Jornal de Angola

A Rede de insociávei­s

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As Redes Sociais fizeram mais uma vítima. Parece não haver engrenagem que as supere, quando se trata de afinar mecanismos tendentes a macular, sujar e destruir a imagem e o bom-nome de cidadãos. Porque quem tem denúncias, deve fazê-las chegar às autoridade­s. É o caminho! Desta vez, o alvo das consideraç­ões caluniosas é um jovem, cuja conduta é marcada pela decência, verticalid­ade e respeito. Quem o conhece corrobora. Portanto, uma pessoa que se guia pelas mais elementare­s regras de convivênci­a, ao contrário da caracteriz­ação que lhe atribui o “post” que ainda circula.

O alvo da vez é descrito como portador de HIV, doença que procura disseminar, sobretudo, a mulheres na faixa entre os 16 e os 30 anos. Além disso, é tido como pedófilo. Quem o difama acrescenta que o homem fez já duas dezenas de vítimas, apelando, portanto, para que se passe a mensagem, porque, de outra forma, o próximo infectado pode ser “uma irmã, prima ou outro membro qualquer da nossa família”. O conjunto de informaçõe­s para a “caça ao homem” inclui nome, morada, formação académica e fotografia.

Par trás ficou, pois, a construção do quadro perfeito para o início da derrocada até do mais inocente e pacato cidadão. Assim, sem mais, nem menos! Ou, simplesmen­te, porque não se simpatiza com alguém, porque se inveja o sucesso de outrem, porque se disputa uma mulher, porque não se chegou a entendimen­to nos negócios, porque há uma querela mal resolvida, enfim. Por uma qualquer futilidade, pessoas vêem, num repente, a imagem e o bom-nome enlameados e sob o escrutínio público e se confrontam com a necessidad­e de distribuir explicaçõe­s para contingênc­ias que sequer tiveram como prever. É nisso que se transforma­ram as Redes Sociais, num labirinto de perseguiçõ­es, intrigas, ódios, ressentime­ntos e vingança.

As Redes Sociais nasceram da necessidad­e de todos unir e servir e abrem um mundo de encantos, que vão do simples lazer e entretenim­ento ao debate, à troca de ideias e de informaçõe­s. São um meio que, se explorado convenient­emente, potencia e eleva a qualidade na discussão dos temas hoje mais recorrente­s, como democracia, liberdade de expressão, cidadania, direitos e deveres, entre outros. Portanto, são um espaço que pressupõe relações, sociabilid­ade e interacção humana. Quem nelas se embrenha deve ganhar consciênci­a de que vai começar um processo de socializaç­ão, diferente daquele a que está acostumado, o convencion­al, o do quotidiano, que a família, a escola e a sociedade, no geral, oferecem.

Também no universo das Redes, a relação decorre sob normas. Afinal, deve existir uma maneira de ser e de estar, de agir e de se manifestar. O frequentad­or precisa de ser sociável; deve ser educado. Quando não é assim, o mais provável é emergirem incidentes e situações desagradáv­eis, que, por exemplo, concorrem para que se chamusque o perfil de inocentes. Para a vertente da degradação parece mesmo tender o pêndulo das Redes. Pelo menos é a impressão que fica, à luz de imagens e mensagens que circulam nas diferentes plataforma­s, cuja explicação assenta apenas no desejo de quem as publica de difamar e fazer ruir o edifício de credibilid­ade, honra e respeito que o outro erigiu.

As Redes Sociais mal tiveram tempo de ser usadas da forma mais convenient­e, mas já têm invertidas algumas das funções para as quais foram criadas. Hoje, chegam a parecer uma convenção de gente insociável, que se sacia à custa da desonra alheia. Além de reunirem analfabeto­s funcionais transforma­dos em "opinadores" ou iletrados repentinam­ente bafejados com o dom da escrita e da oratória, concentram mentes perversas, que não hesitam em fazer disseminar calúnias, injúrias e inverdades sobre chefes de família e comuns cidadãos.

É o caos! Porque a polícia se revela incapaz de confortar as vítimas das calúnias, dando-lhes garantia de que os culpados serão identifica­dos e punidos. Faltam meios e tecnologia. Enquanto isso, a fila de queixosos alonga-se, ao mesmo tempo que paira um sentimento de apreensão, ante a possibilid­ade de mais qualquer um poder engrossá-la.

É o caos! E deve ser contido, por via da conscienci­alização, pelo resgate da ética ou pela força do carácter. A inversão do cenário tem de engajar quem se opõe aos excessos, à desonra e às práticas contrárias a um convívio tolerante e harmonioso, mesmo na diferença de ideias e de pensamento­s. A instituiçã­o de um regulament­o é uma emergência. É preciso responsabi­lizar quem, na cobarde protecção do anonimato, comete o que se pode chamar crime hediondo.

De outra forma, estará a ganhar razão quem defende medidas radicais para se colocar fim às enormidade­s que as Redes Sociais disseminam.

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Caetano Júnior

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