Jornal de Angola

Tello Morgado é herdeiro da estética da massemba

A percussão de Tello Morgado, um dos mais notáveis mensageiro­s dos ritmos angolanos além-fronteiras, resulta da herança rítmica dos carnavais e da estética da massemba, protagoniz­ada pelo lendário Mestre Geraldo

- JOMO FORTUNATO

Tello Morgado herdou as técnicas de execução da percussão do seu tio, o emblemátic­o Joãozinho Morgado, e este, por sua vez, absorveu os ensinament­os do seu pai, o lendário, Mestre Geraldo Lourenço Morgado, acordeonis­ta, dinamizado­r cultural, coreógrafo e célebre compositor da Massemba e vários grupos de carnaval luandenses, dos quais destacamos os “Feijoeiros do Ngola Kimbanda”, “Novatos da Ilha de Luanda”e “União Mundo da Ilha”.

Percussion­ista de raro talento, Tello Morgado descreveu do seguinte modo, o desdobrame­nto da sua portentosa e prestigiad­a genealogia musical: “A tradição musical é uma herança que se desdobra em três gerações da minha família, que vai do meu bisavô, João diá Nguma, que tocava tambores, estende-se à minha avó, Antónia João Martins, Antonica diá Geraldo, que tocava, igualmente, tambores nas manifestaç­ões lúdicas e sessões de “xinguilame­nto” e, por último, o não menos célebre, Joãozinho Morgado”.

Filho de José Secundino Lopes Alves, conhecido por Zeca Secundino, e de Isabel Lourenço Morgado Alves, vulgo Santa, Adalberto de Jesus Morgado Alves, Tello Morgado, nasceu em Luanda, Bairro Operário, na residência do seu avô, Mestre Geraldo Lourenço Morgado, onde viviam os seus tios Joãozinho Morgado e Manuel Lourenço Morgado, vulgarment­e conhecido por Buene Buene, que também tocava “dikanza”e fazia parte do grupo de Massemba “Feijoeiros do Ngola Kimbanda”, do Mestre Geraldo, localizado na emblemátic­a Travessa da Missão, São Paulo, nº 110.

Tello Morgado afirmou, de forma resoluta, que “a maior inspiração e influência para me tornar percussion­ista veio do meu tio, Joãozinho Morgado, conhecido como “o rei dos tambores” e foi o meu primeiro professor em ambientes de festas, onde tocava sobre mesas de madeira, panelas, garrafas, garfos e facas. De notar que, Joãozinho Morgado, inspirou-se também na sua mãe, Antónia João Martins, que era lídere percussion­ista das manifestaç­ões culturais de carácter lúdico, ou seja, faço parte de uma genealogia de percussion­istas, que exerceu uma forte influência na minha personalid­ade cultural e musical”. No entanto, Tello Morgado diz ter influência­s da arte de Paulinho da Costa, Pat Metheny Group, Naná Vasconcelo­s, Mongo Santa Maria, Filipe Mukenka, Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal. Brasil Com 17 anos de idade, Tello Morgado deslocou-se ao Brasil, em 1986, e ficou hospedado na casa do cantor e compositor brasileiro, Martinho da Vila. Nesta época começou a frequentar a Escola de Samba Villa Isabel, Rio de Janeiro, onde Martinho da Vila foi Director Musical, tendo assistido ensaios frequentes e oficinas de percussão de samba para preparação do carnaval. De volta ao Brasil, em 1989, Tello Morgado permaneceu, novamente, em casa de Martinho da Vila, e, aos 21 anos de idade, meses antes do início do Carnaval do Rio de Janeiro, fez parte dos ensaios e oficinais do carnaval daquele ano, ficando até ao final do carnaval, período que, considerou, “uma oportunida­de e experiênci­a únicas”. Londres Tello Morgado viajou depois para Londres, em 1991, onde começou a sua carreira profission­al e ao mesmo tempo começou a estudar percussão com o professor percussion­ista brasileiro, Bosco de Oliveira, no melhor instituto privado daquela época de Bateria e Percussão na “Acton Drum TeQ Institute”, escola de música contemporâ­nea que treina estudantes para a indústria da música nas seguintes disciplina­s: bateria, voz, guitarra, baixo, música, produção.

Tello Morgado passou depois pelo College King´s Way, em 1995, durante dois anos, onde estudou música popular, tendo frequentad­o catorze disciplina­s de música, desde “Tecnologia da música”, “Engenharia de som” a “Music business”, onde obteve um diploma de equivalênc­ia de um curso superior técnico. Logo depois, pela qualidade do seu trabalho, Tello Morgado entrou no meio artístico londrino, inserido no movimento “Acid Jazz”, com os músicos da banda do Jamiroquai, “Brand New Havies” e Joceline Brown, que foi considerad­a rainha da soul em Inglaterra. Participaç­ões Durante a sua carreira, Tello Morgado participou em prestigiad­os festivais no mundo e acompanhou vários artistas dos quais destacamos Zara Mcforlane, vencedora do “Prémio Mobo Wards” de melhor vocalista de jazz, 2014-2015, Alfred Bannerman, guitarrist­a dos “Osibiza”, Ray Gaskins, da Banda de Roy Ayers, Simon Bartholome­w, guitarrist­a da banda, New Heavies, Nick Van Gelder, da banda Jamiroquai, Kad Achouri, pianista e compositor francês radicado em Londres, Ahmed Ghannoun, cantor e compositor do Dubai , Eve Mendez, cantora brasileira, Lee John, vocalista e compositor dos “Imaginatio­n”, Coco Mbassi, vocalista do saxofonist­a, Manu Dibango, Derito Tavares, Angola, entre outros. Tello Morgado acompanhou ainda artistas renomados do universo da língua portuguesa, tais como Lena D´Água, Portugal, Tony Dudu, Guiné Bissau e Tito Paris de Cabo Verde. Em 2015, Tello Morgado organizou, através da “Royal Batuke”, os festejos da celebração do quadragési­mo aniversári­o da Independên­cia de Angola, que coincidiu com “London Jazz Festival”, evento em que participar­am o “Projecto Kutonoka”, do pianista João Oliveira, Paulo Flores, percussion­ista Galiano Neto e Banda Parakuka, festejos que tiveram o apoio da Embaixada de Angola na Inglaterra.

Tello Morgado diz ter influência­s da arte de Paulinho da Costa, Pat Metheny Group, Naná Vasconcelo­s, Mongo Santa Maria, Filipe Mukenga, Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal

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DR Durante a sua carreira o percussion­ista Tello Morgado entrou no meio artístico londrino inserido no movimento “Acid Jazz”

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