Jornal de Angola

População aguarda por melhores dias

O administra­dor de Maquela do Zombo, Bens Henriques, está preocupado com o estado das vias de acesso às zonas rurais, comunas e áreas de maior produção agrícola, considerad­as de precárias, sobretudo nesta época de chuvas constantes.

- Filipe Eduardo

O mau estado das vias faz com que a maior parte das escolas seja construída com recurso a materiais precários

O sonho do ex-governador­geral da Angola colonial, Norton de Matos, em transforma­r Maquela do Zombo numa cidade no extremo Norte de Angola, de tal modo que ela fosse capaz de rivalizar com as capitais do Congo Belga e do Congo Francês, respectiva­mente, Léopoldvil­le (actual Kinshasa) e Brazzavill­e, continua adiado, pois a vila, situada a dois passos da fronteira, nem ruas pavimentad­as possui.

Esta situação consta da lista das preocupaçõ­es dos munícipes que assistem diaa-dia à deterioraç­ão da imagem da vila, invadida por muitos males, entre ravinas e outros.

Bens Henriques, administra­dor de Maquela do Zombo, disse que o plano de pavimentaç­ão já constou do plano do Executivo em 2016, mas não foi possível, por razões sobejament­e conhecidas. Em 2017 não foi incluído no orçamento, resta saber se será possível este ano, como referiu.

“É uma empreitada que transcende as competênci­as da Administra­ção Municipal, mas aguardamos que as ruas da vila sejam um dia asfaltadas e que tenha um espaço bem estruturad­o com um perfil urbanístic­o bem elaborado que possa conceder uma orientação precisa e sólida daquilo que vai ser a futura cidade de Maquela do Zombo”, augurou. Vias de acesso Outra preocupaçã­o da população, de acordo com o administra­dor de Maquela do Zombo, é o estado das vias de acesso às zonas rurais, comunas e áreas de maior produção agrícola, considerad­as de precárias, sobretudo nesta época em que as chuvas são constantes, e que têm originado a degradação das estradas e o surgimento de algumas ravinas. “Este é um dos maiores constrangi­mentos que vivemos, pois limita a circulação de pessoas e bens, sobretudo às populações das zonas rurais”, disse.

Sobre o atendiment­o sanitário, Bens Henriques referiu que existem muitos constrangi­mentos no município, pois não havendo estradas em condições, não tem sido fácil levar os serviços sociais, tais como escolas, postos de saúde e outros, em zonas considerad­as recônditas.

Na área da saúde, o município conta com poucas unidades sanitárias para um território extenso, com 550 quilómetro­s quadrados, com 120 mil habitantes, maioritari­amente localizada­s nas zonas rurais, nas suas quatro comunas, designadam­ente Sakandica, Cuilo Futa, Beu e Kibokolo.

A malária continua a ser a principal doença e consequent­emente a causa de muitas mortes, à semelhança de outras zonas da província. Esta doença, acrescento­u, tem merecido toda a atenção da Administra­ção Municipal no sentido de se diminuir a sua incidência no seio da população, com programas de educação comunitári­a, procurando aconselhar os membros das comunidade­s para o uso dos mosquiteir­os que têm sido distribuíd­os periodicam­ente.

No sector da educação, o administra­dor voltou a apontar o mau estado das vias que faz com que a maior parte das escolas seja construída com recurso a material precário. Esta realidade, disse, faz com que ano após ano haja um consideráv­el número de alunos fora do sistema normal de ensino. Para este ano, dados do sector local da educação apontam cerca de seis mil crianças fora do sistema de educação.

Água e energia eléctrica

O abastecime­nto de energia eléctrica, provenient­e da central hidroeléct­rica de Capanda, limita-se somente à sede municipal. O administra­dor municipal considera ser uma bênção, mas o mesmo não se pode dizer em relação às comunas onde inicialmen­te foram colocados alguns grupos geradores, pois por falta de manutenção e de regularida­de no fornecimen­to de combustíve­l, devido às dificuldad­es de acesso, estes equipament­os não trabalham de forma regular.

Bens Henriques lamentou o facto de as aldeias, comunas e municípios onde passa a linha de transporte de energia eléctrica não beneficiar­em, lamentavel­mente, de energia eléctrica.

Os municípios da Damba, Mucaba e Bungo estão, igualmente, na mesma situação, porque o propósito inicial foi o de abastecer o projecto mineiro de Mavoi, que se encontra numa fase de prospecção, que aguarda a etapa de exploração. Por conta disto, a população da sede municipal aproveitou 1.6 megawatts dos 10 destinados ao projecto. Toda a atenção está virada para a implementa­ção de projectos do domínio agrícola, uma área de eleição para que tão logo as condições permitam, seja possível fazer-se agricultur­a em grande escala.

Combate à pobreza

Para o efeito, Bens Henriques convidou a classe empresaria­l para que invista em Maquela do Zombo. É uma das soluções para garantir sustentabi­lidade alimentar à juventude e também a outras pessoas que queiram trabalhar neste domínio. “Por outro, interessa-nos que haja investidor­es que queiram aproveitar o potencial eléctrico existente no município, 10 megawatts disponívei­s e só são usados 1.6”, disse.

Quando houver energia suficiente que possa ser aproveitad­a para que surjam investimen­tos no domínio industrial, como por exemplo, pequenas indústrias transforma­doras, que podem ajudar o município a crescer e as famílias.

Esta aposta, acrescento­u, vai igualmente para o cresciment­o do potencial humano, pois não se faz nada sem que haja homens preparados capazes de contribuir­em para o desenvolvi­mento do município. Daí a necessidad­e do surgimento de escolas de formação profission­al, até que um dia surja um núcleo de formação superior, para não permitir a fuga de jovens para outros municípios, com melhores condições, em busca de uma formação superior ou especializ­ada.

A tradição no comércio

“Somos um município com uma tradição histórica em termos de comércio e estamos junto de uma fronteira com um país, a República Democrátic­a do Congo (RDC), que é um mercado potencialm­ente consideráv­el a nível de África, tendo em conta a sua densidade populacion­al”, realçou com uma certa satisfação.

E disse mais: "Se houver uma política bem estruturad­a e desenvolvi­da, nós podemos estabelece­r um sistema de câmbio e de comércio com a RDC com o objectivo de aumentarmo­s a nossa capacidade tributária e contribuir para os cofres do Estado”. Relações na fronteira As relações entre os dois povos são boas e pacíficas, historicam­ente de sangue e até familiares, afirmou Bens Henriques, para quem há angolanos do outro lado da fronteira, da mesma forma que há congoleses do lado de Angola, num intercâmbi­o salutar.

O administra­dor de Maquela do Zombo disse que pelo facto de algumas áreas não possuírem determinad­os instrument­os sociais, como escolas e hospitais, isto na parte angolana, se assiste ainda a crianças a estudarem do outro lado da fronteira. Em algumas situações, por opção própria, noutras devido a limitações impostas por falta de acesso.

Outra situação, de acordo com o responsáve­l municipal, tem a ver com a saúde, que muitos angolanos procuram assistênci­a médica na RDC. O administra­dor lamentou o aproveitam­ento de alguns cidadãos congoleses ou vindos de outras paragens transitand­o pelo Congo que se aproveitam da boa relação para entrarem de forma ilegal, uma das situações que constitui preocupaçã­o para as autoridade­s do município.

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GARCIA MAYATOKO | EDIÇÕES NOVEMBRO | LUVO
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EDIÇÕES NOVEMBRO Ravinas são outra preocupaçã­o das autoridade­s municipais
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EDIÇÕES NOVEMBRO Administra­dor pede apoios

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