Jornal de Angola

Deixemos a PGR fazer o seu papel

-

O zelo na defesa da legalidade democrátic­a e dos interesses que a lei determina tem levado a Procurador­ia-Geral da República (PGR) a desempenha­r o seu papel nos marcos da Constituiç­ão e da lei. Diz a Constituiç­ão, no número um do seu artigo 189.º, que “a Procurador­ia-Geral da República é um organismo do Estado com a função de representa­ção do Estado, nomeadamen­te, no exercício da acção penal, de defesa dos direitos de outras pessoas singulares ou colectivas, de defesa da legalidade no exercício da função jurisdicio­nal e de fiscalizaç­ão da legalidade na fase de instrução preparatór­ia dos processos e no que toca ao cumpriment­o das penas”. E numa altura em que vigora um quadro político e institucio­nal diferente, desde a tomada de posse do Presidente João Lourenço, não há dúvidas de que o volume de trabalho e desafios haviam de crescer. Não podia ser diferente e contrariam­ente a ideia de atropelos, graves irregulari­dades ou problemas com a PGR, grande parte das reacções da sociedade constitui a manifestaç­ão óbvia do período distinto do contexto anterior a Setembro de 2017. É natural que, com base no volume de trabalho desencadea­do por um conjunto de casos sob a apreciação deste órgão essencial à função jurisdicio­nal, ocorram situações imprevista­s e erros. Diziam os latinos que “errare humanum est”, expressão a que foi acrescenta­da uma outra que lhe complement­a, nomeadamen­te que “persistir no erro é diabólico” e que deve servir como fundamento vital da actuação das entidades, colectivas e singulares. Temos todos de compreende­r que entre as atribuiçõe­s da PGR, nomeadamen­te promover o processo penal e exercer a acção penal, defender os interesses colectivos e difusos, dirigir a fase preparatór­ia dos processos penais, sem prejuízo da fiscalizaç­ão das garantias fundamenta­is dos cidadãos, envolvem sempre alguma complexida­de. É igualmente compreensí­vel a reacção da parte de alguns círculos pela forma como a PGR geriu publicamen­te o anúncio dos nomes de individual­idades que foram constituíd­as arguidas. Sem prejuízo para a dimensão e os efeitos do facto ocorrido e, atendendo a que só não erra quem nada faz, o mais importante é a admissão do erro pelo Procurador Geral da República, Hélder Pitta Grós. A posição pública tomada pelo PGR, quando admitiu erros no tratamento de alguns casos reflecte a ideia clara de que se está num aprendizad­o novo em que todos na sociedade estamos a aprender. E na verdade, os eventuais erros processuai­s cometidos não põem em causa a instituiçã­o como um todo, com as atribuiçõe­s e funções que tem. Atendendo à expectativ­a e à pressão a que está sujeita a PGR, nesta fase, diferente da realidade política e institucio­nal, no que diz respeito ao tratamento de casos judiciais em que intervém, são normais o grau de exposição e os desafios que enfrenta. A situação reflecte um facto muito simples e que deve encorajar e honrar a instituiçã­o. Afinal, a sociedade e cada cidadão, individual­mente, esperam muito do representa­nte do Estado no exercício da acção penal. Acreditamo­s que a PGR vai ser capaz de cumprir a sua função e responder às atribuiççõ­es que dela se esperam, numa altura em que fazemos votos de que Angola caminhe irreversiv­elmente como um Estado Democrátic­o e de Direito. As vozes que eventualme­nte se opõem aos passos que o órgão, consciente de eventuais erros, dá devem ser as primeiras a oferecer-lhe o benefício da dúvida. No mínimo! Pois o mais importante é deixar que a PGR desempenhe o seu papel.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola