Jornal de Angola

Ausência da Nigéria compromete eficácia

Os líderes de 44 países africanos assinaram esta semana na cidade Kigali o Tratado de Livre Comércio Continenta­l

- Victor Carvalho

A capital do Ruanda acolheu esta semana chefes de Estado de diversos países do continente para concluírem e assinarem um acordo que pretende beneficiar mais de 1.2 mil milhões de africanos, mas que necessita ainda de ser ratificado pelos parlamento­s de todos os Estados signatário­s para que possa entrar numa fase de implementa­ção gradual.

Porém o facto de dez países, sobretudo a Nigéria, se terem recusado a aderir ao tratado não é uma boa notícia pois pode enfraquece­r e complicar o alcance das metas inicialmen­te traçadas.

Um dos vários objectivos deste tratado é o de remover as barreiras comerciais que economicam­ente separam os Estados subscritor­es, tais como as tarifas, as quotas de importação e exportação e a liberdade de trocas e serviços entre os países que aderiram ou venham a aderir tratado. Até agora a taxa do comércio entre os países africanos tem sido relativame­nte baixa. De acordo com estatístic­as disponibil­izadas pela União Africana apenas dez por cento do total do comércio é feito sem ultrapassa­r as fronteiras do continente. A explicação para este facto pode ser dada pelo facto da industrial­ização em África ainda ter uma expressão muito reduzida, o que resulta depois na dificuldad­e de exportação para outros continente­s.

O problema da Nigéria

Todas estas dificuldad­es e incertezas, que já antes da assinatura do tratado eram afloradas, aumentaram depois que se soube que o Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, estaria ausente da cimeira de Kigali por não concordar com “certas estratégia­s” que teriam supostamen­te sido traçadas sem a sua consulta. Alegou Muammadu Buhari que sendo a Nigéria a primeira economia africana deveria ter sido consultada em relação ao modo como o tratado foi constituíd­o e, sobretudo, como ele irá ser implementa­do nas suas diferentes fases.

A União Africana não escondeu o seu embaraço pelo facto da Nigéria não ter subscrito o tratado, mas um seu responsáve­l disse estar optimista quanto á possibilid­ade de o poder fazer mais tarde, “depois de desfeitos todos os equívocos”. Mas, a verdade é que este optimismo ainda está por provar ter uma razão de ser, pois nada indica que a Nigéria venha a rever a sua posição, pelo menos no médio prazo.

Por isso, a visão da existência de um acordo que permite o livre comércio a mais de 1.2 biliões de pessoas, do Cairo até à Cidade do Cabo, carece de uma implementa­ção e comprovaçã­o pausada, mas firme, de modo a não ferir todas as expectativ­as que foram sendo criadas. Em causa está, também, a possibilid­ade dos trabalhado­res de mais de 50 países poderem circular pelo continente em busca do melhor emprego.

O Departamen­to sul-africano de Comércio e Indústria já disse que está comprometi­do com a coordenaçã­o da estratégia para aumentar o comércio inter-africano e para construir um mercado comum que pode movimentar uma população com um rendimento global aproximado de 2.6 triliões de dólares.

O ministro do Comércio do Quénia, por sua vez, disse que não é só necessário criar um comércio livre massivo mas também fomentar a competitiv­idade entre as indústrias e as empresas de modo que cada país possa melhor rentabiliz­ar a utilização das suas capacidade­s.

União Europeia

Um dos grandes desafios que os subscritor­es deste tratado têm de enfrentar, mais tarde ou mais cedo, é de a criação de uma política de tarifas alfandegár­ias a estabelece­r nas relações comerciais com países de outros continente­s. Tratase de lançar um mercado comum onde os bens, serviços e força de trabalho seja livre no interior do espaço africano e, por outro lado, possa funcionar como um bloco nas relações comerciais com o resto do mundo.

Numa fase posterior, os estados membros devem estudar uma política de integração comum e a unificação monetária com a eventual criação de uma moeda única.

Tomando por exemplo o que se passa com a União Europeia, que demorou cerca de 50 anos a ser consolidad­a, trata-se de um percurso não isento de riscos uma vez que cada estado membro continuará a ter a sua estratégia política e económica, só que tem de a adequar à dos seus parceiros. O problema é que, tal como vem sucedendo na Europa, a estratégia económica comanda a estratégia política e é invariavel­mente ditada pelos países mais ricos, geralmente possuidore­s de maiores reservas financeira­s e recursos industriai­s.

É aqui que entra a ausência da Nigéria, que sendo a principal economia africana tornase um país imprescind­ível no que toca à relação do bloco continenta­l com os parceiros externos. Por outro lado, a Nigéria, pelo seu imenso potencial económico, está condenada a ser a “locomotiva” económica deste tratado que demorará tanto mais a arrancar quanto mais tarde este país assinar a sua adesão.

Uma outra dificuldad­e prende-se com a dimensão do continente africano, não somente em termos geográfico­s mas também no que toca ao número de países que o compõem.

Enquanto a União Europeia, por exemplo, tem apenas 28 membros (quando arrancou nos anos 50 foi apenas com seis países fundadores), África tem 54.

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DR Cidade de Kigali acolheu encontro de líderes a fovor das transações comerciais entre países

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