanda!
Os nossos dirigentes deviam andar um bocado a pé. Para verem duas coisas muito simples. A primeira: como vive o nosso povo. A segunda: como está a cidade de Luanda. Em plena Baixa da cidade capital, ali mesmo junto àquela imponente construção do Muxima Plaza, logo depois da Mutamba, mesmo no cruzamento que sai do beco, há um espaço abandonado do prédio da cidade-velha, património histórico, que cheira a fossa. Virou latrina pública. É um cheirete que vem de lá dentro!
Mas, para sentir este cheiro só o jornalista desfatado e desengravatado que por ali passa, saído das Edições Novembro para cobrir um evento no espaço Chá de Caxinde, só ele, e só os passageiros que, aos magotes, apanham o táxi no beco, ou as zungueiras que por ali deambulam, só esses é que lhe sentem o pivete.
Quase no outro extremo, já a descer para a Baía, curiosamente próximo das Torres Kianda em gestação, está outro espaço que já foi da Nossa Seguros, na esquina do cruzamento da rua que sai da Mutamba para a rua que vai ter à primeira esquadra da Polícia, que é outro antro de matuji-tuji, duas vezes podridão humana em decomposição. E o cheirete que dali vem é de doer a consciência de quem, nas calmas, vai por aquela rua a ganhar o pão nosso de cada dia.
Se Deus fosse psiquiatra, decerto desceria à Terra, como nos tempos de Moisés, para ministrar aos dirigentes que nos governaram estes 42 anos uma consulta grátis de psiquiatria, porque, na verdade, não se compreende como é que se cria uma Comissão Administrativa da cidade de Luanda e, no final, as coisas ficam pior em Luanda. Para que serviu e para que serve a Comissão Administrativa de Luanda? Luanda está cada vez pior. Nunca se viu uma cidade assim em toda a África. Pelo menos nos países que já visitei. É muita porcaria a fermentar na Baixa. A falta de saneamento básico é o maior dilema da Angola pós independente. É o sinal do nosso maior atraso social, económico e espiritual.
O jornalista que anda com os pés na terra vê estas coisas e sente aquela dor na consciência. É como se o jornalista fosse também, devido a ser parte da Nação em declínio e por associação psíquica, o culpado da miséria que vê. Mas depois olha para as duas mãos, e vê que lhe falta tudo para ajudar a fazer de Luanda a menina dos olhos de Angola. Uma cidade limpa, uma cidade linda, uma cidade educada, culta, e com bons centros de saúde. Falta tudo ao jornalista, até o simples diálogo que ele quer manter com os dirigentes lhe é negado. Todo o mundo se esquiva, todo o mundo estigmatiza o jornalista e o acusa a ele (jornalista) de ser o causador até da problemática política que se vive no país.
Mas mesmo assim, daqui da minha humilde banca, lanço um apelo a todos os cidadãos, ricos, pobres, empresários, doutores, engraxadores, zungueiras, polícias e ladrões, nacionais e estrangeiros: VAMOS SALVAR LUANDA!
Há dias, a senhora ministra do Ambiente alvitrou que Luanda precisa de espaços verdes. Então vamos lá desanuviar as espaços que já existiam e que foram privatizados na era do cabritismo à solta pelos gabinetes da nossa Administração, vamos desanuviar as escolas cujos espaços de lazer foram alugados a empresários de vária índole, vamos restaurar a Zona Verde, a encosta do Miramar, e vamos criar nos bairros periféricos novos espaços verdes e azuis. Criemos primeiro. Falemos depois. Essa coisa de anunciar projectos do Governo já não colhe. Façam primeiro, falem depois de fazer. Vamos limpar o cocó e o xixi que abundam na Baixa de Luanda.
Os nossos dirigentes deviam andar um bocado a pé. Mas vemo-los passar nas ruas de Luanda a alta velocidade, com um batedor à frente. Terão assim tanto trabalho para fazer, como têm tanta pressa? Como assim tanto trabalho, se o país está parado?
Criemos primeiro. Falemos depois. Essa coisa de anunciar projectos do Governo já não colhe. Façam primeiro, falem depois de fazer. Vamos limpar o cocó e o xixi que abundam na Baixa de Luanda