Jornal de Angola

Cantor Gilliard agradece a Angola

Gilliard é um cantor com inúmeras distinções, desde aos 8 anos, em que conquistou o prémio de Melhor Voz do Nordeste. Em visita ao país, afirmou que a sua carreia tem influência local

- Roque Silva

É um amigo de Angola, por vir cá quase todos os anos. O que sente quando pisa o solo angolano?

Eu venho a Angola desde 1996 e foi um encontro como aquele primeiro beijo. Esse país representa isso para mim porque foi um desafio muito grande quando eu vi esse país pela primeira vez, por ocasião do aniversári­o do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e na época acabava de enterrar a minha mãe, minha produtora por muitos anos. Fui Recebido por multidão no aeroporto, incansávei­s de cantar a minha música, até chorei, e até hoje me sinto em casa. Sempre que venho me sinto realizado, pois a grande riqueza da nossa vida é saber que a nossa mensagem é recebida de forma positiva pelas pessoas.

Há algo que renova em si, sempre que cá vem?

Sim, porque Angola foi muito importante para a minha carreira. Digo-lhe agora, em primeira mão, que naquela época esse país me deu inspiraçõe­s fantástica­s para a elaboração de projectos acústicos. Elaborei o disco “Sentimento­s”, com bastante viola, violão e percussão, que me levou a ganhar o Prémio Sharp da Música Popular Brasileira, um dos mais importante­s da minha carreira com 38 anos. Muitos clássicos e êxitos meus foram produzidos com ideias colhidas através da minha interacção com o público e do movimento que vi em várias províncias. A minha carreira artística deve muito a Angola porque me abriu muitos horizontes, me deu ideias. Eu renasço sempre que recebo um convite para regressar.

Fica por aí ou as suas mais recentes visitas podem influencia­r na gravação outros projectos artísticos?

Eu e a minha equipa estamos a elaborar um projecto há alguns anos no qual inclui a gravação de um DVD em Angola. É uma ideia do meu produtor e irmão, o Gene Marinho, que pretende convidar algumas vozes de referência do cenário actual da música angolana. Quero fazer com muito gosto, porque partilhar o palco com artistas desse país que só me deu alegria será mais um sonho realizado. Vai valer mais pelo intercâmbi­o de povos que a história nos une há séculos.

O que mais o influencio­u a produzir, além do movimento constatado em Angola?

Alguns ritmos da música angolana influencia­ram, com certeza. Eu comecei a receber correspond­ências e pedidos para me apresentar em Angola ainda no início da carreira. A minha agenda nunca facilitou, mas sempre me interessei em cá vir procurar intercâmbi­o e beber novas culturas musicais. Me apaixonei pela música angolana desde a primeira vez que ouvi. Tive a sensação de a conhecer há muito tempo, quando ouvi canções das décadas de 60 e 70 e a minha admiração agudizou-se quando vi em palco e conheci pessoalmen­te artistas como Bonga e Paulo Flores. Quais os géneros da música

angolana que mais aprecia?

Não tenho um género específico de eleição. Todos os ritmos que envolvem percussão e guitarra são contagiant­es, porque nos dá a sensação de estarmos presentes de um ritual. Aliás, o que me fascina é a riqueza da música africana, pela sua melodia e mensagens.

Que outros projectos tem em carteira?

Estou a gravar o meu primeiro DVD, em 38 anos de carreira, no qual pretendo contar a minha história. Nele vou relatar os momentos que me inspiraram a escrever cada um dos meus êxitos. Vou falar de pessoas, momentos e lugares e Angola está indissocia­velmente ligado a esse novo projecto porque faz parte da minha história. Só para ter uma ideia a canção “Segredos” surgiu de forma espontânea e sem guitarra. Foi escrita num momento de aflição, em que estava com 40 graus de febre e rouco. A minha composição do meu primeiro sucesso, a canção “Aquela Núvem”, surgiu numa altura em senti que Deus me abraçou. Viajava do município de Niterói para o Rio de Janeiro, debaixo de uma forte tempestade, quando ele me mostrou o céu e o mar e surgiu a inspiração.

Que composição lhe dá mais gozo de interpreta­r?

Todas, pois cada uma das minhas canções tem uma história. Desde o tema “Aquela Núvem”, na qual relato como faço as minhas músicas. Canto tudo o que vivo e sinto, por isso as minhas composiçõe­s são repletas de amor, pois vivo ele de forma intensa. Eu comecei a compor com oito anos, depois de vencer um prémio. A partir daí comecei a acreditar na minha carreira. Guardava as letras a sete chaves, até a primeira oportunida­de para gravar e foi um sucesso.

Sempre foi muito dedicado?

Deus me concedeu dádivas. Vim de uma família pobre e um dos presentes é a capacidade de compor canções. Muitas delas foram criadas em situações difíceis. Quase me transforme­i num robot. As músicas eram escritas num ápice, eram muitas ideias. Sempre fui muito dedicado. Estava muito motivado e passei a gravar um disco por ano.

O que acha da música feita actualment­e?

A concorrênc­ia era maior, difícil e mais saudável. Sou de uma escola em que os artistas gostavam de cantar e eram acompanhad­os por orquestras. Eram autênticas demonstraç­ões de talento puro. Eu me deliciava, inclusive ganhei alguns concursos ainda muito novo, o que me levou a acreditar na minha carreira. Não havia pára-quedistas. Não havia programas para alterar a voz desse ou daquele cantor sob pena de ser julgado negativame­nte pela crítica e o público. A realidade era outra. Mas é a evolução das coisas.

Alguém na sua família segue as suas pegadas?

O meu filho Sílvio Marinho está a seguir carreira musical. Tem uma canção nova, um pop latino, lançada recentemen­te no Brasil. Quer lançar um CD a solo, apesar de ter uma banda.

“Quase me transforme­i num robot. As músicas eram escritas num ápice, eram muitas ideias. Sempre fui muito dedicado. Estava muito motivado e passei a gravar um disco por ano.”

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PAULO MULAZA/EDIÇÕES NOVEMBRO

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