Combatem a imigração ilegal
Os habitantes da pequena Ilha Mayotte, um departamento de França situado no arquipélago das Comores, em plena costa africana, estão determinados a combater a imigração ilegal, alegando que isso afecta o funcionamento dos serviços básicos
Pela segunda vez no curto espaço de um mês, os habitantes da Ilha Mayotte, um departamento de França localizado no Oceano Índico, manifestaram-se contra a recente entrada de cerca de 100 imigrantes ilegais, alegando que isso afecta a sua habitual tranquilidade, aumenta-lhes as dificuldades económicas e exerce forte pressão sobre os serviços de saúde, educação e habitação.
Estes protestos visaram os imigrantes que chegaram das vizinhas Ilhas do arquipélago das Comores e de países africanos, especialmente de Moçambique.
Desde a realização dos primeiros protestos, a meio do mês passado, a ilha vive uma situação de alguma turbulência com a realização de numerosos manifestações populares e a colocação de postos de controlo onde a própria população identifica e detém esses eventuais imigrantes ilegais.
A ministra francesa responsável pela Ilha Mayotte, Annick Girardin, já condenou a situação dizendo não ser essa uma prática própria dos departamentos.
A mesma responsável adiantou que a população deve deixar a polícia fazer o seu trabalho, assegurando que estão a ser preparadas medidas para regularizar a situação de eventuais imigrantes ilegais que tenham conseguido entrar na ilha.
Mas a verdade é que, apesar destas palavras, a população deMayotte está intranquila e promete não abrandar a sua vigilância contra a imigração ilegal.
A semana passada registaram-se cenas de violência protagonizadas pela população em resposta a alegados crimes que teriam sido cometidos por alguns imigrantes que se haviam conseguido instalar na ilha.
Na ocasião, a senhora Girardin esteve no local e tentou negociar um acordo, sem sucesso, para que houvesse uma maior contenção por parte dos residentes de modo a que a Polícia pudesse efectuar o seu trabalho.
A população da Ilha Mayotte não acredita na Polícia, acusando-a mesmo de estar conivente com os imigrantes provenientes de alguns países africanos.
Espaço muito reduzido
A Ilha Mayotte, com 400 quilómetros quadrados de extensão, tem uma população avaliada em 250 mil pessoas e é parte integrante do arquipélago das Comores, uma antiga colónia francesa que se tornou independente em 1975. Porém, a Ilha Mayotte permaneceu sob domínio francês e em 2009 realizou um referendo que decidiu manter-se parte integrante da França devido, fundamentalmente, aos benefícios económicos que nunca podia ter visto não possuir uma produção industrial própria. No seguimento desse referendo, a Ilha Mayotte tornou-se em 2011 o 101º departamento do Estado francês. É um país predominantemente muçulmano, onde metade da população fala e lê em francês.
A ilha, comprada em 1841 pela França, passou a ter autonomia administrativa em 1946. O facto de se tornar oficialmente um departamento ultramarino preenche um desejo de longa data da maioria dos mahorais.
Em Novembro de 1958, os mahorais organizaram o primeiro congresso para pedir a inclusão. Esse desejo foi reiterado repetidas vezes e em 1975 a população votou contra a independência.
Em 1976, a permanência da ilha Mayotte como parte da República Francesa foi exigida, o que foi confirmado mais uma vez pelos mahorais em 1979.
O dinheiro francês já fluía para a ilha Mayotte mesmo antes da incorporação oficial. Mas agora, desde 2009, está também em vigor a legislação francesa, incluindo habitação social, salário mínimo e subsídio de desemprego.
Entre as Comores, Mayotte é considerada uma terra abençoada gozando de condições de vida bem melhores do que o resto do arquipélago.
Um em cada três habitantes de Mayotte é estrangeiro ou refugiado. Todos os anos, 24 mil ilegais são deportados. Por esse motivo, a França já enviou centenas de polícias para Mayotte, mas ao que parece ainda não conseguiram resolver a situação.