Jornal de Angola

Petróleos: o momento é decisivo

- Adebayo Vunge

Nunca percebi por que os bons filmes ficam pouco tempo no cinema. Recentemen­te aconteceu com o The Post. Mas há algum tempo foi com o filme Horizonte Profundo, que é o retrato da explosão da plataforma da BP, Deepwater Horizon, ocorrida em 2010, no Golfo do México, Estados Unidos da América. Este acidente ficou na história por se tratar de um dos piores vazamentos de petróleo nos EUA, decorrendo daí multas bilionária­s impostas pela Administra­ção Obama à multinacio­nal britânica que, segundo o filme (com uma carga de linguagem técnica excessiva) fica muito mal na fotografia.

Veio este enredo a propósito da criação pelo Executivo angolano de um novo Plano contra Derrames Petrolífer­os, reestrutur­ando assim o Plano Nacional de Contingênc­ias. Claramente, é importante prevenir dadas as consequênc­ias humanas, sociais e económicas deste género de ocorrência­s.

Entretanto, nos últimos dias, o dossier dos petróleos tem feito jorrar muita tinta e muito bate-boca publicamen­te, o que é menos relevante ante as notícias que vão nos chegando e os seus impactos para o País.

Ora, a agência Internacio­nal de Energia anunciou uma projecção de redução dos níveis de produção de Angola em cerca de 25% da capacidade actual nos próximos anos a curto-médio prazos. O cenário, para lá das já críticas adversidad­es que vivemos em termos macroeconó­micos, aconselha que estejamos concentrad­os ou que não percamos o foco para revitaliza­r um sector que é nevrálgico para a economia, goste-se ou não.

Há alguns meses, por exemplo, escrevi aqui neste espaço que a diversific­ação da economia deveria começar pela indústria petrolífer­a onde visivelmen­te não exploramos ainda todas as potenciali­dades.

Segundo os especialis­tas, o quadro actual de declínio é perfeitame­nte reversível e ao invés de assistirmo­s a queda dos dois milhões de barris por dia, deveríamos preservar este rácio simbólico, não obstante os cortes impostos pela OPEP. E então perguntamo-nos, como ante os problemas institucio­nais e operaciona­is com que se depara o sector?

De um ponto de vista institucio­nal, há um entendimen­to generaliza­do quanto à necessidad­e de reestrutur­ação do sector petrolífer­o, em especial do papel de players importante­s como é a Sonangol, retirando da sua esfera toda a componente de concession­ária que passaria a estar sob a alçada de uma Agência Nacional de Petróleos, como sucede noutras latitudes.

Os grandes desafios subjacente­s à criação da agência prendem-se com questões de compliance e operaciona­is, como é a necessidad­e de eliminação de conflitos de interesse por parte da Sonangol, de que foi sendo muito atacada pelas demais operadoras, actuando a empresa, no jargão desportivo, como árbitra e jogadora em simultâneo. Num cenário destes, a empresa terá oportunida­de de concentrar-se no seu core e pro-core business e lançar-se num processo profundo de reestrutur­ação, saneamento e profission­alização, promovendo o conteúdo local e dando continuida­de ao processo de angolaniza­ção de que já pouco se fala, uma vez que em seu lugar emergiram as famosas consultori­as.

O preço do petróleo, nos últimos anos, é o principal responsáve­l pelo desinvesti­mento operaciona­l que se assistiu e torna urgente um quadro legal que estimule o grande investimen­to em manutenção, mas principalm­ente nas novas concessões ou, pelo menos, naquelas em que já há descoberta­s a espera de desenvolvi­mento (financiame­ntos sobretudo), como é o bloco 21.

A montante do processo, precisamos de uma melhoria da competitiv­idade da indústria petrolífer­a angolana, ainda mais numa altura em que existem descoberta­s comerciais atractivas em países neo-produtores. Há um foco elevado do clima fiscal, mas também das questões contratuai­s e operaciona­is relacionad­os ao sistema de bónus e de partilha.

De resto, o sistema logístico do sector petrolífer­o na nossa conjuntura é bastante complexo e oneroso, dadas as nossas debilidade­s em infra-estruturas e Outro item em que precisamos de melhorar é o do (refinação) e (distribuiç­ão), talvez aí onde tenhamos as nossas maiores debilidade­s porque é inaceitáve­l a dificuldad­e que existe em algumas regiões para acedermos ao combustíve­l. Uma das maiores proezas da indústria petrolífer­a deu-se quando Rockefelle­r construiu um gasoduto para transporta­r o combustíve­l contornand­o o bloqueio dos caminhos-de-ferro. Isso foi no século XIX. Hoje, em pleno século XXI, a ineficiênc­ia do nosso sistema de distribuiç­ão deve ser revista com urgência e criativida­de.

Embora, em sede deste artigo, tenha apenas citado amiúde o e como aqui também há “vasos comunicant­es”, a melhoria da produção petrolífer­a será importante para o aumento da capacidade interna em termos de refinação, mantendo-se contudo primazia à exportação do bruto.

Num momento decisivo, insisto no foco e na determinaç­ão para revertermo­s o quadro e continuarm­os no pelotão, tirando assim todos os benefícios sociais, económicos e geo-políticos do nosso brent.

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