Jornal de Angola

No futuro apenas juízes de carreira devem chegar a presidente do Tribunal Supremo

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Como vê a designação do jurista Rui Ferreira para presidente do TS e por inerência presidente do CSMJ? Há algum descrédito para a justiça o facto de ele ter saído do Constituci­onal para o Supremo?

Não lhe chamo um descrédito. Rui Ferreira tem o mérito de ter feito, quanto a mim, um óptimo trabalho no Tribunal Constituci­onal e deixou o Tribunal como uma entidade funcional, digna, com soluções informátic­as óptimas. Apostou numa biblioteca fantástica, as decisões do Constituci­onal são de conhecimen­to público, o que ajuda, e muito, a investigaç­ão e a sua divulgação. Apostou num Gabinete Técnico de Jurisprudê­ncia ao estilo do que sucede noutros tribunais, mas o modelo é próximo do TEDH (Tribunal Europeu dos Direitos do Homem). Ora, deste ponto de vista, digo que a aposta por ele foi uma boa aposta. Só que, para mim, isto não deveria ser tudo.

Porquê?

É minha opinião que se deva assegurar duas coisas em concreto para o futuro: que apenas juízes de carreira devam chegar a Presidente do Tribunal Supremo; e é fundamenta­l que se legisle sobre o instituto da jubilação e as limitações que encerra. Precisamos profundame­nte de discutir até à exaustão e com soluções imediatas sobre quem deve jubilar: todos os juízes ou apenas os de carreira? Sendo jubilado, que limitações legais terão os jubilados, bem como a contagem de prazos e mandatos (continuado­s e acumulávei­s ou não)? Era fundamenta­l que esta discussão ocorresse antes da eleição (do juiz presidente do TS). Entretanto, não foi possível e mais: se os conselheir­os no pleito eleitoral votaram, quero crer livres e em consciênci­a, e depositara­m a confiança em três de entre os quais o actual presidente, é porque não lhes repugnava esta situação. Logo, só devo fazer votos que tudo corra da melhor forma possível. Mas o CSMJ precisa permitir que os jovens juízes façam outros cursos tais como MBA, formação de executivos, gestão e até cursos pós graduados para podermos no futuro estancar isto.

Pode-se falar então em nova era à vista no TS?

Honestamen­te, se Rui Ferreira, depois de toda a “polémica muda” que se gerou em torno dele, quer por apresentar a candidatur­a, quer por ter sido eleito, não melhorar as condições de trabalho, não dignificar a justiça e os magistrado­s, não introduzir critérios de dignificaç­ão dos funcionári­os, não introduzir soluções para que a justiça seja exercida em condições mui dignas e que confiram celeridade no seu exercício e prática, terá arriscado em vão o prestígio e a dignidade que construiu, quer como jurista no geral, quer como Presidente do Constituci­onal.

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