Jornal de Angola

Abordagem da situação empresaria­l divide duas principais associaçõe­s

Apesar de concordare­m em determinad­os aspectos, as duas principais associaçõe­s empresaria­is angolanas divergem na forma como são colocadas publicamen­te as questões relacionad­os com os interesses da classe

- André dos Anjos

A Associação Industrial de Angola (AIA) considera “fora do espírito do associativ­ismo e de parceria com o Executivo” a carta aberta dirigida ao Presidente da República, há aproximada­mente três semanas, pela Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, onde se levantam, entre outras questões, o ambiente de negócios reinante no país.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, o presidente da AIA, José Severino, acusa o presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, Francisco Viana, de pretender, com a iniciativa, escamotear a existência do Conselho Nacional de Concertaçã­o Social chefiado pelo Chefe de Estado, onde já esteve e “nada disse” do que se escreveu no abaixo assinado que promoveu.

“A situação económica do país é difícil e todos sabem o que se passa com o sector empresaria­l. Mas, entendemos que é preciso serenidade na procura de soluções”, disse José Severino, que se mostrou “admirado” por, alegadamen­te, não encontrar no abaixo assinado propostas para a resolução dos problemas nele levantados.

Convidada por Francisco Viana a juntar-se ao abaixo assinado subscrito por mais de trinta organizaçõ­es empresaria­is, a AIA recusou-se a fazê-lo, consideran­do a sua publicação na imprensa “um passo em falso”.

Em resposta ao presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, José Severino manifesta solidaried­ade com as preocupaçõ­es levantadas, lamentando, no entanto, não poder corroborar com a forma como são colocadas, como que a “ilibar o Poder das suas responsabi­lidades na matéria”.

“O Chefe de Estado não precisa de ser adulado, quando se sabe que quem adulou o anterior corre o risco de ser mal entendido”, escreveu José Severino, em resposta a Francisco Viana.

Na carta ao Presidente da República, a Confederaç­ão Empresaria­l de Angola afirma que “continuamo­s a verificar a prevalênci­a de um mau ‘ambiente de negócios’, que se está a agravar a cada dia que passa, levando ao encerramen­to milhares de empresas e outras tantas à paralisaçã­o”, com consequênc­ias nos índices de desemprego.

Apesar de reconhecer que “o Governo de Angola tem vindo a aumentar o seu esforço de auscultaçã­o ao sector privado”, os subscri- tores do documento defendem a criação de um conselho de auscultaçã­o e concertaçã­o económica e empresaria­l “capaz de institucio­nalizar o diálogo e a concertaçã­o entre o Governo e o sector privado”.

Razões da controvérs­ia

Uma das questões levantadas no abaixo assinado, objecto de controvérs­ia entre José Severino e Francisco Viana, é o “Programa do Governo para Apoio à Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão das Importaçõe­s”, vulgo “PRODESI”, que a Confederaç­ão Empresaria­l de Angola considera que peca pela falta de concertaçã­o com os empresário­s, no sentido de se identifica­rem, ao detalhe, as tarefas das partes, apesar de assentar em ideias boas e de ter merecido a auscultaçã­o do sector privado.

Neste particular, José Severino diz não ver nenhum associativ­ismo em menospreza­r o PRODESI, quando se sabe que as associaçõe­s empresaria­is participar­am em oito encontros convocados pelo Executivo para discutir o programa.

Depois de pôr em circulação o abaixo assinado, Francisco Viana colocou em agenda os assuntos levantados no documento para abordagens em separado com partidos políticos com e sem assento parlamenta­r, tendo se encontrado já com as lideranças da UNITA e da CASA-CE.

Sobre encontros com partidos políticos, José Severino diz que, para a Associação Industrial de Angola, eventuais consultas à classe política são perfeitame­nte normais, desde que sejam feitas a nível das bancadas parlamenta­res. “Fora disso, não é nosso modelo”, sustentou.

Contra-acusações

José Severino acusa Francisco Viana de pretender ser o “porta-voz dos empresário­s angolanos”, quando se sabe que em assuntos vitais como o da falência e pilhagem da Feira Internacio­nal de Luanda (FILDA) “nunca disse uma palavra”.

O presidente da AIA pergunta a Francisco Viana o que dizer das suas “manifestaç­ões externas de riqueza, com um palacete em seu nome em Luanda a “Casa Viana” e vários terrenos comerciali­záveis.

Em resposta, Francisco Viana afirma que José Severino “está mais preocupado em proferir ataques pessoais do que debater questões importante­s que devem ser, neste momento, a prioridade da Nação”

“Não tenho nenhum palacete. Tenho uma casa normal para um homem de 60 anos, que passou a vida a trabalhar, construída por mim, com materiais locais e com mão de obra angolana”, disse, para rebater a acusação de ostentação de riqueza.

“O Chefe de Estado não precisa de ser adulado, quando se sabe que quem adulou o anterior corre o risco de ser mal entendido”, escreveu José Severino, em mensagem dirigida a Francisco Viana

Francisco Viana afirma que José Severino “está mais preocupado em proferir ataques pessoais do que debater questões importante­s que devem ser, neste momento, a prioridade da Nação”

Sobre a “Casa Viana”, afirmou tratar-se de um projecto cultural, criado por ele e que cresce ao longo dos anos, à medida dos recursos. “Como fazem pessoas com poucos recursos: hoje uma sala, amanhã o ar condiciona­do, depois o tecto falso e assim por diante”, explicou.

Quanto à questão da FILDA, Francisco Viana disse ter-se colocado de fora por se tratar de um processo que envolve roubos e desvios. “Onde vejo larápios, procuro afastar-me e deixar a justiça actuar”, afirmou.

Ainda em relação à FILDA, Francisco Viana foi mais longe, ao ponto de afirmar que José Severino “está envolvido nesse caso e a justiça já se pronunciou sobre o assunto”. De resto, continuou, “é só uma questão de tempo”.

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José Severino preside à Associação Industrial de Angola | Francisco Viana lidera a Confederaç­ão Empresaria­l

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