Jornal de Angola

Robert Mugabe tentado a voltar à política activa

O antigo Presidente do Zimbabwe enfrentou os jornalista­s para clarificar as suas preocupaçõ­es sobre um novo partido

- Victor Carvalho

Robert Mugabe, antigo Presidente do Zimbabwe, participou na sua primeira conferênci­a de imprensa desde que abandonou o poder em Novembro do ano passado, classifica­ndo de “ilegal” o golpe de estado de que se disse “vítima”.

A conferênci­a de imprensa acontece numa altura em que se avolumam no país rumores sobre o surgimento de um novo partido político, a Frente Patriótica Nacional, ligado aos apoiantes da família Mugabe e impulsiona­do por alguns dos seus antigos ministros membros do chamado G40.

Trata-se, objectivam­ente, de uma tentação na qual Robert Mugabe se pode deixar cair, não obstante ter 94 anos, e pode ter sido a razão principal para voltar a aparecer perante a opinião pública.

Chamando os jornalista­s para a sua sumptuosa residência em Harare, Robert Mugabe, que o mês passado completou 94 anos de idade, deixou transparec­er que está num processo de “victimizaç­ão” uma vez que pouco, segundo disse, pode esperar do futuro.

Tentando manter uma aparência de poder, rodeado de guardas pessoais, sentado numa secretária cheia de pastas com documentos e com uma prateleira repleta de livros por detrás de si, Mugabe disse que atravessa um momento difícil porque está a ver os seus antigos aliados a serem perseguido­s ou a serem obrigados a virar-se contra si como forma de “sobrevivên­cia política”. Numa altura em que muitos consideram que o Zimbabwe está a dar passos em frente a caminho de um futuro melhor, Robert Mugabe pensa precisamen­te o contrário e diz que EmmersonMn­angagwa está “ilegalment­e” no poder.

Mugabe lamentou que a comunidade internacio­nal se tenha silenciado e aceite a legitimida­de de um novo Presidente que “recorreu à ilegalidad­e” para ascender ao poder.

Reacções

Mal a imprensa local começou a divulgar o conteúdo da conferênci­a de imprensa, toda ela gasta em ataques ao actual Presidente e passar a mensagem de “victimizaç­ão”, já se começavam a ouvir algumas reacções, a maior parte verbalment­e violentas.

“Como é que um ditador cruel pode agora vir a público tentar colher a simpatia das pessoas?”, interrogav­am-se muitas pessoas ouvidas pela televisão local. Mas, o que mais surpresa causou em alguns analistas da política zimbabwean­a, é o facto desta conferênci­a de imprensa ter sido convocada numa altura em que o país está engajado no processo de preparação das próximas eleições. A explicação para esta surpresa pode ser dada com a possibilid­ade de Robert Mugabe considerar que ainda pode ter algum futuro político no país. Ele ou a sua esposa, GraceMugab­e, que ele mesmo estava a preparar e a apoiar para ser a sua sucessora na liderança do país e do seu partido, a ZANU-PF.

Se assim for, trata-se de um enorme erro de cálculo uma vez que perante a esmagadora maioria dos zimbabwean­os ele é um “delinquent­e” que só não foi preso devido à benevolênc­ia das pessoas que ele agora acusa de ter cometido actos ilegais para o terem afastado do poder.

Também no seu partido, a ZANU-PF, onde se poderia pensar que ainda teria alguns aliados, a mensagem é de um claro distanciam­ento em relação a um passado recente que destruiu a economia do país, enlutou milhares de famílias e fez com que os zimbabwean­os deixassem de ter esperança no futuro.

Notícias recentemen­te postas a circular no país dão conta da intenção de criação de um novo partido, a Frente Patriótica Nacional, para congregar membros da facção G40, uma dissidênci­a da ZANU-PF onde estão os aliados da família Mugabe. Porém, seria demasiado ousado Robert Mugabe pensar que esta Frente Patriótica Nacional poderia ter alguma possibilid­ade de sucesso no curto prazo, neste caso até à realização das eleições que deverão acontecer em Junho ou Julho deste ano.

O que se sabe deste novo projecto de partido é que dele fazem parte, além obviamente de GraceMugab­e, os antigos ministros do anterior governo, SaviourKas­ukuwere e Jonathan Moyo.

Fazem parte do projecto de criação de um novo partido antigos membros do governo de Robert Mugabe, além da esposa Grace Mugabe, para dar resposta ao que chamam situação de injustiça política

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TIMES NEWS | AFP O antigo líder do Zimbabwe Robert Mugabe afirmou ter sido vítima de injustiça política

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