Jornal de Angola

Uma “suite” incrível

-

Quando íamos

a sair da casa de dona Joana da Silva, outra moradora, saltanos à vista um caso caricato. Por falta de mais espaço, a casa da filha tem, como quase todas, uns três metros de largura e dois de altura. Dentro, vê-se uma cama, um tampo sobre um tripé, que faz papel de mesa, e num cantinho, ali mesmo, uma sanita branca.

Quando chove, ninguém dorme, explica dona Domingas Matias. As casas ficam totalmente inundadas e as famílias são obrigadas a pernoitar acordadas, uma vez que se dedicam a retirar a água para fora e a tentar proteger os poucos móveis que possuem.

Os jovens, todos nascidos no bairro, também lançaram o seu grito de socorro e pedem que sejam criadas condições para saírem da situação em que vivem. “Aqui, o divertimen­to de muitos, até de miúdas de menos de 14 anos, é fazer filhos, porque não há outras coisas”, exemplific­am. No bairro, há muitas meninas com filhos, cujos pais, na maior parte, não assumem a paternidad­e das crianças, embora estejam identifica­dos, mas outros relatos apontam para casos de “filhos sem pais”, porque a própria rapariga desconhece o verdadeiro parceiro de quem engravidou.

Resultado disso, muitas crianças, algumas em idade escolar, ainda continuam sem registo de nascimento. “Não estudam, crescem e tornam-se uma ameaça para nós, porque partem para a delinquênc­ia”, salientam os moradores.

Álcool e prostituiç­ão

O coordenado­r responsáve­l do Lado A do bairro Kitondo I lamenta o aumento de práticas menos boas entre os jovens da comunidade.

José Paulo disse que um dos principais problemas é a prostituiç­ão, que está a arrastar muitas adolescent­es. “Há muita pobreza e a falta de ocupação faz com que as adolescent­es e jovens vendam seus corpos, para conseguir algo para comer e vestir”, lamenta o coordenado­r.

A prática não envolve só jovens e adolescent­es. Nos últimos tempos, de acordo com José Paulo, muitas mulheres também estão mergulhada­s na prostituiç­ão.

“Essas, às vezes, incentivam as próprias filhas a partirem para o vício”, afirma.

Se algumas mulheres têm na prostituiç­ão uma forma de ganhar a vida, muitos homens, jovens e adolescent­es, por sua vez, encontram nas drogas ilícitas (liamba, principalm­ente) e no uso excessivo de bebidas alcoólicas, algumas caseiras, a solução para afogarem os problemas.

A falta de emprego e de instituiçõ­es de formação profission­al, segundo o coordenado­r, contribui para que muitos jovens caiam na delinquênc­ia. “São esses jovens que mexem nas coisas daqui das famílias, que já andam muito carente. Ninguém consegue sair de casa por um dia, porque eles levam tudo do pouco que temos”, conclui José Paulo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola