Moscas como companhia
A falta de higiene em Luanda não se limita - e já isso era demais - às ruas, escombros de casas desocupadas, estende-se a espaços onde se come e bebe, tal como a supermercados.
Em suma, o luandense para comer fora de casa tem muitas vezes de fingir que não vê ou insurgir-se contra a situação e correr o risco de voltar a ter surpresas. Se é que isso ainda lhe acontece.
A título de exemplo, conta dois casos que vivi no espaço de poucos minutos. Na vitrina do balcão de um “restaurante” duas moscas disputavam um salgado. Disse a quem me atendia o que vira. Limitou-se a afastar o nojento insecto com um gesto de mão e, candidamente, perguntou-me, solícito, o que queria beber. Olhei-o estupefacto, vireilhe as costas, saí.
Poucos metros à frente, entrei num supermercado e a cena repetiu-se. Moscas pousavam e voavam por cima de tudo o que estava em exposição na vitrina do balcão. Também fiz o reparo. Uma vez mais, quem me atendia, tentou afastar os insectos com a mão e perguntou-me, com o ar mais natural deste mundo, o que desejava. Rodei sobre os calcanhares, desapareci.
Na rua havia zungueiras com bacias de fruta à cabeça. De olhos e ouvidos atentos. Que para elas há fiscais que cheguem e sobram. Ao contrário do que sucede com arremedos de restauração e supermercados.