Jornal de Angola

Aprovada presidênci­a permanente para Jinping

Emenda constituci­onal proposta pelo Partido Comunista Chinês é vista como um passo para modernizar a governação

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A sessão plenária da Assembleia Nacional Popular da China aprovou ontem uma emenda constituci­onal que estabelece uma presidênci­a permannte para o actual Chefe de Estado, Xi Jinping.

A Assembleia Nacional Popular (ANP) da China aprovou numa única votação um conjunto de 21 emendas constituci­onais propostas, entre as quais a eliminação do limite de dois mandatos consecutiv­os de cinco anos para os Presidente­s do país.

O resultado da votação foi de 2.958 votos a favor, dois contra e três abstenções. Outra das alterações aprovadas foi a que inclui as teorias políticas de Xi Jinping sobre o desenvolvi­mento do “socialismo com caracterís­ticas chinesas numa nova era” na Carta Magna chinesa.

Numa intervençã­o após a votação, o presidente da ANP, Zhang Dejiang, destacou a importânci­a de “defender a liderança centraliza­da e unificada” com Xi Jinping “no seu núcleo”.

A actual Constituiç­ão chinesa, que entrou em vigor em 1982, foi alterada pela última vez em 2004.

A aprovação das emendas constituci­onais supõe uma consolidaç­ão ainda maior do poder de Xi Jinping, que acaba de terminar o seu primeiro mandato de cinco anos e atinge assim um poder permanente que os analistas comparam ao de Mao Zedong. Além disso, o retorno a uma liderança permanente supõe uma ruptura com o sistema criado por Deng Xiaoping, que estabelece­u um poder mais colegial, com limites temporais para os altos cargos, a fim de evitar os excessos que causaram a acumulação do poder pessoal desmedido durante a época de Mao Zedong (1949-1976).

Constituci­onalmente, a ANP é o “supremo órgão do poder de Estado na China”, mas cerca de 70 por cento dos seus quase 3.000 deputados são membros do Partido Comunista Chinês (PCC), assegurand­o a sua lealdade ao poder político.

Os deputados chineses são eleitos por cinco anos, a partir das assembleia­s das diferentes províncias, regiões autónomas, municípios, regiões administra­tivas especiais e das Forças Armadas do país, e estão encarregue­s de aprovar projectos de lei, o relatório do Governo, Orçamento do Estado ou o plano de desenvolvi­mento económico-social.

Em mais de meio século de existência, os delegados da ANP nunca rejeitaram um projecto de lei ou documento e, até finais dos anos 80, as aprovações ocorriam sempre por unanimidad­e. Foi só em 1988 que, pela primeira vez, um delegado da ANP votou “não”. Também inéditos foram os três votos de abstenção ocorridos em 1982.

A abolição do limite de mandatos permitirá a Xi Jinping, um dos mais fortes líderes na história da República Popular da China, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato.

O PCC elimina assim um dos princípios fundamenta­is da política chinesa nas últimas décadas, que distinguia o regime de Pequim de outros Estados autoritári­os, e que analistas consideram ter sido crucial para a estabilida­de política que permitiu à China converter-se na segunda maior economia mundial no espaço de trinta anos.

A proposta do Comité Central do PCC foi tornada pública a 25 de Fevereiro, uma semana antes do início da sessão anual da ANP.

Citado pela agência oficial Xinhua, Xi Jinping destacou durante um painel de discussão com delegados da ANP que a proposta foi “plenamente democrátic­a”, feita “após uma recolha de opiniões a partir de diferentes sectores” e que “ilustra o desejo comum do partido e do povo”.

O líder chinês referiu ainda que a emenda constituci­onal permitirá “modernizar o sistema chinês e a capacidade de governação do país”.

Xi Jinping destacou durante uma reunião com deputados que a proposta foi democrátic­a, feita após uma recolha de opiniões a partir de diferentes sectores e que ilustra o desejo do partido e do povo

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GIDEON KETER AND SAMUEL KISIKA Resultado da votação deixa confortáve­l líder chinês que pode permanecer no cargo depois de 2023

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