Jornal de Angola

“A refeição tem sido à base de sopa”

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Embora não se denote tanto, Domingas solta as palavras e a mão direita com alguma dificuldad­e, devido a um AVC-Acidente Vascular Cerebral. Há seis meses em Luanda, Domingas está preocupada com a filha de 16 anos que também padece de problemas de coração. Caso fosse intervenci­onada, acredita que já teria trazido outras duas crianças para observação médica, como lhe foi recomendad­a pelo cardiologi­sta.

Os ossos, que separam a cabeça do tronco das mulheres, apresentam saliências de desespero. Falta tudo na vida destas mulheres até pão para saciar a fome. “Passamos o dia com fome. Não estamos a comer. A fome vai nos matar”, dizem em uníssono.

A refeição tem sido sopa. “De manhã tomamos sopa. Só voltamos a ter outra sopinha amanhã de manhã.”

Vamos ficar quanto tempo aqui, pergunta Domingas, que confessa haver por dia um enfermeiro de serviço, por falta de salário. “Eles dizem que não têm dinheiro para apanhar táxi”, explica Domingas. Mas Celina apoia-se ao pensamento de Domingas para dizer: “Os médicos dizem que não têm material para fazer cirurgias. Dizem que acabou o que tinham”.

Os cinco filhos de Domingas estão em Porto Amboim com o esposo. Veio a Luanda para três semanas conforme a promessa da médica. Não havendo solução no país, tem a sugestão de receber um relatório médico para tratar da doença no exterior, mas falta dinheiro. Domingas está desprovida de bens materiais para vender e viajar, como fez uma colega do quarto.

Celina descerra os punhos, atirando um olhar penetrante para o céu. Em seguida virase para o repórter e franze a testa, pigarreand­o. Faz um silêncio para deixar um suspense: “As outras doentes que recebem documentos para ir à Junta Nacional de Saúde estão a voltar de novo, porque também não têm dinheiro”.

Mal Celina se lembra de pacientes que morreram, nos últimos dias, à espera de uma cirurgia, Catarina reitera o apelo: “Paguem, por favor, aos médicos, também queremos viver...”

“Já sofremos muito, por que vão nos deixar morrer... Os nossos filhos ligam e dizem que têm fome, que não têm nada para

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