Jornal de Angola

Reabilitaç­ão Física está sem dinheiro

O Centro Regional de Reabilitaç­ão Física, localizado na cidade do Luena, enfrenta sérias dificuldad­es por falta de verbas, para manter o funcioname­nto dos serviços aos clientes

- Samuel António/ Luena

Moxico é uma das províncias do País que mais sofreu os horrores da guerra, e por causa disso, deixou milhares de mutilados que precisam de algum programa de reabilitaç­ão, para atenuar o sofrimento dos cidadãos no seu dia-a-dia

O Centro de Reabilitaç­ão Física do Luena é o único a nível do País, que não beneficia do Orçamento Geral do Estado, situação que acarreta grandes constrangi­mentos para o seu pleno funcioname­nto.

A instituiçã­o foi fundada em 1996, por uma organizaçã­o Não Governamen­tal Norte Americana, VVAF, com objectivo de prestar assistênci­a física aos deficiente­s, sobretudo, às vítimas de minas.

Com a retirada do financiame­nto por parte dos doadores internacio­nais, em 2005, a Organizaçã­o foi obrigada a cessar o apoio, pelo que deixou a gestão do Centro sob a responsabi­lidade do Ministério da Saúde, através do Programa Nacional de Reabilitaç­ão Física, PNRF.

O director do Centro, Nilton Roque Amaral, disse que desde 2005 que o Centro passou para a tutela do Ministério da Saúde, devido à retirada dos expatriado­s e que nunca recebeu qualquer verba por parte do Ministério, para a compra de material e manutenção de equipament­o.

O Jornal de Angola soube, que já foram cumpridas as formalidad­es junto do Ministério da Saúde, mas até aqui, nem água vem, nem água vai, como se lamentou Nilton Roque Amaral, desgastado com as promessas que levam mais de uma década. Falta de material Por falta de material para a fabricação de próteses e de outros aparelhos ortopédico­s, o Centro limita-se a fazer pequenas reparações, que não envolvam a substituiç­ão de acessórios.

Moxico é uma das províncias do país que mais sofreu os horrores da guerra, e por causa disso, deixou milhares de mutilados que precisam de algum programa de reabilitaç­ão, para atenuar o sofrimento dos cidadãos no seu dia-a-dia. A guerra terminou há 16 anos, todavia, os efeitos continuam a marcar fortemente a condição de vida de muitos angolanos, como conta Alfredo Domingos, deficiente físico de um dos membros inferiores. “A vida tornouse difícil para mim, porque, não é fácil viver sem um dos membros do corpo”, referiu com uma certa tristeza.

Alfredo Domingos disse à reportagem do Jornal de

Angola, que depois de perder a perna em 1992 ficou cinco anos a andar de muletas, até que descobriu em 1996 o Centro de Reabilitaç­ão Física do Luena, onde recebeu a primeira prótese, e posteriorm­ente em 2004 substituiu por uma outra, que usou até ao ano passado. Prótese desajustad­a Com o uso e devido ao longo tempo, esta prótese ficou totalmente desajustad­a e sem alternativ­a de recuperaçã­o. E, devido a estes constrangi­mentos, infelizmen­te, o cidadão voltou às muletas que abandonou há 23 anos.

Alfredo Domingos disse, que andar de muleta exige força suficiente para suportar o peso do corpo, a partir dos membros superiores, pois, devido à idade que tem, não aguenta movimentar­se com as muletas para longas distâncias.

“Pedimos ao Governo Provincial para resolver o problema do Centro, porque a província do Moxico ou a Região Leste, em geral, tem muitos deficiente­s que precisam de reabilitaç­ão e a condição financeira de muitos deles, ficam sem possibilid­ades de se deslocarem para outras províncias, a fim de serem reabilitad­os”, precisou.

Apesar do Centro ter um convénio com o Centro de Reabilitaç­ão Física do Bié, onde são enviados alguns deficiente­s para a reabilitaç­ão, a iniciativa não é bem acolhida por alguns, porque muitos deles não dispõem de meios financeiro­s para suportarem os gastos de passagem e de alimentaçã­o durante o período de espera até à reabilitaç­ão.

Com rostos carregados de tristeza e de desespero, os deficiente­s físicos clamam ao Executivo a adopção de medidas, para pôr fim ao sofrimento de vários cidadãos que aguardam à reabilitaç­ão.

A falta de verba para o Centro de Reabilitaç­ão Física do Luena, na Região Leste, continua a ser excluída, em detrimento de outras regiões onde existem vários Centros em pleno funcioname­nto, como os casos da Huíla, Benguela, Huambo e Bié.

O sociólogo, Laurindo Patrício, afirmou que o Executivo no programa de governação estabelece­u mecanismos para combater as assimetria­s existentes, e acrescenta que a concentraç­ão de bens e serviços numa única região, provoca ressentime­ntos por parte da população de uma determinad­a zona que não dispõe dos mesmos serviços.

Laurindo Patrício realçou, que deve haver uma vontade política por parte do Executivo, no sentido de potenciar o Centro de meios necessário­s para cumprir cabalmente o objectivo por que foi criado.

“Se uma Organizaçã­o Não Governamen­tal estrangeir­a assegurou o funcioname­nto da instituiçã­o durante dez anos, é claro que o Ministério de tutela, neste caso a Saúde, deve assumir não só os salários dos trabalhado­res, como disponibil­izar verbas para os custos operaciona­is”, precisou.

O estabeleci­mento é de grande valia para a população, pois, além de assistir os deficiente­s que vão para a reabilitaç­ão, o Centro atende pacientes com problemas de entorses, traumatism­os e de outras sequelas provocadas por AVC.

A falta de verbas não é o único problema que o Centro enfrenta, as próprias instalaçõe­s onde funcionam são estruturas adaptadas, e não oferecem condições para um Centro de Reabilitaç­ão.

O Centro de Reabilitaç­ão do Luena existe há 23 anos, tem 50 funcionári­os, dos quais quatro técnicos ortopédico­s, oito fisioterap­eutas, entre estes, dois são técnicos médios e seis são de nível superior, e conta com 32 funcionári­os administra­tivos.

No ano passado foram feitas 135 reparações, de entre próteses e ortoses, foram atendidas durante as sessões de massagem 11.439 pacientes, entre adultos e crianças.

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DANIEL BENJAMIN | EDIÇÕES NOVEMBRO|MOXICO
 ?? DANIEL BENJAMIN | EDIÇÕES NOVEMBRO|MOXICO ?? O estabeleci­mento é uma grande valia para a população pois atende também outras patologias
DANIEL BENJAMIN | EDIÇÕES NOVEMBRO|MOXICO O estabeleci­mento é uma grande valia para a população pois atende também outras patologias

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