Antigos combatentes estão por reintegrar
Cerca de 78 mil ex-militares e desmobilizados da UNITA aguardam até ao momento pela sua reintegração social, revelou em Luanda Marcial Dachala, membro da comissão política do partido.
Em entrevista à TV Zimbo, Marcial Dachala, que até à morte do fundador do partido, Jornas Savimbi, em 2002, foi secretário para a informação da UNITA, disse haver falta de vontade das autoridades angolanas para a solução deste problema.
“Oxalá se resolva esse problema, porque estamos a falar de pais de família”, afirmou o político, referindose aos antigos militares do seu partido que aguardam pela reintegração depois da desmobilização do extinto braço armado da UNITA.
Durante a entrevista, Marcial Dachala falou do seu percurso na UNITA, bem como sobre assuntos relativos ao país, como a transição política que se regista neste momento e a preparação para a implantação das autarquias.
Relativamente às eleições autárquicas, previstas para 2020, Marcial Dachala afirmou que a UNITA está a prepararse convenientemente para vencê-las e considerou que as autarquias são fundamentais para melhorar a educação e a saúde. Tal como o seu partido, Marcial Dachala defende que as eleições autárquicas, as primeiras na história do país, sejam realizadas em todos os municípios. “Não defendo o reescalonamento”, disse, referindo-se ao “gradualismo”.
Sobre a transição política em curso no país, o antigo secretário para a informação da UNITA disse que a mesma é natural. “Uma geração cumpre com o seu papel e depois vem outra. O mais importante é que cada geração saiba cumprir com o seu papel”, considerou.
O político comentou os seis meses de governação do Presidente da República, afirmando que João Lourenço “está a arrumar a casa”. Questionado sobre se João Lourenço estava a “arrumar” bem a casa, o entrevistado deu a entender que não queria entrar em mais pormenores, respondendo laconicamente: “não sei!”
Bicefalia do poder
Durante a entrevista, Marcial Dachala manifestou a sua oposição à bicefalia do poder no país. Chegou a parafrasear o antigo estadista senegalês Leopold Sedar Senghor, segundo o qual “todo o corpo animal com duas cabeças é um monstro”.
Marcial Dachala contrariou algumas correntes de opinião segundo as quais a bicefalia é um assunto que apenas diz respeito ao partido no poder. “Dizem que é um problema interno, mas observamos que também nos afecta”, frisou.
Sobre o poder judicial, o político reconheceu que está a afirmar-se cada vez mais e disse esperar que, nos próximos dias, assuma definitivamente o seu papel.
O político também fez uma avaliação do desempenho do presidente do seu partido, afirmando que Isaías Samakuva fez o que pôde. “Está a fazer o seu trabalho, com inteligência e devoção”, disse Marcial Dachala, que no último congresso da UNITA foi director da campanha do candidato derrotado Lukamba Paulo “Gato”. “Anteriormente, tivemos 16 deputados na Assembleia Nacional, depois subimos para 32 e agora temos 51”, sublinhou.
Marcial Dachala não quis entrar em detalhes sobre as causas que estiveram na base da derrota da UNITA nas últimas eleições, mas garante que um dia o partido fundado por Jonas Savimbi vai estar no poder em Angola. Mas, para tal, disse que a UNITA deve comunicar mais.
“Muitos têm simpatias pela UNITA, mas ainda não se despiram do preconceito criado contra nós”, notou o político, insistindo que o partido deve acertar melhor a sua forma de comunicar, bem como estar mais próximo da população.