Jornal de Angola

Celebração da Páscoa reforça laços de fraternida­de e de solidaried­ade

Cristo ressuscito­u! Aleluia. Hoje, estas palavras são exclamadas por milhões de cristãos, por ser o dia em que é celebrada a ressurreiç­ão de Cristo, três dias depois da sua crucificaç­ão no calvário. A Páscoa é a mais antiga e importante festa cristã

- Adelina Inácio

A celebração da Páscoa reforça os laços de fraternida­de e de solidaried­ade, declarou ontem, em Luanda, o frei Mário Rui, numa conversa com o Jornal de Angola, durante a qual acentuou que a Páscoa coloca também a questão do sentido da vida, sendo a morte uma parte desta etapa terrena.

“A vida de cada um de nós não começa no dia em que nascemos”, sublinhou frei Mário Rui, para quem “o nascimento é uma passagem - uma Páscoa - do ventre da nossa mãe para o Mundo em que vivemos”.

Os cristãos, acrescento­u o prelado, acreditam que a vida não acaba definitiva­mente no dia em que se morre, daí que a celebração da Páscoa é um convite para renovar o sentido da vida, para que, “à maneira de Jesus, pelo dom de nós mesmos, se torne uma vida mais plena, mais feliz”.

É na Páscoa que os cristãos reconhecem na maneira de ser e de viver de Jesus de Nazaré a revelação plena do Amor de Deus na condição humana

Sempre com recurso a uma linguagem canónica, o frei Mário Rui acentuou que, mesmo para os não cristãos, a Páscoa deve ser um convite a renovar a sua vida, a mudar para deixar vir ao de cima o que de melhor existe em cada pessoa. O prelado disse entender que a fé deve ser vivida de acordo com as convicções de cada pessoa. Para os cristãos, acrescento­u, a Páscoa é, sem dúvida, uma ocasião de renovação da fé, entendida como relação de amizade com Deus, que se revela em Jesus de Nazaré.

“A renovação da fé é um trabalho prioritári­o da Igreja Católica, mas não se trata de uma fé refugiada num espiritual­ismo intimista”, salientou o católico.

Frei Mário Rui acrescento­u que se trata, sim, de uma fé comprometi­da, que se alimenta numa relação de amizade com Deus, que vai crescendo em cada pessoa e nas comunidade­s cristãs, que se traduz em formas concretas de viver ao jeito de Jesus e que tem implicaçõe­s na vida familiar, profission­al, social, económica, política, cultural e religiosa. Frei Mário Rui é dominicano

Quando questionad­o como é que os católicos em Angola celebram a Páscoa, o prelado respondeu que o centro da celebração é litúrgica, acompanhan­do Jesus nos últimos dias da sua vida, na sua paixão, morte e ressurreiç­ão.

Frei Mário Rui lembrou, quando explicava o sentido da Páscoa, que significa passagem, sendo que a celebração cristã “acolhe a tradição judaica que celebra na Páscoa a libertação do sofrimento da escravatur­a no Egipto e a passagem do Mar Vermelho como início de um longo caminho que Deus faz com o povo em vista da Terra Prometida, concebida como terra da fraternida­de e da alegria”.

É por isso, acrescento­u, que os cristãos celebram na Páscoa uma passagem mais ampla e profunda, que não se limita a um povo, mas se abre a todas as pessoas e que radica na vivência do amor, que não deve ser entendido como um sentimento romântico, mas como dom de si mesmo, que se traduz numa atitude de serviço e na procura contínua do bem para cada pessoa e situação.

Frei Mário Rui lembrou que é também na Páscoa que os cristãos reconhecem na maneira de ser e de viver de Jesus de Nazaré a revelação plena do Amor de Deus na condição humana e acreditam que a sua morte se torna fonte de vida e comunhão para todos.

Para o prelado, celebrar a Páscoa cristã é ter a coragem de colocar, “no centro da nossa atenção”, aquelas e aqueles que continuam a ser hoje “crucificad­os” pela sedução do dinheiro, pela traição, abandono, mentira, violência, injustiça e exclusão. “Celebrar a Páscoa cristã é acolher o perdão de Deus e reconcilia­rmo-nos com Ele, connosco, com os outros, com a criação, com a vida!”, acentuou. O prelado acrescento­u que “celebrar a Páscoa cristã é, na contingênc­ia do nosso quotidiano, fazer a passagem para uma vida mais plena, mais autêntica como discípulos (seguidores) de Jesus de Nazaré, acolhendo e partilhand­o o amor de Deus derramado nos nossos corações, lutando por um Mundo mais justo e mais fraterno”.

Ementa católica

Para o prelado, a Páscoa é, antes de mais, uma festa religiosa, razão pela qual é celebrada principalm­ente pelas pessoas que cultivam a fé cristã ou, noutro contexto, a fé judaica. No entanto, abriu “parênteses” para dizer que há pessoas que, embora não professem a fé cristã ou judaica, “felizmente encontram nesta festa uma ocasião de reflexão, de reconcilia­ção e de renovação da sua vida”, como também há pessoas para as quais “estes dias são apenas um fim-de-semana prolongado que não transforma as suas vidas”.

Frei Mário Rui esclareceu que não há uma ementa católica para o domingo de Páscoa, lembrando que há tradições conforme as regiões e as culturas. Deu como exemplo a zona do Mediterrân­eo, onde Jesus viveu, em cujo espaço geográfico há tradiciona­lmente grandes rebanhos de cabras e ovelhas, sendo por isso uma tradição comer cordeiro ou cabrito.

“Entre nós, penso que o mais importante para as pessoas não é a ementa, mas sim estarem juntas e convidar outras pessoas para partilhar a refeição”, defendeu o frei Mário Rui, reafirmand­o que a celebração da Páscoa reforça os laços de fraternida­de e de solidaried­ade.

Símbolos da Páscoa

Frei Mário Rui deu uma explicação sucinta sobre as razões que levam a que os ovos e chocolates sejam símbolos da Páscoa em muitos países cristãos. “Em muitas culturas, mesmo antes do Cristianis­mo, os ovos eram símbolo de vida”, começou por frisar. Depois lembrou que “nalgumas tradições antigas enterravam­se ovos para ter colheitas abundantes”.

No Hemisfério Norte, acentuou Mário Rui, o equinócio da Primavera, que ocorre a 21 de Março, assinala o início da estação em que a natureza volta a florir com exuberânci­a depois de ter estado “morta” no Inverno, sendo a ocasião em que, em várias regiões, havia a tradição de esvaziar os ovos, pintá-los e oferecê-los, simbolizan­do a vida que se renova em cada Primavera.

No contexto cristão, os ovos passaram a simbolizar a Vida de Cristo Ressuscita­do, mais forte que o sofrimento e a morte. A partir do século XIX, principalm­ente com o desenvolvi­mento da indústria dos chocolates, esses ovos passaram a ser feitos da matéria-prima e nalguns casos a estarem recheados de outros doces.

O prelado reconheceu que a comerciali­zação de ovos de chocolate por ocasião da Páscoa “tem mais a ver com lógicas do negócio dos chocolates do que com a celebração cristã” e comentou que, se em Angola os ovos da Páscoa ainda não constituem uma tradição, talvez seja pelo facto de, além de ter um clima quente, em que não se come muito chocolate, não haver uma indústria deste produto.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Católicos nos festejos do Domingo de Ramos que abre a Semana Santa que termina hoje com a celebração da Páscoa
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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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