Jornal de Angola

FMI aponta destino para o excedente orçamental

Fundo Monetário Internacio­nal sugere ao Executivo que as receitas extraordin­árias obtidas com a projecção mais baixa do preço do barril do petróleo no OGE, sejam empregues na regulariza­ção dos atrasados da dívida pública

- Cristóvão Neto

O Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) pediu que o Governo empregue o excedente de dinheiro obtido com a previsão orçamental mais baixa do preço do petróleo, no pagamento da dívida pública interna, revelou ontem, em Luanda, o director do Departamen­to Angola da instituiçã­o financeira.

Ricardo Velloso, que falava numa conferênci­a de imprensa realizada no fim de uma missão de avaliação do desempenho económico de Angola, afirmou que “um preço do petróleo mais elevado que o previsto no orçamento pode resultar em receitas extraordin­árias, que devem ser usadas na regulariza­ção mais rápida dos atrasados internos ou na diminuição da dívida”.

A dívida pública está situada em 64 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), mas o funcionári­o do FMI afirmou ter obtido o compromiss­o da autoridade­s angolanas de a estabelece­rem abaixo dos 60 por cento a médio prazo, em 2022 ou em 2023.

Missão também sugeriu ao Governo que mude as regras e adopte o princípio dos salários acompanhar­em a inflação

Ricardo Velloso também descartou a hipótese de um cenário de “reestrutur­ação forçada” da dívida pública angolana, com perdas para os investidor­es, embora tenha defendido a necessidad­e de alongar maturidade­s, num processo de negociação baseado apenas em mecanismos de mercado.

“Nós claramente vemos a necessidad­e de alongar as maturidade­s da dívida pública”, disse Ricardo Velloso, acrescenta­ndo haver, também, a necessidad­e de “reduzir, ao longo do tempo, a parcela da dívida indexada à moeda estrangeir­a, com emissão de dívida a taxas de juros fixas, em kwanzas”.

O FMI, assumiu o chefe da missão, está “plenamente de acordo” com as medidas que estão previstas pelo Governo angolano, nomeadamen­te o alongament­o das maturidade­s, situadas numa média de três por cento no caso da dívida pública interna, e de oito, a externa.

Ricardo Velloso afirmou que o FMI considera que “não há muito mais espaço para a acumulação de dívida”, embora o que a esse nível aconteceu no passado pode ser explicado, em parte, pelas melhorias verificada­s nas infra-estruturas edificadas no país.

Combustíve­is e salários

A missão também aconselhou o Governo a negociar com a Sonangol um ajustament­o dos preços dos combustíve­is, à luz da evolução económica nacional e internacio­nal posterior a Janeiro de 2016, quando os subsídios foram eliminados. De lá para cá, apontou o chefe da missão do FMI, os combustíve­is tornaram-se mais caros e o kwanza mais fraco, pelo que se faz necessária uma negociação com o concession­ário nacional de hidrocarbo­netos, a Sonangol, para estabelece­r aumentos graduais dos preços.

A missão também solicitou ao Governo para mudar as regras e adoptar o princípio dos salários acompanhar­em a inflação com pequenos aumentos, sobretudo os dos empregados dos sectores necessitad­os de eficiência.

Uma vez que a folha de salários de 2018 já está feita, o FMI considera que este princípio deve ser adoptado nos anos seguintes, de acordo com Ricardo Velloso.

O economista anunciou projecções de uma aceleração da taxa de inflação de 2018 para 24,7 por cento acima dos 23,67 por cento do ano passado -, sobretudo em resultado da depreciaçã­o do kwanza, mas sublinhou que as autoridade­s conseguira­m conter o efeito repasse que era esperado depois da introdução da taxa de câmbio flutuante, no princípio de Janeiro.

O novo regime cambial e a depreciaçã­o do kwanza que ocorre desde Janeiro 30 por cento face ao euro e mais de 20 diante do dólar -, “foi suficiente para corrigir a sobrevalor­ização” da moeda nacional, declarou Ricardo Velloso.

O chefe da missão do FMI revelou de que a introdução do Imposto sobre o Valor Acrescenta­do (IVA), prevista para 1 de Janeiro de 2019, vai ser faseada, envolvendo primeiro os grandes contribuin­tes, para depois ser expandida a uma base tributária mais alargada.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Chefe da missão do FMI, Ricardo Velloso, na conferênci­a de imprensa na qual apresentou projecções animadoras para a economia angolana

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