Sejamos moderados
Estamos para conhecer o concidadão que anda pelas ruas de Luanda e nunca se deparou com um cenário em que alguém, na elevação da sua arrogância, dirigiu-se para outrem nos seguintes termos: Sabes quem sou ? Tu me conheces? Queres perder o pão? Cuidado e não brinca com a tua vida!..
Mesmo que não sejam dirigidas a nós, directamente, está claro que assistir cenas do género roçam a mais elevada deselegância do ponto de vista da relação humana, fundamentada na razão do respeito mútuo como premissa para a sociabilidade dos indivíduos.
Motivações medíocres como a ostentação de um carro topo de gama, fatos de corte italiano ou francês e uns tantos adereços promovem, muitas vezes, a imagem de superioridade sobre quem, no exercício do limite das suas competências e posses, apenas prima por fazer a sua parte, mal entendida pelos que estatuíram nas suas mentes que a prioridade em tudo e por tudo é marca a eles reservada.
No exercício de elevada arrogância, muitas vezes nem mesmo os efectivos da Polícia Nacional, Forças Armadas e órgãos afins são poupados da arrogância de quem se julga acima das linhas orientadoras da convivência social, e por esta via se fazem prisioneiros da dialéctica do domínio e da servidão, como se isso fosse tão recomendável como a cultura do respeito pelo outro, aliás, um princípio basilar da vida humana.
Nem perderemos tempo em reflectir sobre o tratamento reservado aos agentes das empresas de segurança privada, nunca vistos como um corpo com valor a considerar na sedimentação da sociedade enquanto espaço comum, em que o lugar de alguém delimita a cedência de espaço para o outro.
Os agressores/arrogantes, dificilmente compreendem o outro como tema central na questão da interacção.
Interacção esta que se faz pura e realiza-se na partilha de competências que cada um tem ao seu nível e deve dispôr para o projecto de sociedade adoptado como acção comum, desenhada como ideal do que se prossegue como formas de interacção regidas pela busca de um ser mútuo e racionalmente partilhado.
Quem isso não entende, pelo menos deve prostrar-se em aprender que o outro é o ser que eu não sou, e que a sua acção, por mais ínfima e demeritória, no nosso pensamento, pode representar a âncora de complementaridade do que julgamos ter de superior.
Tudo por que, defendem alguns sociólogos com os quais concordamos, é na recíproca surpresa da descoberta do outro que se funda o princípio da ética na convivência do socialmente aceitável, que dispensa qualquer intenção, por mínima que seja, de criar ódio funesto por outrem.
Deste princípio, urge a necessidade de afastar da nossa lida acções que de um tempo a esta parte nos parecem ter sido instituídas como o triunfo da irracionalidade na vida humana, desvalorizando-se o outro pelos meios materiais e outra espécie de esbajamento nem tanto necessário para o que se recomenda na relação entre os seres humanos.
A preocupação na ordem do dia deve andar em torno de encontrarem-se respostas definitivas para a arrogância que nos consome, quando até sabemos que a nossa estadia na face da terra é um exercício de peregrinação e que, até prova em contrário, nada levaremos para a outra dimensão da vida, em que ela, a vida, nada mais é senão aquilo que as letras ou palavra designam.
Sejamos moderados.
Urge de afastar da nossa lida acções que desde há um tempo nos parece terem sido construídas como o trunfo da irracionalidade na vida humana, desvalorizandose o outro pelos meios materiais