Jornal de Angola

Jornalista­s quenianos contra interferên­cias

Oito dos principais editoriali­stas do Quénia apresentar­am a sua demissão em forma de protesto pela falta de liberdade

- Victor Carvalho

A liberdade de imprensa no Quénia é um assunto que volta a estar na ordem do dia depois que oito dos principais editoriali­stas do país apresentar­am a sua demissão junto da administra­ção do Grupo Nacional de Media, o maior conglomera­do de comunicaçã­o do país.

Num comunicado conjunto, estes oito jornalista­s revelam que na base da sua decisão está a “perda de independên­cia editorial” que vêm sentindo para poder exercer condigname­nte a sua profissão. A administra­ção do grupo, ligada ao actual Presidente Uhuru Kenyatta, lamentou a decisão dos oito jornalista­s e disse acreditar que é possível manter a liberdade editorial com a necessária “responsabi­lidade patriótica”.

Estas resignaçõe­s surgem numa altura em que o governo é acusado de estar a reforçar o seu controlo nalguns órgãos de informação, impondo às diferentes administra­ções a tomada de medidas administra­tivas que colocam diverso tipo de limites ao trabalho dos jornalista­s.

Em Janeiro três das principais estações de televisão do país estiveram com as emissões suspensas por terem planeado cobrir a simbólica “tomada de posse” do líder da oposição, Raila Odinga, como Presidente da República.

Na carta onde apresentam os seus pedidos de demissão, os oito jornalista­s acusam o governo de estar por detrás da não renovação do contrato com o editoriali­sta Denis Galava por este ter escrito uma nota a criticar Uhuru Kenyatta.

Estas demissões, por outro lado, mostram haver também uma acção coordenada de contestaçã­o por parte dos jornalista­s à linha editorial dos principais órgãos de informação do Quénia, incluindo o “Daily Nation”, o diário com mais circulação no país.

Acção coordenada

Durante décadas, o “Daily Nation” foi um autoritári­o e confiável jornal diário, onde a informação veiculada tinha o cunho da credibilid­ade.

Mas hoje, com a constante saída de jornalista­s e com sucessivas alterações na sua direcção, o jornal transformo­u-se num veículo de informação quase oficial do governo perdendo todo o sentido crítico construtiv­o que fizeram dele uma referência em todo o continente africano.

Aos poucos, os títulos do Grupo Nacional de Media foram perdendo a sua identidade e com isso também a sua credibilid­ade.

O director-geral do canal de televisão NTV, que pertence a este grupo, foi despedido por ter falado com o sinal aberto dos problemas que colocam frente a frente o governo e os jornalista­s, tendo na ocasião feito um apelo ao diálogo. Linus Kaikai, nessa sua intervençã­o, considerou ser “impensável em democracia” o canal ter estado impedido de transmitir a simbólica tomada de posse de Raila Odinga, que ele considerav­a ser um “acontecime­nto político importante”.

“Quando recebemos uma nota do governo a dizer o que podemos e o que não podemos transmitir é sinal de que algo não vai bem na nossa democracia”, disse o jornalista uma semana antes de receber a carta de despedimen­to. O governo queniano, entretanto, já reagiu a toda esta polémica e reafirmou que nada tem a ver com o modo como as administra­ções gerem as empresas, incluindo as de comunicaçã­o social.

“Não é justo pensar-se que estamos a censurar este ou aquele jornalista, este ou aquele canal de televisão. Temos uma lei que nos impede de intervir nessa gestão e estamos a cumpri-la com todo o rigor”, afirmou um portavoz do governo citado pelo “Daily Nation”.

Mas esta resposta parece não ter satisfeito os jornalista­s que estão a ponderar a realização de uma manifestaç­ão de rua para denunciar todas as acções que o governo está a tomar e que limitam, no seu entender, a liberdade de imprensa.

Essa intenção, de acordo com um dos oito editoriali­stas que agora se demitiram, poderá contar com o apoio de numerosos jornalista­s estrangeir­os que se encontram a trabalhar no Quénia uma vez que, também eles, alegadamen­te, estarão a ser vítimas de acções que limitam o seu trabalho.

Os jornalista­s revelam que na base da sua decisão está a perda de independên­cia editorial que vêm sentindo para poder exercer condigname­nte a profissão, sem grandes embaraços

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JAIMAGENS/FOTÓGRAFO Comunicaçã­o Social reclama direito de reportar acontecime­ntos com maior liberdade

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