Da história da Banca ao “Exército Sanitário Universal”
Na Idade da Pedra, o rei e a divindade exerciam todo o poder, concentracionário, sobre a gestão e acantonamento dos dinheiros. Acolhiam os depósitos e “tratavam do resto”. Não existiam bancos no sentido actual do termo. Dizem os estudiosos que, então, os bens e os depósitos eram levados ao palácio e ao templo, onde o súbdito soltava os seus tributos. Lugares seguríssimos, o palácio protegido por legiões de homens armados, o templo fruindo as essências do sagrado e da santidade. O camponês lá depositava as suas colheitas, o comerciante as suas mercadorias e sempre na expectativa de largas viagens para a aquisição de novos produtos. Um certificado fazia as vezes de recibo. Este regime funcionava desde as épocas de Hammurabi (2.250 anos antes de Cristo), e do sábio e influente rei babilónio Amraphel, o da Bíblia, derrotado, com estrondo, por Abraham (Gén.14). Existiam, já, os condutores de caravanas, algo como um seguro mútuo: os danos sofridos por alguns deles mercê de actos de pilhagem eram ressarcidos por todos, pela comunidade. Os métodos iriam mudar no período neo-babilónico (mais ou menos no século VI antes de Cristo): o eixo da actividade “bancária” deslocou-se do palácio e do templo para a “gestão entre particulares”. As fortunas familiares transmitiam-se de pais para filhos e uns e outros ocupavam e alugavam casas e terrenos, possuíam navios, o cultivo de suas terras era confiado aos escravos. E, no tocante ao dinheiro, recebiamno e, por sua vez, emprestavam-no - um rasgo identificado, então, com o “merchant banker” que começou por ser prática de empresários e banqueiros ingleses. A locomotiva da moeda, dos dinheiros, foi laborando - até lhe surgirem pela frente obstáculos como alguma Igreja inspirada em conceitos éticos expendidos por Aristóteles, Platão, ou Séneca, que tacharam de injusta a cobrança de juros. Quer dizer, um momento único na vida da humanidade - a moral pública tomando como abuso a exploração da necessidade, da ignorância ou da ligeireza alheias. Entre os séculos XVII e XX operam-se as transformações de maior impacto, digamos de maior poder influencial sobre os nossos dias. Bastou a fundação, em 1694, do Banco de Inglaterra, para se adivinharem os futuros. Curioso: o Banco de Inglaterra nasceu como instituição privada! Com o nome de “The Governor and Company of the Bank of England” - sem o concurso directo do Estado. Aonde ouvimos nós falar de privado ou privatizações? De moedas opressoras e hegemónicas, especulativas e ameaçadoras? Adiante. A Venezuela, sabotada por embargos, sanções e ameaças dos Estados Unidos, e minada, desde sempre, por fascistas remanescentes, ainda, da “Conquista”, decidiu-se agora pela criação de uma “criptomoeda”. Não é uma novidade na História da Banca, a Revolução Bolivariana abraçou a ideia com determinação. O “petro” começará, pois, a circular no campo das finanças venezuelanas. Escorado, garante Nicolás Maduro, na produção petrolífera e aurífera. No essencial, a chamada “criptomoeda” bolivariana traduz-se num instrumento de luta contra as mil e uma possanças do dinheiro hegemónico. A venezuelana diligência coincide com a eclosão “vistosa” de outra: a OMS, leia-se Organização Mundial da Saúde, anuncia a criação do “Exército Sanitário Universal”. Pretexto: intervir, em defesa da saúde, lá onde “for preciso”. O dinheiro volta a estar em causa. Laboratórios e farmacêuticas preparam-se para o banquete. A OMS não compareceu no México, em 1985, quando do terramoto que causou 10 mil vítimas mortais. Nem nos sismos no Equador, Perú ou Guatemala. O projectado “Exército Sanitário Universal” será tão credível quanto o foram, até hoje, os “capacetes azuis” da ONU, a Legião Estrangeira, os Médicos sem Fronteiras ou a Federação Internacional Farmacêutica. Nos desastres naturais, em vez de médicos há soldados. Os “capacetes azuis” da ONU saem impunes de muitíssimos crimes: assassinatos, violação de mulheres, maus tratos às populações. Em conflitos armados, não poucas vezes os “capacetes azuis” da invocada “pacificação” tomaram partido e juntaramse aos infractores. Na tragédia do Ruanda, foram acusados de abandonar os tutsis à sua sorte, à mercê da maioria utu. O “petro” venezuelano é um rasgo de autodefesa. O “Exército Sanitário Universal”, pelo contrário, é uma extensão dos Médicos sem Fronteiras e da Federação Internacional Farmacêutica. Esta Federação, criada em Setembro de 1912, apenas nos vende a realização, até 2018, de nada menos de 78 congressos - para laboratórios, médicos e delegados de propaganda médica. É amiga da privatização de hospitais. O “Exército Sanitário” teatralmente autodenominado “Universal” não irá, nunca, intervir na Síria, no Iraque, na Índia, no Sudão ou na Guatemala. Nem irá socorrer os desgraçados da Colômbia, país de torcionários, privado de hospitais populares e indiferente às crianças “indígenas” que sucumbem como tordos à desnutrição e à sede. A Colômbia é uma catástrofe humana que os Estados Unidos, e a Espanha rebentada pela corrupção, querem a todo o custo transferir para a Venezuela. A História da Banca e as mil caras e o tripudiar malfeitor da moeda confundem-se, como nunca, com o carácter impúdico destas “organizações”, algumas ditas não-governamentais. A Médicos sem Fronteiras está associada à prática de orgias, assédio e violação sexuais. Emprega 40 mil funcionários em todo o mundo. Despautério equiparável à Legião Estrangeira, covil medonho de mercenários que combatem por dinheiro. A Legião dispõe, hoje, de 7.800 mercenários. Que a Legião Estrangeira não vá combater, no terreno, o Boko Haram, a Al Qaeda ou o Estado Islâmico - eis uma questão para congelar debaixo dos tapetes. O último dos aparatosos 78 congressos da FIF decorreu, já este ano, em Glasgow, Escócia. O anterior teve lugar na coreana Seul. A especialista espanhola Carmen Peña preside, agora, à Federação Internacional Farmacêutica. Coincidência: no Centro Penitenciário de Málaga, Espanha, 572 imigrantes argelinos “passam as passas do Algarve” em condições inumanas - sem médicos, ou medicamentos, com ou sem fronteiras…
A OMS, leia-se Organização Mundial da Saúde, anuncia a criação do “Exército Sanitário Universal”. Pretexto: intervir, em defesa da saúde, lá onde “for preciso”. O dinheiro volta a estar em causa