Escândalos em hospitais fragiliza o plano de saúde
Serviços de atendimento médico no Quénia estão debaixo de fogo cerrado devido aos sucessivos escândalos no sector
Aquilo de que muitos já suspeitavam e vinham denunciando de modo algo tímido acabou por se confirmar: os serviços de atendimento hospitalar do Quénia estão no centro de um enorme furação que desnuda toda a sua fragilidade.
Depois de num recente relatório da Organização Mundial de Saúde ter dito que o Quénia é dos países mais perigosos para as parturientes, com base no facto de morrerem anualmente oito mil mulheres por problemas na hora do parto, eis que as denúncias começam agora a ser do domínio do grande público o que está a provocar uma situação de alarme social.
O caso mais recente envolveu a cidadã Josephine Majani, que accionou judicialmente o hospital de Bugoma, a 400 quilómetros de Nairobi, por se ter considerado “negligenciada, humilhada e abandonada” depois de ter dado à luz. Durante o longo julgamento que decorreu durante mais de um ano, a queixosa acabou por receber uma indemnização de 25 mil dólares como recompensa por tudo o que passou.
Após a leitura da sentença, com o juiz a considerar como provadas todas as queixas apresentadas pela queixosa, ela disse acreditar que a decisão judicial forçará o Governo a tomar a atitude certa e a garantir que todas as mulheres tenham os cuidados de saúde materna necessários com respeito e dignidade. Em Setembro de 2013, Josephine Majani deu entrada no Hospital de Bungoma, mas como não havia camas vagas, deitou-se no chão. As enfermeiras encon- traram-na e começaram a dar-lhe estalos e a ofendêla verbalmente, porque estava a sujar o chão. Segundo ela contou durante o julgamento, obrigaram-na a levantar-se e a andar sem qualquer apoio até à sala de partos para ser examinada.
O bebé acabaria por nascer no chão do hospital e numa zona pública. Josephine Majani ainda apresentou queixa ao Conselho de Enfermeiras do Quénia, que decidiu a favor da unidade hospitalar, alegando que nada de mal foi feito. Foi então que ela decidiu levar o assunto à justiça, que acabou por lhe dar razão.
O caso desta queniana está muito longe de ser raro. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Quénia tem graves dificuldades em fazer com que o sistema de saúde materna e infantil funcione em condições.
Recentemente, a ministra da Saúde ordenou uma investigação ao Hospital Nacional Kenyatta, em Nairobi, por suspeita de abuso sexual a mulheres que foram mães. De acordo com várias denúncias, o pessoal auxiliar do hospital tirava fotografias de mulheres a darem à luz e quando elas estavam a fazer a sua higiene íntima. Segundo a imprensa queniana, os autores destas acções eram homens que trabalham no hospital e que se teriam aproveitado da fragilidade das parturientes para violarem a sua privacidade, postando depois as imagens nas redes sociais.
A directora do hospital, Lily Koros, já veio a público desmentir a informação, mas o facto é que a ministra da Saúde, Cleopa Mailu, ordenou um “rigoroso inquérito” para apurar o que se passou.
Operar o doente errado
Um terceiro caso revelado no espaço de uma semana não precisa de qualquer inquérito para ser confirmado, já que os diferentes intervenientes admitiram a sua responsabilidade no grave erro clínico que cometeram.
Num hospital de Nairobi uma enfermeira, Mary Wahome, reconheceu a culpa de enviar o doente errado para a sala de operações onde acabaria por ser submetido a uma delicada intervenção cirúrgica ao cérebro e em consequência da qual perdeu a memória.
O doente, cuja identidade foi omitida pelas autoridades, não necessitava de qualquer tratamento invasivo e o seu único erro foi o de ter levantado a mão na altura em que foi chamado o nome da pessoa que precisava mesmo de ser operada ao cérebro.
Segundo a enfermeira, o erro aconteceu quando uma colega sua foi ao quarto onde estavam quatro doentes e chamou pelo nome do que deveria ser operado. Este, nesse preciso momento tinha ido à casa de banho e um outro, ao ouvir chamar por um nome, terá levantado a mão induzindo assim Mary Wahome no erro.
O assunto foi devidamente analisado no Parlamento por uma comissão de inquérito questões sobre o atendimento.
As denúncias feitas pela Organização Mundial de Saúde sobre a prestação nos hospitais quenianos foram agora confirmadas pelas autoridades, após confrontarem o péssimo desempenho dos enfermeiros