Jornal de Angola

Deus Existe!

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Os moradores passam dias terríveis, mas as noites são ainda piores, como refere Manuel Vieira, o auxiliar de dona Francisca. No meio de uma estrada bastante perigosa e a viver em casebres de chapas velhas, ele acredita “que só o Pai Celestial nos cuida aqui. Deus existe e Ele protege a nossa vida”.

Quando chove com ventos fortes ou de forma demorada, diz que a situação é também tenebrosa. Ninguém está seguro, uma vez que as casotas de chapas quase não suportam o temporal. “O que é bom é que as casas estão todas coladas, mas isso traz outra "maka". Nenhum casal aqui tem segredos da noite, porque o que se passa numa cubata todos os vizinhos ouvem”, brinca o morador.

As casas, umas coladinhas às outras, já foram vítimas de quase tudo, desde a invasão por ratazanas, despistes de veículos à vandalizaç­ão e roubos protagoniz­ados por jovens das zonas vizinhas. “A Polícia, sempre que nos queixamos dizem que nós somos os próprios bandidos”, lamenta Rita Miranda, enquanto mostra as marcas cravadas por uma faca, durante uma briga com um jovem que lhe quis sacar os pequenos bens que vendia na rua.

Quase 70 por cento do pessoal da Ilha Seca é desemprega­do, disse a coordenado­ra. Para sustentar as famílias, as senhoras dedicamse à recolha de latas e outros metais nas lixeiras e vendem a empresas de reciclagem, enquanto os homens, na sua maioria, lavam carros ou fazem serviço de moto táxi.

As crianças, quase todas, não estudam. “Levam a vida nas brincadeir­as aqui na estrada e com todos os riscos que resultam disso”, disse Manuel Vieira, para quem essa situação dos pequenos já provocou a morte de muitos deles, principalm­ente por atropelame­nto.

E, quando acontecem as mortes, são os vizinhos das casas ao lado que ajudam no enterro. Mas, lembra-se que, em tempos, os incêndios também levaram algumas vidas, sendo que a mais recente deu-se no ano passado, vitimando três pessoas da mesma família.

“Nesse caso, a Administra­ção do Zango ajudou a enterrar, mas tivemos dois irmãos daqui que foram deitados em vala comum, porque não tínhamos dinheiro para enterrá-los”, lembra.

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO Catarina Francisca é a coordenado­ra da Ilha Seca

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