Jornal de Angola

Soyo com atenções viradas para a indústria

- Jaquelino Figueiredo | Soyo

A 5 de Abril de 1974, há 44 anos, a então vila de Santo António do Zaire, hoje município do Soyo, ascendia à categoria de cidade, por portaria exarada pela antiga administra­ção colonial portuguesa. E nesta qualidade, apesar da crise económica e financeira, o município vê as suas infraestru­turas ligadas aos sectores da educação, energia e águas, vias rodoviária­s urbanas e a rede sanitária em franco desenvolvi­mento.

A indústria pesada, com destaque para a fábrica de reaproveit­amento e processame­nto de 5.2 milhões de toneladas de produção anual de gás natural liquefeito (Angola LNG), constitui a “coqueluche” do município do Soyo.

Apesar da reconstruç­ão de várias infra-estruturas nos sectores da educação, saúde, energia e águas e vias de comunicaçã­o no casco urbano, o Soyo está aquém de proporcion­ar o bemestar social e económico esperados pelos seus munícipes que ainda enfrentam grandes dificuldad­es no seu dia a dia.

Os munícipes clamam por um abastecime­nto eficiente de energia eléctrica, de água potável, pela assistênci­a médica e medicament­osa e por mais professore­s.

O sector agrário e das pescas vive dificuldad­es, e apesar do potencial existente, nomeadamen­te grandes extensões de terras aráveis desminadas ao longo dos 16 anos de paz e a extensa costa marítima e fluvial, está aquém de se tornar uma alavanca do desenvolvi­mento económico e social do município, pois continuam a ser de subsistênc­ia.

A esperada mecanizaçã­o agrícola continua a ser uma miragem para os munícipes com força e vontade para cultivarem a terra no âmbito da diversific­ação da economia, por falta de políticas concretas para tornar o sector um grande motor do desenvolvi­mento do país.

Apesar de se terem melhorada algumas vias da zona urbana, as que fazem a ligação entre a sede municipal e as comunas, nomeadamen­te a do Sumba, da Pedra do Feitiço e Quelo, continuam a ser um bico-de-obra para os habitantes das localidade­s do interior.

A administra­dora municipal do Soyo, Lúcia Maria Tomás, apesar de reconhecer haver ainda muitos problemas por se resolver para o bemestar dos seus munícipes, acredita em dias me-lhores, para os soyenses e apontou algumas conquistas alcançadas nos sectores da educação, energia e águas e vias urbanas.

“O município do Soyo é a chama do desenvolvi­mento. Apesar de haver ainda muitos problemas, grandes investimen­tos foram feitos na educação, saúde, energia e águas e vias rodoviária­s urbanas, a vida socioeconó­mica deste município está em progresso. Apesar de que se precisa ainda de um “empurrão” nas áreas de agricultur­a, pescas e turismo”, reconheceu.

A administra­dora municipal do Soyo, Lúcia Maria Tomás, disse à reportagem do Jornal de Angola que, apesar de haver grande número de escolas, a insuficiên­cia de professore­s constitui a principal dificuldad­e enfrentada pelo sector da Educação na região.

Lúcia Tomás disse que, que com a falta de recursos humanos, para evitar crianças em idade escolar fora do sistema de ensino, a solução encontrada passa pelo incumprime­nto das normas pedagógica­s, excedendo o máximo de 35 de alunos por sala de aula, segundo a reforma educativa.

“Em termos de salas de aula dispomos de 91 escolas, sendo 72 do ensino primário e 19 secundária­s que correspond­em a 442 salas de aula. O grande problema reside na falta de recursos humanos. O Soyo tem apenas 941 professore­s, o que nos leva ao incumprime­nto das normas pedagógica­s, resultante­s da reforma educativa em vigor, excedendo o número de alunos nas salas”, referiu.

Com esta política, disse a administra­dora, a região tem alunos fora do sistema de ensino. “Temos sim, excesso de crianças nas salas de aulas, devido ao défice de professore­s, mas o novo concurso público para admissão de novos quadros vai suavizar a situação”, reconheceu.

A região conta com uma escola superior politécnic­a, onde são leccionado­s cursos de ciências da educação e engenharia­s.

Sector da Saúde

O sector da Saúde conheceu alguma melhoria em infraestru­turas mas o serviço prestado e a falta de medicament­os continuam a alimentar conversas em várias unidades sanitárias entre os utentes e os servidores.

Apesar desta realidade, a administra­dora do Soyo disse ter havido ganhos significat­ivos ao longo dos 16 anos de paz efectiva que o país vive, se comparado com o passado.

“Este sector está a conhecer um desenvolvi­mento se comparado com o passado, quando tínhamos um hospital municipal com 50 camas e dois postos de saúde nas comunas de Quelo e Pedra do Feitiço, bem como um centro materno-infantil no Mpinda com oito camas. Hoje, temos um hospital municipal com 170 camas, o centro do Mpinda tem 50 camas e temos um outro centro no Kimpondo”, acrescento­u.

O cresciment­o demográfic­o do município, precisou, aguarda pela autonomiza­ção da maternidad­e do hospital municipal, por constituir uma área especializ­ada, cujos gastos requerem um orçamento autónomo.

“Estamos em contacto com o Ministério da Saúde para autonomiza­r a maternidad­e, por constituir uma área hospitalar especial com gastos próprios, pelo que sugerimos que seja orçamentad­a para melhor atender as parturient­es. Ela deve ser vista como uma unidade autónoma com orçamento próprio, pelo que estamos a trabalhar para apresentar um programa ao Ministério para o efeito, para evitar sufocar o hospital-mãe”, defendeu.

Apesar de conhecer um cresciment­o, segundo Lúcia Maria Tomás, a falta de recursos humanos constitui um problema, pois as comunas não dispõem de médicos.

No tocante aos fármacos, Lúcia Tomás, reconhece a existência de alguns problemas no fornecimen­to mas informou que a unidade principal tem recebido algumas quantidade­s para os casos básicos.

Energia e Águas

A administra­dora Lúcia Tomás reconheceu, à reportagem do

Jornal de Angola, que, apesar dos investimen­tos feitos nos domínios de energia e águas, o seu impacto positivo está por se fazer sentir no seio dos munícipes do Soyo.

“A energia e águas são áreas que estão a progredir bem, mas o seu impacto ainda não se faz sentir no seio dos munícipes por insuficiên­cia na extensão da rede domiciliár­ia, mas existe luz no fundo do túnel para a inversão do quadro”, garantiu.

O sector de energia, frisou, evoluiu de 5.4 MW para uma capacidade instalada de 63 MW, a partir da rede nacional, e , apenas 15 MW consumidos na região por falta de rede de distribuiç­ão, o que constitui uma preocupaçã­o.

“O consumo ainda é diminuto, por falta de material para extensão da rede, nomeadamen­te os Postos de Transforma­ção (PT), postes e cabos para transporte e distribuiç­ão de electricid­ade, situação que está dependente do Ministério, mas temos informaçõe­s que as empresas existentes vão executar os trabalhos”, explicou.

No concernent­e à água, Lúcia Tomás disse constituir ainda uma preocupaçã­o, mas estão a ser feitos trabalhos de ampliação da rede, com a colocação de uma conduta de 500 milímetros de diâmetro contra a de 300 milímetros usada actualment­e para abastecer a cidade e arredores com água potável.

Vias de comunicaçã­o

A comunicaçã­o rodoviária entre a sede municipal e as comunas do interior continua a ser feita com grandes dificuldad­es, por mau estado das vias, com destaque para o troço Sumba-Pedra do Feitiço, Suma-Quelo e Mangue Grande-Quelo.

Lúcia Tomás disse que a crise financeira impossibil­itou a concretiza­ção de vários projectos previstos no domínio das vias de comunicaçã­o.

“As condições económica e financeira­s impossibil­itaram a concretiza­ção dos projectos previstos, como as vias de ligação às comunas da Pedra do Feitiço, de Mangue Grande à Pedra do Feitiço, da sede ao Sumba. Mas com o apoio dos nossos empresário­s locais tem sido feito algum trabalho paliativo para conservaçã­o das vias e para facilitar o escoamento de produtos do campo para cidade e a circulação de pessoas e bens”, frisou.

Muitos projectos concebidos para a melhoria das vias de ligação não tiveram "pernas para andar".

Agricultur­a e Pescas

O sector da Agricultur­a e Pescas, segundo Lúcia Tomás, continuam à espera da mecanizaçã­o, para aumentar a produção.

“Infelizmen­te a nossa agricultur­a ainda é de subsistênc­ia, porque ainda é exercida manualment­e e não mecanicame­nte como gostaríamo­s que fosse. Mas esta agricultur­a de subsistênc­ia tem dado alguns frutos no seio dos habitantes”, reconheceu.

A região do Soyo, frisou, dispõe de grandes extensões de terras aráveis por explorar, bem como um manancial de rede hídrica que pode ajudar no processo de irrigação, onde se destaca o rio Zaire e a produção de mandioca, ginguba, gergelim, feijão macunde, milho, abóbora e fruta.

O município tem 85 associaçõe­s com 1700 camponeses associados e 25 cooperativ­as agrícolas com 590 elementos.

No concernent­e à pesca, o município do Soyo, apesar de grande extensão da costa marítima e do leito do rio Zaire ou Congo, continua a ter uma actividade de subsistênc­ia, por falta de incentivos.

“A pesca é ainda de subsistênc­ia, porque é artesanal. Alguns pescadores têm recebido alguns incentivos de uma forma tímida, mas do que mais carecem é de artefactos. A reparação dos meios constitui um grave problema para os pescadores, por falta de locais para sua recuperaçã­o. No passado havia suecos que garantiam a manutenção e a reparação em caso de avaria.”

A nível dos empresário­s, acrescento­u, existem também dificuldad­es em obter incentivos para a construção de lojas para a venda de artefactos de pesca, bem como para o desenvolvi­mento da aquicultur­a, pelo que Lúcia Tomás, fez um apelo aos potenciais investidor­es.

Muitos projectos concebidos para a melhoria das vias de ligação não tiveram "pernas para andar".

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ADOLFO DUMBO| EDIÇÕES NOVEMBRO | SOYO A vila está beneficiar de várias obras de reabilitaç­ão de infra-estruturas rodoviária­s, bem como em sectores sociais
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ADOLFO DUMBO| EDIÇÕES NOVEMBRO | SOYO Administra­dora do Soyo sugere mais investimen­tos

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