Abordagem da situação empresarial divide duas principais associações
Apesar de concordarem em determinados aspectos, as duas principais associações empresariais angolanas divergem na forma como são colocadas publicamente as questões relacionados com os interesses da classe
A Associação Industrial de Angola (AIA) considera “fora do espírito do associativismo e de parceria com o Executivo” a carta aberta dirigida ao Presidente da República, há aproximadamente três semanas, pela Confederação Empresarial de Angola, onde se levantam, entre outras questões, o ambiente de negócios reinante no país.
Em declarações ao Jornal de Angola, o presidente da AIA, José Severino, acusa o presidente da Confederação Empresarial de Angola, Francisco Viana, de pretender, com a iniciativa, escamotear a existência do Conselho Nacional de Concertação Social chefiado pelo Chefe de Estado, onde já esteve e “nada disse” do que se escreveu no abaixo assinado que promoveu.
“A situação económica do país é difícil e todos sabem o que se passa com o sector empresarial. Mas, entendemos que é preciso serenidade na procura de soluções”, disse José Severino, que se mostrou “admirado” por, alegadamente, não encontrar no abaixo assinado propostas para a resolução dos problemas nele levantados.
Convidada por Francisco Viana a juntar-se ao abaixo assinado subscrito por mais de trinta organizações empresariais, a AIA recusou-se a fazê-lo, considerando a sua publicação na imprensa “um passo em falso”.
Em resposta ao presidente da Confederação Empresarial de Angola, José Severino manifesta solidariedade com as preocupações levantadas, lamentando, no entanto, não poder corroborar com a forma como são colocadas, como que a “ilibar o Poder das suas responsabilidades na matéria”.
“O Chefe de Estado não precisa de ser adulado, quando se sabe que quem adulou o anterior corre o risco de ser mal entendido”, escreveu José Severino, em resposta a Francisco Viana.
Na carta ao Presidente da República, a Confederação Empresarial de Angola afirma que “continuamos a verificar a prevalência de um mau ‘ambiente de negócios’, que se está a agravar a cada dia que passa, levando ao encerramento milhares de empresas e outras tantas à paralisação”, com consequências nos índices de desemprego.
Apesar de reconhecer que “o Governo de Angola tem vindo a aumentar o seu esforço de auscultação ao sector privado”, os subscri- tores do documento defendem a criação de um conselho de auscultação e concertação económica e empresarial “capaz de institucionalizar o diálogo e a concertação entre o Governo e o sector privado”.
Razões da controvérsia
Uma das questões levantadas no abaixo assinado, objecto de controvérsia entre José Severino e Francisco Viana, é o “Programa do Governo para Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações”, vulgo “PRODESI”, que a Confederação Empresarial de Angola considera que peca pela falta de concertação com os empresários, no sentido de se identificarem, ao detalhe, as tarefas das partes, apesar de assentar em ideias boas e de ter merecido a auscultação do sector privado.
Neste particular, José Severino diz não ver nenhum associativismo em menosprezar o PRODESI, quando se sabe que as associações empresariais participaram em oito encontros convocados pelo Executivo para discutir o programa.
Depois de pôr em circulação o abaixo assinado, Francisco Viana colocou em agenda os assuntos levantados no documento para abordagens em separado com partidos políticos com e sem assento parlamentar, tendo se encontrado já com as lideranças da UNITA e da CASA-CE.
Sobre encontros com partidos políticos, José Severino diz que, para a Associação Industrial de Angola, eventuais consultas à classe política são perfeitamente normais, desde que sejam feitas a nível das bancadas parlamentares. “Fora disso, não é nosso modelo”, sustentou.
Contra-acusações
José Severino acusa Francisco Viana de pretender ser o “porta-voz dos empresários angolanos”, quando se sabe que em assuntos vitais como o da falência e pilhagem da Feira Internacional de Luanda (FILDA) “nunca disse uma palavra”.
O presidente da AIA pergunta a Francisco Viana o que dizer das suas “manifestações externas de riqueza, com um palacete em seu nome em Luanda a “Casa Viana” e vários terrenos comercializáveis.
Em resposta, Francisco Viana afirma que José Severino “está mais preocupado em proferir ataques pessoais do que debater questões importantes que devem ser, neste momento, a prioridade da Nação”
“Não tenho nenhum palacete. Tenho uma casa normal para um homem de 60 anos, que passou a vida a trabalhar, construída por mim, com materiais locais e com mão de obra angolana”, disse, para rebater a acusação de ostentação de riqueza.
“O Chefe de Estado não precisa de ser adulado, quando se sabe que quem adulou o anterior corre o risco de ser mal entendido”, escreveu José Severino, em mensagem dirigida a Francisco Viana
Francisco Viana afirma que José Severino “está mais preocupado em proferir ataques pessoais do que debater questões importantes que devem ser, neste momento, a prioridade da Nação”
Sobre a “Casa Viana”, afirmou tratar-se de um projecto cultural, criado por ele e que cresce ao longo dos anos, à medida dos recursos. “Como fazem pessoas com poucos recursos: hoje uma sala, amanhã o ar condicionado, depois o tecto falso e assim por diante”, explicou.
Quanto à questão da FILDA, Francisco Viana disse ter-se colocado de fora por se tratar de um processo que envolve roubos e desvios. “Onde vejo larápios, procuro afastar-me e deixar a justiça actuar”, afirmou.
Ainda em relação à FILDA, Francisco Viana foi mais longe, ao ponto de afirmar que José Severino “está envolvido nesse caso e a justiça já se pronunciou sobre o assunto”. De resto, continuou, “é só uma questão de tempo”.