Mau material reduz qualidade
Engenheiro do sector defende uma aposta em recursos locais para se criar uma oferta de baixo custo, a qual tenha em conta as classes mais desfavorecidas da sociedade angolana no processo de edificação de projectos habitacionais
A má qualidade das obras de construção civil executadas no país, particularmente de habitação deve-se, em parte, à utilização de materiais de construção não apropriados, defendeu, quarta-feira, em Luanda, o engenheiro civil Jorge Rufino.
O engenheiro, que participou na discussão do tema “A indústria dos materiais de construção e a sua relação com os custos e qualidade dos imóveis”, na conferência sobre o futuro da habitação social, promovido pela Imogestin e o jornal “Expansão”, disse ser vasta a quantidade de materiais de construção disponível no mercado, mas ser necessária uma oferta de maior qualidade.
A título de exemplo, salientou Jorge Rufino, no mercado nacional estão disponíveis dois tipos de cimento, nomeadamente, o Portland e Fíler, sendo o primeiro o mais apropriado ao clima do país, por ser um tipo de cimento que suporta a variação de temperatura, evitando o surgimento de fissuras nas paredes.
Jorge Rufino, que é autor de um livro sobre materiais de construção, chamou a atenção das empresas imobiliárias, incluindo a Imogestin, para que respeitem as normas para o uso de determinados materiais de construção, bem como a ter em conta o custo das obras.
O engenheiro civil defende que na construção da habitação social, sejam tidas em conta as camadas mais desfavorecidas da sociedade, cujo o nível de rendimento são os mais reduzidos possíveis. Para estas pessoas, propôs, a solução seria utilizar material de construção produzido no país, de baixo custo, e que facilite um novo tipo de construção habitacional.
“A verdade é que este tipo de construção nem sempre dá lucros aos promotores imobiliários, sendo apenas uma solução de cidadania”, afirmou, defendendo a utilização de materiais alternativos de origem local.
“Angola tem muita matéria-prima que as indústrias poderiam aproveitar para produzir novos tipos de materiais de construção, sem o uso de muita energia”, acrescentou.
Pedro Meireles, membro da Associação dos Industriais de Materiais de Construção de Angola (AIMCA), garantiu que a indústria angolana de materiais de construção tem capacidade para responder à procura para construção de habitação social.
Actualmente, esclareceu, existem no país diversos fornecedores de matéria-prima que permitem às indústrias produzirem e dar respostas ao solicitado no mercado, em produtos que ainda necessitam de melhoramentos tecnológicos.
O presidente da AIMCA, José Mangueira garantiu que o país tem capacidade suficiente para produzir cimento e varão de aço, embora sectores importantes como a indústria das cerâmicas e a de tubagem precisam de ser mais desenvolvidos.
O mercado também tem que desenvolver as indústrias de outros materiais de construção, como as chapas, placas, para a canalização e electricidade, apontou o engenheiro José Mangueira.
Com cerca de 200 empresas do sector existentes no país, José Mangueira mostrou-se esperançado em que seja possível a construção de habitação social com cem por cento do material nacional, reduzindo significativamente a importação e desenvolvendo progressivamente a qualidade.
Relativamente ao abastecimento irregular de energia e água para as indústrias, José Mangueira salientou que algumas foram implantadas de forma desorganizada e desordenada, tornando-se hoje, dado o próprio ordenamento do território, difícil fornecer energia e água a estas unidades.
Para evitar situações do género, continuou José Mangueira, o Ministério da Indústria está a criar os pólos de
A verdade é que este tipo de construção nem sempre dá lucros aos promotores imobiliários, sendo apenas uma solução de cidadania
desenvolvimento industrial, zonas que permitem um fornecimento de energia e água regular e a preços compatíveis com custos eficientes.
Quanto às indústrias em funcionamento fora dos pólos de desenvolvimento, há obrigação do Ministério da Indústria encontrar soluções na medida em que se vai melhorando o fornecimento de energia eléctrica e de água, o que, a acontecer, pode trazer vantagens competitivas, reduzindo os custos.