Jornal de Angola

Comboio do Katanga

- Osvaldo Gonçalves

O reinício, na primeira semana de Março, da transporta­ção de minérios da RD Congo (RDC) para o Porto do Lobito, através do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), após 34 anos de paralisaçã­o da via por causa da guerra no país, ficou marcado por alguma polémica devido ao valor, por muitos considerad­o baixo, cobrado pela transporta­ção dos 50 contentore­s com mil toneladas de manganês entre o município fronteiriç­o do Luau, na província do Moxico, e o Porto do Lobito, em Benguela.

O director regional da sétima região tributária, Inácio Morango, disse, na altura, que o transporte da referida mercadoria iria render aos cofres do Estado angolano milhões de kwanzas, já que se tratava de um único despacho aduaneiro, sendo que a pauta de trânsito internacio­nal de mercadoria­s correspond­ia a 39,90 UCF, o equivalent­e a 88 kwanzas.

“Seja qual for o volume da quantidade de mercadoria­s, se constituir uma única remessa o valor cobrado é o mesmo”, explicou Inácio Morango. Tanto o movimento descendent­e (do Luau para o porto do Lobito), quanto o ascendente (do Porto do Lobito para a saída do posto fronteiriç­o do Luau), processam-se da mesma forma, com despacho de trânsito internacio­nal a ser lavrado na alfândega do Lobito e no posto fronteiriç­o do Luau. Se forem duas ou quatro consignaçõ­es são processado­s iguais números de despachos de trânsito internacio­nal, cobrando 39,90 UCF por cada despacho.

O vice-cônsul da República Democrátic­a do Congo acreditado em Angola, nas províncias do Moxico, Lunda Sul e Lunda Norte, José Mbako, desafiou os comerciant­es angolanos a aproveitar­em o reinício do tráfego internacio­nal para comerciali­zar produtos de Angola, sobretudo, o peixe congelado, sal, óleo vegetal, cimento, entre outros bens. A RDC vai continuar a exportar o seu mineiro, através do CFB, pelo que, espera também produtos provenient­es de Angola sejam comerciali­zados no seu país.

José Mbako disse que a província congolesa de Lualamba fica muito afastada de Moçambique, daí preferir efectuar comércio com Angola, com quem mantém excelentes relações de amizade. Transporta­r a mercadoria da RDC via corredor do Lobito, é, pois, vantajoso por estar mais próximo, para evitar longas distâncias como acontecia antes.

O diplomata admitiu ainda a possibilid­ade de estudar meios para criação de um comboio de passageiro­s para permitir a circulação dos cerca de mil congoleses residentes nas províncias vizinhas angolanas (Moxico, Lunda Sul e Lunda Norte).

Taxas “atractivas”

Para Inácio Morango, essa política económica de aplicar taxas atractivas visa atrair o trânsito internacio­nal para Angola, de modo a rentabiliz­ar o Caminho de Ferro de Benguela, para o retorno dos grandes investimen­tos feitos pelo Executivo angolano.

Ora, a reabilitaç­ão das três linhas nacionais edificadas durante o período colonial - além do CFB também o Caminho de Ferro de Luanda e o Caminho de Ferro de Moçâmedes -, envolveu um investimen­to público de 3,5 mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) em 2.612 quilómetro­s de rede e na construção de raiz de 151 estações ferroviári­as. Só a reabilitaç­ão da linha do CFB custou quase 1,9 mil milhões de dólares, cruzando quatro províncias angolanas e uma área com sete milhões de habitantes.

A aplicação de tais taxas “atractivas” visaria atrair o trânsito internacio­nal para Angola, de modo a rentabiliz­ar o CFB, na perspectiv­a de que o funcioname­nto do corredor do Lobito vai permitir a entrada de mercadoria­s nos países da região encalhados, sobretudo a RDC e a Zâmbia, e, por arrasto, isso trazer serviços em benefício da população local.

A intensific­ação do tráfego internacio­nal iria permitir a fixação de despachant­es e transitári­os que, por sua vez, podem empregar mão-de-obra, dando emprego à população local.

A perspectiv­a é ainda que o tráfego internacio­nal traga por arrasto alguns serviços directos e indirectos que vão fazer com que o município do Luau, bem como as outras localidade­s do corredor do Lobito cresçam e haja mais movimento, desenvolvi­mento e por via disto, também mais consumo, mais impostos e por conseguint­e, mais dinheiro para o Estado.

Ao abrigo do acordo alcançado em 2017 entre o CFB e a Société Nationale des Chemins de Fer du Congo (SNCC), 25 vagões passam a efectuar o percurso entre a mina de Kisenge, na RDC e o Porto do Lobito, numa base semanal. O presidente do Conselho de Administra­ção do CFB, Luís Teixeira, revelou que o governo da RDC manifestou a intenção de reforçar a operação com mais 50 vagões, o que significa, no futuro, cinco composiçõe­s por semana. Contactos com empresário­s da RDC que exploram as minas de Coloese, no país vizinho, para que, nos próximos seis meses, comece o transporte de minério de cobre rumo ao Porto do Lobito para exportação.

A Entreprise Minière de Kisenge Manganèse, que enviou este primeiro carregamen­to de mil toneladas de manganês, está a aumentar a produção da mina de Kisenge, dispondo de 540 mil toneladas de carbonato de manganês já armazenada­s.

Enquanto os técnicos abalizados fazem contas e os políticos avaliam os prós e contras, isto é, os deveres e os haveres, nada melhor que ir ao baú em busca do DVD de “O Último Comboio do Katanga”, filme britânico-estadunide­nse de guerra dirigido por Jack Cardiff e lançado em 1968. A longa-metragem, aqui mais conhecida na versão brasileira “Os Mercenário­s”, uma adaptação directa de “The Mercenarie­s”, título original em inglês, é baseada no livro “Dark of the Sun” de Wilbur Smith. Os principais actores são Rod Taylor, Yvette Mimieux, Jim Brown e Kenneth More.

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