Jornal de Angola

Nunca a fizeram esmorecer

Tia Bela é exemplo de mulher lutadora que nunca virou a cara às dificuldad­es e se afirma como pessoa ainda não vitoriosa

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Mas em breve reduziram a força de trabalho e Isabel Mafuta viu-se desemprega­da, com quatro filhos, foi lavadeira e empregada de limpeza até conhecer João António Júnior “J” que lhe proporcion­ou um curso de culinária e pastelaria no Hotel Alameda Escola.

Terminado o curso, Isabel Mafuta foi de novo para a luta, sem olhar para o lado, até bater à porta do Hotel Fórum, em 2002, sendo admitida como ajudante de cozinha, lugar de que viria a desistir por não ter transporte de casa para o local de trabalho. as moedas que ganha com o seu esforço são contadas e sagradas para a educação dos filhos. Puxando os impossívei­s para a área dos desafios, Isabel Mafuta mandou a filha Leonor Vissolela estudar em Portugal, para vir de lá com um curso.

E Leonor veio mesmo com um curso depois de se formar em Setúbal como Educadora Social. Isabel Mafuta não sabe explicar onde foi buscar o dinheiro mas o grande objectivo foi cumprido e Leonor hoje é professora-bibliotecá­ria no Colégio Caju em Talatona.

A Damba, terra de boas gentes, é a menina dos olhos de Isabel, que sofre, sofre muito com a pobreza extrema das pessoas, especialme­nte dos jovens. A Damba foi abandonada, sofreu muito na guerra e foi deixada à sua sorte, diz, muito triste, Isabel Mafuta.

Para ajudar um pouco a minorar as dificuldad­es, um grupo de filhos da Damba criou a Associação dos Amigos e Naturais da Damba (Kimvuka kya ana ye akundi a Ndamba), e sempre que podem os seus membros ajudam especialme­nte as crianças com alimentos e roupa. Isabel Mafuta diz que são poucos os que ajudam e não hesita quando refere o exemplo de Tony Sofrimento.

Isabel Mafuta desloca-se frequentem­ente à Damba, não sem antes pedir a quem possa que lhe entregue alimentos ou roupas para levar, e ali na zona de Cacuaco, Tia Bela enche o carro com «pão mata enteado», aquele pão enorme que as mamãs vendem na rua, e vai distribuin­do às crianças pela estrada.

No seu tempo de criança, recorda, a Missão Católica feminina da Damba formava raparigas em culinária, costura e noutras artes, mas hoje esse centro feminino está abandonado, as meninas que são recolhidas nada fazem a não ser filhos.

EIsabel Mafuta recebeu-nos no Centro de Formação de Construção Civil, na Vila Chinesa, em Viana, onde lecciona um curso de Culinária e Pastelaria

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RUI RAMOS Natural da Damba, Uíge, Isabel Mafuta sofreu o primeiro grande revés com a morte do pai

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