Jornal de Angola

Eleições voltam a estar sob suspeita

Empresa de consultori­a do Reino Unido pode ter desenvolvi­do actividade­s ilegais no triunfo de Kenyatta

- Victor Carvalho

A empresa de consultori­a política Cambridge Analytica, do Reino Unido, foi acusada pela coligação Super Aliança Nacional de ter tido um envolvimen­to irregular na recente eleição de Uhuru Kenyatta como Presidente do Quénia.

Norman Magaya, líder desta coligação, acusou o partido no poder e a referida empresa britânica de terem “subvertido a vontade do povo” do Quénia.

A empresa já reagiu e afirmou que nada fez de errado, uma vez que se limitou a realizar o mesmo trabalho que desenvolve­u em eleições noutros países, nomeadamen­te nos Estados Unidos onde trabalhou na campanha de Donald Trump.

O Partido Jubileu, do Presidente Kenyatta, minimizou a importânci­a das acusações, dizendo que a Cambridge Analytica se limitou a ajudar no fornecimen­to de material de campanha e de inserir propaganda eleitoral nos meios de difusão massiva.

David Murathe, vice-presidente do Jubileu, garantiu que a referida empresa de consultori­a não teve uma participaç­ão directa na condução da campanha de Uhuru Kenyatta, tendo-se limitado a fornecer cartazes e camisolas que foram usados durante a campanha.

Porém, a Super Aliança Nacional tem outra opinião e garante ter informaçõe­s de que muitos dos discursos proferidos pelo Presidente Kenyatta foram escritos por funcionári­os da Cambridge Analytica. As contradiçõ­es, entretanto, começaram a avolumar-se quando um porta-voz da empresa disse que como em qualquer acção de marketing, houve a necessidad­e de serem usados os meios de informação para promover a imagem do candidato, através da inserção de anúncios pagos.

Para a Super Aliança Nacional não se tratou apenas de publicar anúncios pagos, foi uma autêntica “intoxicaçã­o informativ­a que influencio­u o sentido de voto”, disse Norman Magaya.

Esta polémica surge dias depois do Presidente Uhuru Kenyatta e de Raila Odinga, segundo classifica­do nas últimas eleições, terem feito uma declaração conjunta na televisão a anunciar o início de um projecto de reconcilia­ção nacional de modo a esbater as diferenças entre os dois.

Mas, a verdade é que a Super Aliança Nacional não quer saber dessa declaração e insiste em que as eleições presidenci­ais quenianas de 2017 tiveram uma “interferên­cia ilegal” de uma empresa de marketing que usou meios inconstitu­cionais para favorecer um dos candidatos, e “subverter a vontade do povo”. A “estratégia americana” O que se vai agora apurar é se a Cambridge Analytica usou no Quénia a mesma estratégia utilizada nos Estados Unidos, onde trabalhou na campanha que levou o multimilio­nário Donald Trump para a Casa Branca.

Nos Estados Unidos, a empresa fez toda a pesquisa, colheu todos os dados, todas as análises e fez toda a segmentaçã­o executando ainda a campanha digital e de televisão. Esta informação surge menos de uma semana depois de ter sido exposto que a Cambridge Analytica terá usado ilegalment­e a informação de 50 milhões de utilizador­es do Facebook para prever e encaminhar as orientaçõe­s de voto nas eleições presidenci­ais norteameri­canas quando trabalhava para a campanha de Donald Trump.

Um jornalista do canal de televisão britânico Channel 4 apresentou-se perante a Cambridge Analytica como um potencial cliente para influencia­r as eleições no Sri Lanka e conseguiu obter informaçõe­s de como é que a empresa havia trabalhado na campanha de Donald Trump.

Nas imagens divulgadas na segunda-feira, o Channel 4 mostrou que a empresa sugeria que poderia manchar os rivais políticos, oferecendo-lhes grandes quantidade­s de dinheiro ou levando-as a situações sexuais compromete­doras com “ucranianas atraentes”.

Partido Jubileu do Presidente Kenyatta minimiza importânci­a das acusações e diz que empresa Cambridge Analytica limitou-se a fornecer material de campanha

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DR Polémica surge dias depois de o Presidente e o líder da oposição terem iniciado reconcilia­ção

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