Melhor é no Maculusso a pior está na Mutamba
A zona do Maculusso é em Luanda a melhor servida de restauração, enquanto no lado oposto está a zona da Mutamba, onde as excepções confirmam a regra.
A Baixa da capital parece atrair tudo de mau. A restauração não foge à regra. Como a querer fazer companhia ao estado das ruas e ao trânsito caótico
Pouco menos de um ano volvido sobre o início desta página dedicada à restauração de Luanda é tempo de fazer um balanço sobre os espaços que visitámos e nos levaram a concluir que a Baixa é, de longe, o local da cidade pior servido.
A conclusão é certamente a mesma da de qualquer luandense que, por circunstancias várias, come amiúde fora de casa e não se limita a fazê-lo apenas numa determinada zona da capital.
Leitor assíduo desta página pode afirmar que a restauração da cidade extravasa o número de casas de pasto que visitámos. Até, as áreas geográficas nas quais se inserem. É verdade, como também é dizer que jamais tivemos a veleidade de fazer deste espaço semanal um compêndio de gastronomia. Para isso era essencial termos conhecimentos maiores sobre cozinha e enologia. O objectivo principal sempre foi divulgar locais de comer e beber de várias categorias e, inclusivamente, especialidades.
Dentro das limitações, recordámos alguns dos restaurantes mais antigos da cidade e demos a conhecer outros. Sempre que se justificou, contamos, igualmente, as estórias dos bairros onde estão instalados, tal como dos proprietários, alguns deles herdeiros dos espaços. Como da “Vouzelense”, que, para já, vai na terceira geração...
No deambular gastronómico semanal, procuramos sempre pôr na “tribuna de honra” a cozinha angolana, nem sempre tão bem tratada como deve. Acima de tudo, a revelar falta de imaginação e a circunscrever-se, na esmagadora maioria dos casos, aos mesmos pratos. Ainda por cima, nem sempre bem confeccionados.
A nível de especialidades, escrevemos essencialmente sobre cozinha italiana e gelados. Naturalmente, como é óbvio, também sobre a nossa. Que somente tem um “reino a tempo inteiro”, a Funge House.
A página até agora foi ocupada maioritariamente por “restaurantes normais”, aqueles onde o cliente come sentado e é atendido à mesa, mas não esquecemos os com serviço exclusivo de “buffet”.
Ao leitor, demos a conhecer as “especialidades” de cada casa, pratos mais pedidos, aperitivos, digestivos, se têm cerveja à pressão, carta de vinhos, preços. Avaliação da confecção, tempo de espera, forma de atendimento, asseio do espaço e dos empregados mereceram sempre, como nos compete, atenção especial. Por entendermos que, com isso, apoiamos os verdadeiros empresários do sector e quem nos lê.
O trabalho de todos destes meses revelou-nos que o Maculusso é a zona melhor servida de restauração. Ao ponto de alguns dos seus piores espaços serem melhores do que a maioria dos da Baixa. A Ilha, onde também há bons restaurantes, parece ser “cada vez mais o mesmo”: local preferido de estrangeiros e de uma certa pequena burguesia nacional emergente.
A Vila Alice, que nunca teve tradição nos “comes e bebes” despertou e tem agora alguns dos melhores da cidade.
O bairro dos Coqueiros, em tempo visto como potencial área de boa restauração, parece ter estagnado.
Dos piores males da restauração da capital é o serviço de atendimento que deriva, em parte, de um empresariado também ele sem preparação para o ser. É, no fundo, “a pescadinha de rabo na boca”.
Luanda merece melhor restauração. E com isto não estamos a advogar a existência exclusiva de espaços luxuosos. Nada disso, as cidades também precisam de tascas, desde que se assumam como tal para não parecerem zungueiras de vestido de noite e salto alto. O importante é, independente da categoria de cada estabelecimento, não “vender gato por lebre”, asseio e simpatia.