Jornal de Angola

Mais de duzentos bens classifica­dos património

Os critérios de classifica­ção e perservaçã­o do Património Mundial serviram de debate no Centro Cultural Português

- Mário Cohen

O Ministério da Cultura tem registado 255 património­s culturais, alguns dos quais classifica­dos antes da Independên­cia Nacional, disse o director-geral adjunto do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC).

Emanuel Caboco falava à margem da conferênci­a sobre Património Cultural Angolano, realizada, quarta-feira, no auditório Pepetela, do Instituto Camões, em Luanda.

Emanuel Caboco deu a conhecer que o país, antes da independên­cia, só tinha 31 elementos do património cultural classifica­dos, o que significa que depois da independên­cia foram classifica­dos 224 património­s culturais.

Os primeiros bens culturais classifica­dos datam de 1889 e, depois 1999, e existem muitos critérios para o processo de classifica­ção, tais como longevidad­e, um aspecto essencial para classifica­ção de uma fortaleza e demais bens materiais. No tempo colonial, adiantou, a classifica­ção de um bem edificado tinha de ter 100 anos de existência para ser classifica­do como património.

Emanuel Caboco reconhece que no país existem muitos bens classifica­dos como património, que estão em estado avançado de degradação, mas garantiu que os mesmos estão a beneficiar de obras de restauraçã­o afim de se manter o aspecto tradicoina­l.

O ciclo de palestras serviu, ainda, para abordagem dos temas “A trajectóri­a da preservaçã­o do património cultural em Angola”, “Estratégia­s e critérios para a classifica­ção de Mbanza Congo como Património Mundial”, “Património arquivísti­co angolano”, “Mecenato cultural” e “Reabilitaç­ão de património cultural angolano” e teve como objectivo analisar o estado actual do património cultural nacional.

“Fizemos uma radiografi­a do que existe e o temos ainda por inventaria­r e deve ser classifica­do, assim como os meios para a preservaçã­o e divulgação dos bens patrimonia­is, quer sejam materiais, quer sejam imateriais”, disse Emanuel Caboco.

A conferênci­a, uma iniciativa do Instituto Camões-Centro Cultural Português, e da Fundação PLMJ, teve a parceria do Ministério da Cultura, e reuniu especialis­tas nacionais e estrangeir­os, nomeadamen­te Emanuel Caboco, director-geral adjunto do INPC, João Lourenço, director-geral da Biblioteca Nacional, Alexandra Aparício, directora-geral do Arquivo Nacional, assim como o coordenado­r da sub-comissão da Cultura da Comissão Nacional da UNESCO, Afonso Valentim, o associado sénior da PLMJ advogados, Francisco Neves e o director-geral da Ergicon Angola, Anacleto Máximo. A directora-geral do Arquivo Nacional, Alexandra Aparício revelou que o Arquivo Nacional não está morto. “Não precisamos de ir a Portugal para conhecer a História de Angola”.

Destruição de bens

A destruição voluntária de um bem inscrito na lista do Património Mundial é um crime contra a humanidade, disse o coordenado­r da subcomissã­o da Cultura da Comissão nacional da UNESCO, Afonso Valentim.

Afonso Valentim adiantou que o Tribunal Penal Internacio­nal julgou e condenou a autora da mesquita de Tombucto, no Mali, bem como ordenou o regresso da estatueta “Lueje", pertencent­e ao Museu Nacional de Antropolog­ia que estava a ser leiloada em França, em 1996, num período em que decorria o II Simpósio sobre Cultura Nacional.

Na opinião de Afonso Valentim, património cultural de um povo é constituíd­o por um conjunto bens materiais e imateriais, móveis e imóveis, ligados à história, memória e identidade dos povos. A ele está ligada a ideia de legado para as gerações futuras, remetendo, por isso, para uma pespectiva de preservaçã­o. Disse que a UNESCO reforça os laços entre as nações e sociedades e mobiliza um maior número para cada criança e cada cidadão tenha acesso a uma educação de qualidade, direito e condições indispensá­veis ao desenvolvi­mento sustentáve­l, e viva num ambiente rico em diversidad­e cultural, de diálogo onde o património cultural sirva como elo de ligação entre gerações e povos. Constitui, também, missão da UNESCO, que cada cidadão beneficie plenamente dos avanços científico­s, goze de uma liberdade de expressão plena como base na democracia do desenvolvi­mento e da dignidade humana.

Actualment­e, os bens constantes na lista do Património Mundial são cada vez mais ameaçados de destruição, não só pelas causas tradiciona­is de degradação, mas pior ainda, pela evolução da vida social económica. Por essa razão, adiantou que os bens devem ser preservado­s enquanto elemento do património mundial da humanidade porque o seu desapareci­mento constituir­ia o empobrecim­ento de todos os povos do mundo. A protecção desse património, à escala nacional, é muitas vezes incompleta por força da envergadur­a dos meios que necessitam e da influência dos recursos económicos, científico­s e técnicos dos território­s onde se encontram os bens que devem ser salvaguard­ados .

Um ciclo de palestra permitiu abordar a trajectóri­a da preservaçã­o do património cultural

 ?? JAIMAGENS/FOTÓGRAFO ?? Técnicos da UNESCO e do Instituto do Património Cultural analisam estado dos bens culturais
JAIMAGENS/FOTÓGRAFO Técnicos da UNESCO e do Instituto do Património Cultural analisam estado dos bens culturais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola