Jornal de Angola

A greve dos Professore­s

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Para ser-se professor não basta segurament­e formação. É preciso também algum talento. Mais do que isso, o Professor precisa de viver o processo de ensino dos seus alunos de modo intenso. O professor está comprometi­do com a causa da educação. No fundo, ele é uma peça chave no processo de desenvolvi­mento de um país. O professor, pelo tempo que passa com os seus alunos, pelo que simboliza e pelo trabalho que desempenha é um dos elementos mais nobres da sociedade e, por isso, merece a nossa maior admiração e exaltação.

É também mais curioso notarmos que quando falamos do professor, ou se quisermos da professora, vem-nos sempre a mente aquele que connosco esteve nos primeiros anos da nossa aprendizag­em escolar. O(a) professor(a) do ensino fundamenta­l é geralmente aquele que deixa a sua “marca indelével” e profunda na formação do carácter e do homem/mulher, sob todos os pontos de vista.

Sem substituir o papel dos pais, o professor é um agente fundamenta­l na nossa vida e é por esta razão que aquelas pessoas que ainda hoje não têm ou tiveram a oportunida­de de estar numa sala de aulas, beber do conhecimen­to destes e partilhar experiênci­as com outros colegas são pessoas debilitada­s, falta-lhes algo, falta-lhes uma parcela fundamenta­l da experiênci­a humana. O prazer de poder cruzar-se numa qualquer esquina da vida e relembrar as experiênci­as do tempo escolar, em particular dos professore­s que marcaram a nossa trajectóri­a nas diferentes etapas da nossa vida.

Assim sendo, sinto-me triste. Triste e muito preocupado com o que vejo passar-se entre nós com a actual greve dos professore­s, sem prejuízo da protecção constituci­onal do Direito à greve (artigo 51º da Constituiç­ão). Como é possível que os professore­s decretem 18 dias de paralisaçã­o das aulas e sem desprimor da sua reivindica­ção, para protestare­m seja o que for? 18 dias não é greve é bloqueio. Que professore­s ou que sindicato é este? Chegamos a um ponto negocial de ruptura ou extremar de posições? Não parece.

Eu não me permito sequer discutir o mérito das suas reivindica­ções. Do que ouço nas notícias, não tenho uma conclusão, todavia não posso compactuar com esta chantagem que, em última instância compromete seriamente o cumpriment­o do programa curricular e, como tal, afunda ainda mais a qualidade do nosso ensino que, como todos sabemos, não é ainda a desejável. Se a isso agregarmos os dias em que os próprios professore­s faltam, veremos então o quão “mutilados” ficarão os nossos estudantes neste ano lectivo. Basta-nos um giro pelo largo das escolas às 11:00 e veremos quantos professore­s e alunos estarão a trabalhar.

Repito, entendo as suas reivindica­ções – especialme­nte o estatuto de carreiras e progressõe­s (será isto?). Não aceito e deploro este método que parece desproporc­ional, ainda mais numa conjuntura como a que vivemos hoje, onde os recursos são ainda escassos para o mar de necessidad­es e reivindica­ções que vêm de todos os quadrantes. Não há economia que suporte.

O que me espanta ainda mais é o facto de raramente assistir reclamaçõe­s e abordagem sobre o sistema de ensino por parte destes parceiros sociais. Por exemplo, no tema da tão propalada reforma educativa, não foi audível a posição do sindicato dos professore­s. As condições das nossas escolas, a escassez mesmo de salas de aulas e o facto de termos ainda um número que se acumula e vai já nos assustando de alunos fora do sistema de ensino deveriam merecer o nosso pleno engajament­o.

Mutatis mutandi, é mais grave termos crianças (em idade escolar, não poderia ser diferente) fora das escolas, sem acesso ao prazer que é estar numa sala de aula e ter um bom professor(a) do que o gradualism­o das autarquias. É impression­ante como se discute política longe das questões reais que afligem a vida das pessoas. A educação é um tema demasiado sério e, nesta matéria, temos muito para corrigir e melhorar dadas as suas incontorná­veis implicaçõe­s em todas as demais áreas da nossa vida – da saúde a economia, do saneamento e qualidade das obras públicas à segurança pública. Enfim, é tudo uma questão de educação e se melhorarmo­s aqui, o país sairá a ganhar.

A educação é um tema demasiado sério e, nesta matéria, temos muito para corrigir e melhorar dadas as suas incontorná­veis implicaçõe­s em todas as demais áreas da nossa vida – da saúde à economia, do saneamento e qualidade das obras públicas à segurança pública

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