Síria e aliados em alerta após ameaças dos EUA
Clima de alta tensão preocupa o Secretário-Geral da ONU que pede uma investigação imparcial ao ataque químico
As forças governamentais sírias e seus aliados estão em alerta máximo perante a iminência de um ataque norte-americano ao país, depois de os Estados Unidos terem afirmado que estudam opções para dar resposta ao alegado ataque químico de sábado último em Douma, atribuído ao Exército da Síria e aliados.
Perante uma possível retaliação vinda dos Estados Unidos, tendo a Rússia afirmado que tal não será tolerado, as tropas sírias começaram a tomar medidas preventivas nas suas bases militares. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos disse que as tropas estão em alerta máximo e que estão a fortificar as suas posições.
Além disso, diz a Associated Press, combatentes iranianos e membros do Hezbollah libanês, que estão na Síria a combater ao lado das forças governamentais, abandonaram as suas posições na zona de Boukamal, perto da fronteira com o Iraque.
As precauções tomadas pela Síria, Rússia e Irão começaram a ganhar força depois de uma reunião tensa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde Moscovo e Washington trocaram acusações. Além disso, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, reiteraram que estão a trabalhar em conjunto. O líder francês falou em ripostar caso sejam ultrapassadas “linhas vermelhas”, ao passo que Trump, disse que o “animal” Assad vai prestar contas pelo ataque químico, investigado pela Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), que causou mais de 40 mortos em Douma.
Donald Trump advertiu segunda-feira que não exclui a possibilidade de uma intervenção militar na Síria após o alegado ataque químico no sábado, na zona de Ghouta oriental, nos arredores da cidade de Damasco.
A Rússia, aliada do Governo do Presidente sírio, Bashar al-Assad, e que tem negado as acusações de um ataque químico contra civis, advertiu, por seu turno, Washington das “graves consequências” de uma acção militar.
Activistas da oposição síria afirmaram que pelo menos 40 pessoas, entre as quais várias crianças, morreram no sábado à noite na sequência de um aparente ataque químico contra Douma, o último bastião rebelde em Ghouta Oriental, nos arredores de Damasco.
Segundo a organização não-governamental “Capacetes Brancos”, dedicada ao resgate de vítimas das zonas sob controlo dos rebeldes, o alegado ataque químico foi conduzido pelas forças leais ao Presidente Bashar al-Assad.
China pede contenção
A China advertiu ontem os Estados Unidos de que a via militar na Síria “não leva a lugar algum” e pediu contenção para se evitar a escalada da tensão.
“O acordo político é a única saída. Os meios militares não nos levarão a lugar algum”, disse um portavoz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, numa conferência de imprensa na capital chinesa.
Pequim pediu que se aguarde o resultado de uma investigação “exaustiva e imparcial, baseada em métodos científicos e provas sólidas que determine que se tratou de um ataque químico”.
Geng Shuang já tinha considerado na segunda-feira que o Conselho de Segurança da ONU e a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) deviam ser “os principais canais” para acompanhar o caso.
Por seu lado, o Secretário-Geral da ONU, que afirmou estar indignado com o alegado ataque químico cometido no sábado contra a cidade rebelde de Douma, na Síria, apelou à realização de uma investigação imparcial e com acesso irrestrito.
Numa declaração citada pelas agências internacionais, António Guterres frisou que caso se confirme o uso de armas químicas, tal situação representa uma violação do Direito Internacional.
“Qualquer uso confirmado de armas químicas, não importa qual seja a facção do conflito e as circunstâncias, é hediondo e uma violação flagrante do Direito Internacional”, declarou o Secretrário-Geral da ONU.
“A gravidade das recentes alegações exige uma investigação profunda, com uma análise imparcial, independente e profissional”, acrescentou o Secretário-Geral das Nações Unidas, numa referência a uma investigação conduzida pela OPAQ, com acesso irrestrito para os investigadores internacionais.
A Síria vive um drama humanitário perante um conflito de mais de oito anos que já fez pelo menos 511 mil mortos, incluindo 350 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados.
Porta-voz do Governo chinês afirma que um acordo político é a única saída para a solução da crise na Síria e que “os meios militares não levarão a lugar algum”