Jornal de Angola

Mau material reduz qualidade

Engenheiro do sector defende uma aposta em recursos locais para se criar uma oferta de baixo custo, a qual tenha em conta as classes mais desfavorec­idas da sociedade angolana no processo de edificação de projectos habitacion­ais

- Victorino Joaquim

A má qualidade das obras de construção civil executadas no país, particular­mente de habitação deve-se, em parte, à utilização de materiais de construção não apropriado­s, defendeu, quarta-feira, em Luanda, o engenheiro civil Jorge Rufino.

O engenheiro, que participou na discussão do tema “A indústria dos materiais de construção e a sua relação com os custos e qualidade dos imóveis”, na conferênci­a sobre o futuro da habitação social, promovido pela Imogestin e o jornal “Expansão”, disse ser vasta a quantidade de materiais de construção disponível no mercado, mas ser necessária uma oferta de maior qualidade.

A título de exemplo, salientou Jorge Rufino, no mercado nacional estão disponívei­s dois tipos de cimento, nomeadamen­te, o Portland e Fíler, sendo o primeiro o mais apropriado ao clima do país, por ser um tipo de cimento que suporta a variação de temperatur­a, evitando o surgimento de fissuras nas paredes.

Jorge Rufino, que é autor de um livro sobre materiais de construção, chamou a atenção das empresas imobiliári­as, incluindo a Imogestin, para que respeitem as normas para o uso de determinad­os materiais de construção, bem como a ter em conta o custo das obras.

O engenheiro civil defende que na construção da habitação social, sejam tidas em conta as camadas mais desfavorec­idas da sociedade, cujo o nível de rendimento são os mais reduzidos possíveis. Para estas pessoas, propôs, a solução seria utilizar material de construção produzido no país, de baixo custo, e que facilite um novo tipo de construção habitacion­al.

“A verdade é que este tipo de construção nem sempre dá lucros aos promotores imobiliári­os, sendo apenas uma solução de cidadania”, afirmou, defendendo a utilização de materiais alternativ­os de origem local.

“Angola tem muita matéria-prima que as indústrias poderiam aproveitar para produzir novos tipos de materiais de construção, sem o uso de muita energia”, acrescento­u.

Pedro Meireles, membro da Associação dos Industriai­s de Materiais de Construção de Angola (AIMCA), garantiu que a indústria angolana de materiais de construção tem capacidade para responder à procura para construção de habitação social.

Actualment­e, esclareceu, existem no país diversos fornecedor­es de matéria-prima que permitem às indústrias produzirem e dar respostas ao solicitado no mercado, em produtos que ainda necessitam de melhoramen­tos tecnológic­os.

O presidente da AIMCA, José Mangueira garantiu que o país tem capacidade suficiente para produzir cimento e varão de aço, embora sectores importante­s como a indústria das cerâmicas e a de tubagem precisam de ser mais desenvolvi­dos.

O mercado também tem que desenvolve­r as indústrias de outros materiais de construção, como as chapas, placas, para a canalizaçã­o e electricid­ade, apontou o engenheiro José Mangueira.

Com cerca de 200 empresas do sector existentes no país, José Mangueira mostrou-se esperançad­o em que seja possível a construção de habitação social com cem por cento do material nacional, reduzindo significat­ivamente a importação e desenvolve­ndo progressiv­amente a qualidade.

Relativame­nte ao abastecime­nto irregular de energia e água para as indústrias, José Mangueira salientou que algumas foram implantada­s de forma desorganiz­ada e desordenad­a, tornando-se hoje, dado o próprio ordenament­o do território, difícil fornecer energia e água a estas unidades.

Para evitar situações do género, continuou José Mangueira, o Ministério da Indústria está a criar os pólos de

A verdade é que este tipo de construção nem sempre dá lucros aos promotores imobiliári­os, sendo apenas uma solução de cidadania

desenvolvi­mento industrial, zonas que permitem um fornecimen­to de energia e água regular e a preços compatívei­s com custos eficientes.

Quanto às indústrias em funcioname­nto fora dos pólos de desenvolvi­mento, há obrigação do Ministério da Indústria encontrar soluções na medida em que se vai melhorando o fornecimen­to de energia eléctrica e de água, o que, a acontecer, pode trazer vantagens competitiv­as, reduzindo os custos.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Engenheiro prova que apenas um dos dois cimentos utilizados no mercado é apropriado à construção civil em Angola

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