Jornal de Angola

Moscas como companhia

- Luciano Rocha

A falta de higiene em Luanda não se limita - e já isso era demais - às ruas, escombros de casas desocupada­s, estende-se a espaços onde se come e bebe, tal como a supermerca­dos.

Em suma, o luandense para comer fora de casa tem muitas vezes de fingir que não vê ou insurgir-se contra a situação e correr o risco de voltar a ter surpresas. Se é que isso ainda lhe acontece.

A título de exemplo, conta dois casos que vivi no espaço de poucos minutos. Na vitrina do balcão de um “restaurant­e” duas moscas disputavam um salgado. Disse a quem me atendia o que vira. Limitou-se a afastar o nojento insecto com um gesto de mão e, candidamen­te, perguntou-me, solícito, o que queria beber. Olhei-o estupefact­o, vireilhe as costas, saí.

Poucos metros à frente, entrei num supermerca­do e a cena repetiu-se. Moscas pousavam e voavam por cima de tudo o que estava em exposição na vitrina do balcão. Também fiz o reparo. Uma vez mais, quem me atendia, tentou afastar os insectos com a mão e perguntou-me, com o ar mais natural deste mundo, o que desejava. Rodei sobre os calcanhare­s, desapareci.

Na rua havia zungueiras com bacias de fruta à cabeça. De olhos e ouvidos atentos. Que para elas há fiscais que cheguem e sobram. Ao contrário do que sucede com arremedos de restauraçã­o e supermerca­dos.

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