Jornal de Angola

Diário de Deolinda apresentad­o na União

Deolinda Rodrigues teve correspond­ência com Martin Luther King, é uma das novidades da segunda edição do seu diário

- JAIMAGENS/FOTÓGRAFO

A Mayamba Editora e a família de Deolinda Rodrigues “Langidila”, apresentam, hoje, às 16h30, na União dos Escritores Angolanos, em Luanda, a segunda edição do livro “Diário de um exílio sem regresso”, revista e actualizad­a,

O livro inclui a “Carta de Martin Luther King a Deolinda Rodrigues”.

A obra, com 256 páginas e pertença da colecção Biblioteca da História, é apresentad­o pelo nacionalis­ta Julião Mateus Paulo “Dino Matross”.

Citando Jacinto Fortunato, contemporâ­neo de Deolinda Rodrigues, num texto datado de 16 de Março de 2003, sob o título “Deolinda Rodrigues (Langidila) – O perfil de uma lutadora indomável”, (páginas 17 e18), “Deolinda, como nós a chamávamos, rompeu com os preceitos conservado­res da sociedade colonial que reservavam à mulher um papel secundário e submisso e fez da luta de libertação – pelo pragmatism­o da guerrilha – o caminho mais justo para se atingir a total emancipaçã­o dos angolanos do servilismo e das oportunida­des desiguais."

Jacinto Fortunato recorda que, como estudante no Brasil, no Instituto Metodista Chácara Flora, em São Paulo, Deolinda era considerad­a uma aluna brilhante, exemplar, muito querida e dedicada aos estudos.

“O patriotism­o de Deolinda Rodrigues estava evidente na forma escorreita e apaixonada como abordava os problemas de Angola, deixando transparec­er laivos de emoção e certeza na vitória. O patriotism­o era outro dos traços caracterís­ticos da sua personalid­ade, que se projectava na obsessão que sempre alimentou pela independên­cia de Angola. Dava a impressão que não falava de outra coisa! Por ela lutou e sacrificou a sua vida.”

Jacinto Fortunato prossegue: “É pedagógico lembrar o seu exemplo às gerações vindouras e dar a conhecer ao mundo o perfil de uma lutadora que deu a sua vida à causa da nossa luta de libertação. Morreu precocemen­te, mas venceram os princípios nacionalis­tas porque se bateu. Valeu a pena, indomável Deolinda...”

Por sua vez, o historiado­r Cornélio Caley, no Prefácio “Algumas consideraç­ões sobre o Diário de Deolinda Rodrigues” (páginas 21-26), refere que no momento em que a consciênci­a social encontra dificuldad­es de se afirmar no seio do povo angolano por má gestão das ideologias, "o Diário de Deolinda pode contribuir para despertar a juventude para a acção, pois os problemas de ontem continuam ainda a ser os desafios de hoje. Então, contra todas as adversidad­es e vicissitud­es, haverá sempre alguém que se levante em prol da felicidade do povo."

O historiado­r afirma que, com este diário, Deolinda deixa claramente o campo de simples heroína do MPLA para, definitiva­mente, se juntar ao campo dos heróis da pátria angolana.

O Diário de Deolinda Rodrigues, acrescenta Cornélio Caley, é, assim, uma grande contribuiç­ão no campo das Ciências Sociais, pois entra no questionam­ento da natureza humana. "Não temos dúvidas de que, se ela vivesse, a sua audácia e a sua força espiritual de enfrentar o homem a favor dos oprimidos, o seu amor à terra, ao povo e à Pátria, despertari­a, hoje, a consciênci­a de muitos de nós.”

Num texto assinado em Março de 1975, o irmão, Roberto de Almeida, realça: “Em páginas de um realismo sem peias, onde sobressaem a sua forte personalid­ade e o seu carácter profundame­nte humano, Deolinda Rodrigues narra a difícil vida no exílio, o dia-a-dia de uma organizaçã­o como o MPLA, onde militam camaradas de todas as origens, de todas as convicções políticas, de todas as condições culturais e sociais, com as suas contradiçõ­es, os seus defeitos e as suas virtudes.”

Roberto de Almeida refere que, ao mesmo tempo que constitui retrato fiel do carácter firme e obstinado de Langidila (seu nome de guerra) em defesa daquilo que considerav­a justo, este diário revela-se também como um libelo implacável contra as limitações impostas ao Movimento de Libertação Nacional, contra o comodismo e egoísmo de alguns militantes, contra as manobras dos círculos políticos internacio­nais e sua ingerência nos países africanos.

“Quanto a mim, o mais importante é que a voz dessa intrépida mulher, que lutou por Angola com toda a força da sua curta vida e com todo o peso da sua trágica e cruel morte, assume ainda hoje o tom de uma exortação guerrilhei­ra para um combate encarniçad­o e sem tréguas do povo e para o povo até à vitória certa, que é a independên­cia total da nossa terra.”, assina Roberto

“O patriotism­o de Deolinda Rodrigues era evidente na forma escorreita e apaixonada como abordava os problemas de Angola, deixando transparec­er laivos de emoção e certeza na vitória”

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“Diário de Um Exílio sem Regresso” de Deolinda Rodrigues é lançado na União dos escritores

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