Jornal de Angola

Agricultur­a no feminino e a eliminação da fome

- * O autor é responsáve­l pela revista angolana “Arena Agropec”

A primeira vez que escutei a canção “It´s a man´s world” (Mundo dos homens) do já falecido compositor e intérprete afro-americano James Brown, julguei tratar-se apenas de mais uma visão machista. Mas, ao chegar ao fim daquele deleite musical, apercebime que o músico defendia a corrente da complement­aridade entre os dois seres, que não foge a do Criador.

Uma das principais caracterís­ticas da mulher actual é a de “não acomodar-se à sombra do cônjuge”, ao assumir papéis de realce que lhes permite dar o salto outrora rejeitado para o tão almejado voo, contribuin­do, de forma significat­iva, para a edificação de muitos lares e, consequent­emente, da sociedade.

A título de exemplo, a Primeira-Dama da República de Angola, Ana Dias Lourenço, foi umas das poucas “exportaçõe­s” intelectua­is angolanas no feminino, dando credenciai­s junto de uma instituiçã­o tão renomada, no caso o Banco Mundial. Acredito que não irá acomodar-se agora nas vestes de Primeira-Dama e arrisco-me ainda em afirmar que reencarna o espírito da nossa destemida Rainha Njinga que, de forma incansável, procurou o bem-estar do seu povo.

Ambas são exemplo a seguir por todas as mulheres que buscam a excelência e meritocrac­ia em todas as áreas de actividade. Caso contrário, cairiam na rotina em que se encontram muitas mulheres angolanas, preocupada­s, de forma suprema, com o “produto” beleza e que tem sido, nos últimos tempos, alvo de grande promoção nacional e produto de exportação.

“O pano de fundo” desta minha reflexão neste espírito Marcelino assenta no grande contributo que resultaria no empoderame­nto feminino em vários sectores, neste caso em particular, na agricultur­a.

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para Agricultur­a, dar à mulher o mesmo acesso aos recursos para a produção igual à dos homens, pode melhorar os ganhos nas suas fazendas entre 20-30 por cento e retiraria 100-150 milhões de pessoas da fome.

As mulheres jogam um papel indispensá­vel na agricultur­a e o empoderame­nto feminino para os papéis decisórios causaria um impacto significat­ivo na segurança alimentar e na redução da pobreza mundialmen­te.

Com 40 por cento das terras aráveis na África subsaarian­a e Ásia, geridas pelos pequenos produtores, as mulheres compõem uma média de 43 por cento da força de trabalho agrícola. Muitos lares são dirigidos por mulheres que assumem todas as responsabi­lidades de cuidar da família. Mas, ainda assim, são lhes negados acesso aos recursos de produção, às novas tecnologia­s e os serviços básicos são, na maioria das vezes, limitados.

As mulheres precisam de recursos adequados e conhecimen­tos para alimentare­m e nutrir, de forma correcta, as suas famílias. Elas geram a vida e são responsáve­is pela maior parte da produção alimentar e bem-estar geral do agregado familiar. Mais do isso, fazem de nós seres úteis à sociedade e são a linha da frente de defesa contra a fome e a malnutriçã­o. Logo, necessitam de todo apoio que possam obter.

As mulheres envolvidas na actividade agrícola, que representa a maioria, se forem bem incentivad­as e apoiadas com as infra-estruturas mínimas e assegura-lhes as melhores condições de trabalho, podem ajudar grandement­e na eliminação da fome em Angola.

Daí que expresso o meu respeito sobrenatur­al à dimensão mãe da mulher, assim como às outras dimensões seguintes, acrescenta­ndo-lhe amor e carinho.

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