As autarquias e os cidadãos
Nos últimos dias, muito se tem falado e escrito sobre a problemática que envolve o processo que antecede a realização das eleições autárquicas, já aprazadas para o ano de 2020.
O único consenso que neste momento existe em relação a esta matéria, a nível da classe política, é o que se refere à data e à importância do acontecimento. Em tudo o resto existe um natural e compreensível desencontro de opiniões queira sendo gradualmente esbatido até à hora da votação.
No entanto, há um trabalho que começa agora a ser feito e que determinará o sucesso das autárquicas: o debate público inclusivo para melhor esclarecimento da população.
Devido às vicissitudes do país, resultantes das assimetrias regionais que são bem conhecidas, existe por parte da população a tendência para pensar que as eleições autárquicas serão a solução para todos os problemas que estão a viver, quando todos sabemos que assim não será, nem nunca poderia ser.
Aos poucos, as populações estão a alimentar uma onda de expectativa que os políticos agora terão a difícil tarefa de gerir, sabendo-se que quanto mais tarde o começassem a fazer mais difícil seria a sua missão.
Embora estejamos a mais de dois anos da sua realização, é importante que a população tome desde já conhecimento de como tudo se processará para que na hora da decisão do voto o possa exercer com perfeito conhecimento de causa.
Talvez a nível dos peritos e mesmo da classe política, existisse já um domínio mais ou menos perfeito dos tempos e dos prazos para a implementação de todo um calendário que nos conduzirá, todos esperamos que tranquilamente, até 2020.
Mas é bom, diríamos mesmo fundamental, envolver activamente a população nos meandros de todo esse sistema para que ela se sinta parte activa num processo que lhe vai dizer directamente respeito.
Em política, a gestão de expectativas é a barreira que costuma separar os bons dos maus políticos, aqueles que conhecem o tempo certo de intervir e os que actuam mais em reacção, geralmente tardia, em relação a determinados acontecimentos.
As informações que até agora têm sido disponibilizadas eram herméticas, pouco digeríveis para uma população que vê nas autarquias a luz que a poderá guiar para sair do túnel onde actualmente se encontra.
Quem está do lado de fora de todo o processo ainda tem a percepção de que dois anos talvez não seja tempo suficiente para vencer todas as barreiras que ainda existem para a realização das eleições autárquicas.
Os que assistem ou ouvem os debates sobre a autarquias, protagonizados por representantes de diferentes sensibilidades políticas, ficam ainda com a sensação de que mesmo os peritos estão longe de uma unanimidade sobre o melhor caminho a percorrer para tornar este sonho uma realidade.
O pior que poderia suceder neste processo de eleições autárquicas seria o antecipado aproveitamento político por parte das diferentes formações, quando o objectivo principal deveria ser o envolvimento cada vez maior da população independentemente da sua coloração partidária.
Por isso se saúda a iniciativa de levar o debate ao seio da população, para que esta saiba aquilo que a espera, de modo a não exceder as expectativas que estavam a ser criadas em redor da criação das autarquias como se de uma mezinha mágica se tratasse.