Eleições voltam a estar sob suspeita
Empresa de consultoria do Reino Unido pode ter desenvolvido actividades ilegais no triunfo de Kenyatta
A empresa de consultoria política Cambridge Analytica, do Reino Unido, foi acusada pela coligação Super Aliança Nacional de ter tido um envolvimento irregular na recente eleição de Uhuru Kenyatta como Presidente do Quénia.
Norman Magaya, líder desta coligação, acusou o partido no poder e a referida empresa britânica de terem “subvertido a vontade do povo” do Quénia.
A empresa já reagiu e afirmou que nada fez de errado, uma vez que se limitou a realizar o mesmo trabalho que desenvolveu em eleições noutros países, nomeadamente nos Estados Unidos onde trabalhou na campanha de Donald Trump.
O Partido Jubileu, do Presidente Kenyatta, minimizou a importância das acusações, dizendo que a Cambridge Analytica se limitou a ajudar no fornecimento de material de campanha e de inserir propaganda eleitoral nos meios de difusão massiva.
David Murathe, vice-presidente do Jubileu, garantiu que a referida empresa de consultoria não teve uma participação directa na condução da campanha de Uhuru Kenyatta, tendo-se limitado a fornecer cartazes e camisolas que foram usados durante a campanha.
Porém, a Super Aliança Nacional tem outra opinião e garante ter informações de que muitos dos discursos proferidos pelo Presidente Kenyatta foram escritos por funcionários da Cambridge Analytica. As contradições, entretanto, começaram a avolumar-se quando um porta-voz da empresa disse que como em qualquer acção de marketing, houve a necessidade de serem usados os meios de informação para promover a imagem do candidato, através da inserção de anúncios pagos.
Para a Super Aliança Nacional não se tratou apenas de publicar anúncios pagos, foi uma autêntica “intoxicação informativa que influenciou o sentido de voto”, disse Norman Magaya.
Esta polémica surge dias depois do Presidente Uhuru Kenyatta e de Raila Odinga, segundo classificado nas últimas eleições, terem feito uma declaração conjunta na televisão a anunciar o início de um projecto de reconciliação nacional de modo a esbater as diferenças entre os dois.
Mas, a verdade é que a Super Aliança Nacional não quer saber dessa declaração e insiste em que as eleições presidenciais quenianas de 2017 tiveram uma “interferência ilegal” de uma empresa de marketing que usou meios inconstitucionais para favorecer um dos candidatos, e “subverter a vontade do povo”. A “estratégia americana” O que se vai agora apurar é se a Cambridge Analytica usou no Quénia a mesma estratégia utilizada nos Estados Unidos, onde trabalhou na campanha que levou o multimilionário Donald Trump para a Casa Branca.
Nos Estados Unidos, a empresa fez toda a pesquisa, colheu todos os dados, todas as análises e fez toda a segmentação executando ainda a campanha digital e de televisão. Esta informação surge menos de uma semana depois de ter sido exposto que a Cambridge Analytica terá usado ilegalmente a informação de 50 milhões de utilizadores do Facebook para prever e encaminhar as orientações de voto nas eleições presidenciais norteamericanas quando trabalhava para a campanha de Donald Trump.
Um jornalista do canal de televisão britânico Channel 4 apresentou-se perante a Cambridge Analytica como um potencial cliente para influenciar as eleições no Sri Lanka e conseguiu obter informações de como é que a empresa havia trabalhado na campanha de Donald Trump.
Nas imagens divulgadas na segunda-feira, o Channel 4 mostrou que a empresa sugeria que poderia manchar os rivais políticos, oferecendo-lhes grandes quantidades de dinheiro ou levando-as a situações sexuais comprometedoras com “ucranianas atraentes”.
Partido Jubileu do Presidente Kenyatta minimiza importância das acusações e diz que empresa Cambridge Analytica limitou-se a fornecer material de campanha