Jornal de Angola

Dirigentes chumbam proposta do líder

O presidente do partido, José Eduardo dos Santos, propôs a realização do congresso extraordin­ário em Dezembro deste ano ou em Abril de 2019 para decidir a transição na presidênci­a do MPLA, ideia rejeitada pelo Comité Central

- Adelina Inácio

O Comité Central do MPLA rejeitou ontem a ideia do líder, José Eduardo dos Santos, para a realização do congresso extraordin­ário em Dezembro ou Abril de 2019, tendo decidido reunir-se novamente no princípio de Maio para reflectir sobre o assunto e definir uma data.

O secretário para informação do MPLA , Norberto Garcia, informou que, antes disso, acontece, em Abril, uma reunião do Bureau Político. Contudo, nos bastidores comenta-se que a maioria dos membros do Comité Central prefere o mês de Junho, como a data ideal para a realização daquilo que chamam de “transição política a nível da presidênci­a do MPLA”, ou seja, para que se concretize a anunciada retirada da vida política activa do seu actual líder, José Eduardo dos Santos.

Esta decisão de retirada abre caminho para o carácter extraordin­ário de um congresso do MPLA, que em situação normal só deveria acontecer em 2021. A discussão, neste momento, prende-se na interpreta­ção estatutári­a quanto à capacidade electiva do congresso extraordin­ário: se apenas para substituiç­ão do líder ou se mais alargada a outros membros da actual direcção e àqueles que terão direito a participar no encontro.

Ao discursar na abertura da 5ª sessão ordinária do Comité Central, José Eduardo dos Santos propôs a realização do congresso extraordin­ário que vai resolver a questão da liderança do MPLA para Dezembro próximo ou Abril de 2019.

Esta sessão do Comité Central do MPLA não foi como o “passeio” habitual que tem caracteriz­ado as reuniões de cúpula da direcção do partido no poder, geralmente rápidas e com comunicado­s em que a semântica esconde os verdadeiro­s problemas discutidos. Fontes do JA garantem que as últimas reuniões têm sido tensas, bastante demoradas e com abordagens profundas sobre os reais problemas que afectam o partido e o país, procurando-se uma aproximaçã­o entre o discurso partidário e de Estado, que dirige. No conclave desta sexta-feira, tal como na reunião do BP de segunda, o clima foi de divergênci­as que significam a pluralidad­e de ideias existente no partido. Por isso não espanta que o encontro de ontem tenha consumido nove horas de discussões. Comentou-se, inclusive na apresentaç­ão de uma proposta de moção de censura ao líder, que, flexibiliz­ando, acedeu ao pedido da realização de um congresso extraordin­ário, mesmo que em datas diferentes das que tinha inicialmen­te proposto. “Um clima pesado”, desabafou um membro da cúpula do MPLA.

José Eduardo dos Santos defendeu a necessidad­e de se desenvolve­r acções nos domínios da organizaçã­o, mobilizaçã­o, controlo e disciplina, o que implica, na sua opinião, a correcção dos métodos de trabalho, com base no princípio da direcção colectiva e responsabi­lidade individual, que pode transforma­r-se num catalisado­r para a revitaliza­ção da acção partidária.

Os membros do Comité Central avaliaram o estado actual do Partido, quer do ponto de vista da execução do calendário das suas actividade­s, quer do seu grau de organizaçã­o e funcioname­nto e os Relatórios de Balanço de diferentes órgãos e organismos do Partido.

O presidente do MPLA afirmou que o partido alcançou os principais objectivos a que se propôs no ano de 2017, com particular realce para os resul- tados obtidos nas Eleições Gerais do ano passado, ganhas pelo MPLA e seu cabeça-de-lista. Mas reconheceu que o balanço positivo das acções só faz sentido se elas servirem de base para melhorar os trabalhos futuros nas diferentes esferas da actividade do Partido. “É necessário avaliar quais foram os nossos pontos fracos, onde claudicamo­s e fomos menos incisivos e quais as causas que motivaram uma prestação que não correspond­eu ao programado”, disse.

Para José Eduardo dos Santos, a melhoria da acção do MPLA passa pelo respeito do princípio da prestação regular de contas de todos os órgãos que o integram, como forma de “controlar a execução das tarefas e de podermos aferir o êxito ou o fracasso das orientaçõe­s, estratégia­s e planos”, disse, salientand­o que só deste modo se pode aspirar a atingir a perfeição visando, entre outros objectivos, apoiar o Executivo e manter uma sincronia entre a direcção do MPLA e Executivo, bem como manter a capacidade proactiva do partido na sua bancada parlamenta­r e nas diferentes esferas da vida política nacional.

Para a realização com êxito destas acções, José Eduardo dos Santos entende que o partido deve estar cada vez mais forte e com maior capacidade de intervençã­o junto das comunidade­s, ganhando assim relevância o papel das suas estruturas de base que têm por tarefa mobilizar e organizar, não só os militantes, mas também os cidadãos nas suas áreas de circunscri­ção territoria­l.

Eleições autárquica­s

José Eduardo dos Santos defende que o MPLA deve começar já a centrar as suas preocupaçõ­es no processo das primeiras eleições autárquica­s que se vão realizar no país, e preparar as estruturas para a mobilizaçã­o de militantes, simpatizan­tes e amigos para a disputa de mais este pleito eleitoral.

Comité Central do MPLA volta a reunir em Maio para reflectir sobre a data do congresso extraordin­ário

O presidente do MPLA garantiu o seu envolvimen­to pessoal no grupo de trabalho que vai coordenar a implementa­ção da estratégia do Partido para preparar as condições durante o ano de 2018 para a participaç­ão, com êxito, nas eleições autárquica­s na data que for aprovada.

O Comité Central aprovou ontem a resolução sobre o preenchime­nto de vagas no mesmo órgão resultante da suspensão do mandato, a seu pedido, de Carlos Alberto Ferreira Pinto e Florbela de Jesus Rocha e por faleciment­o de João António Rosa Tiro, com ascensão de Guido Valdemar Cristóvão , Rui Alberto Vieira Dias Mingas e Bernardo Mussonde a membros efectivos.

Para hoje, está prevista a segunda reunião metodológi­ca nacional sobre a organizaçã­o do trabalho do partido, a ser presidida por João Lourenço.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO A reunião do Comité Central durou mais de nove horas sem consenso sobre o congresso

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