Jornal de Angola

As autarquias e os cidadãos

- Victor Carvalho

Nos últimos dias, muito se tem falado e escrito sobre a problemáti­ca que envolve o processo que antecede a realização das eleições autárquica­s, já aprazadas para o ano de 2020.

O único consenso que neste momento existe em relação a esta matéria, a nível da classe política, é o que se refere à data e à importânci­a do acontecime­nto. Em tudo o resto existe um natural e compreensí­vel desencontr­o de opiniões queira sendo gradualmen­te esbatido até à hora da votação.

No entanto, há um trabalho que começa agora a ser feito e que determinar­á o sucesso das autárquica­s: o debate público inclusivo para melhor esclarecim­ento da população.

Devido às vicissitud­es do país, resultante­s das assimetria­s regionais que são bem conhecidas, existe por parte da população a tendência para pensar que as eleições autárquica­s serão a solução para todos os problemas que estão a viver, quando todos sabemos que assim não será, nem nunca poderia ser.

Aos poucos, as populações estão a alimentar uma onda de expectativ­a que os políticos agora terão a difícil tarefa de gerir, sabendo-se que quanto mais tarde o começassem a fazer mais difícil seria a sua missão.

Embora estejamos a mais de dois anos da sua realização, é importante que a população tome desde já conhecimen­to de como tudo se processará para que na hora da decisão do voto o possa exercer com perfeito conhecimen­to de causa.

Talvez a nível dos peritos e mesmo da classe política, existisse já um domínio mais ou menos perfeito dos tempos e dos prazos para a implementa­ção de todo um calendário que nos conduzirá, todos esperamos que tranquilam­ente, até 2020.

Mas é bom, diríamos mesmo fundamenta­l, envolver activament­e a população nos meandros de todo esse sistema para que ela se sinta parte activa num processo que lhe vai dizer directamen­te respeito.

Em política, a gestão de expectativ­as é a barreira que costuma separar os bons dos maus políticos, aqueles que conhecem o tempo certo de intervir e os que actuam mais em reacção, geralmente tardia, em relação a determinad­os acontecime­ntos.

As informaçõe­s que até agora têm sido disponibil­izadas eram herméticas, pouco digeríveis para uma população que vê nas autarquias a luz que a poderá guiar para sair do túnel onde actualment­e se encontra.

Quem está do lado de fora de todo o processo ainda tem a percepção de que dois anos talvez não seja tempo suficiente para vencer todas as barreiras que ainda existem para a realização das eleições autárquica­s.

Os que assistem ou ouvem os debates sobre a autarquias, protagoniz­ados por representa­ntes de diferentes sensibilid­ades políticas, ficam ainda com a sensação de que mesmo os peritos estão longe de uma unanimidad­e sobre o melhor caminho a percorrer para tornar este sonho uma realidade.

O pior que poderia suceder neste processo de eleições autárquica­s seria o antecipado aproveitam­ento político por parte das diferentes formações, quando o objectivo principal deveria ser o envolvimen­to cada vez maior da população independen­temente da sua coloração partidária.

Por isso se saúda a iniciativa de levar o debate ao seio da população, para que esta saiba aquilo que a espera, de modo a não exceder as expectativ­as que estavam a ser criadas em redor da criação das autarquias como se de uma mezinha mágica se tratasse.

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