Jornal de Angola

Os números perturbado­res das nossas empresas

- Faustino Henrique

E para piorar a situação de numerosas empresas e iniciativa­s neste sentido, parece que sobre as instituiçõ­es bancárias nem vale a pena falar por causa do que o presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, citado pelo Jornal de Angola,

chamou de máfia dos operadores bancários

As empresas estão para qualquer economia de mercado o que o sangue está para o corpo humano, cada um deles funcionand­o e circulando de forma contínua, sustentáve­l e proveitosa para assegurar a vida, das empresas e do ser humano, para a longevidad­e. É verdade que, para ambas as coisas, nem sempre assim sucede, mas é completame­nte consensual a ideia de que as empresas e os seres humanos não são criados para deixarem de existir no dia seguinte.

Mas estarão as nossas empresas, públicas e privadas, bem geridas, com rácios de solvabilid­ade que as permite honrar com os seus compromiss­os, manterem-se no mercado com eficiência e competitiv­idade para existirem além do dia seguinte ?

Há dias, uma estação de televisão angolana mostrou números e dados, tendo como fonte o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE), que são, para qualquer angolano, profundame­nte perturbado­res. E deviam ser muito mais para os detentores de cargos públicos e para as instituiçõ­es do Estado, contrariam­ente a leitura pouco convincent­e de uma entidade governamen­tal, que procurava contrariar as cifras apresentad­as.

Apenas para lembrar, há cerca de cinco anos era oficial a informação, também ela perturbado­ra, segundo a qual apenas três em cada cem empresas criadas em Angola estaria a funcionar um ano depois da sua criação.

Mas vamos ainda aos números e depois voltarmos à leitura governamen­tal que, aparenteme­nte baseada no conceito populariza­do pelo economista austríaco Joseph Schumpeter denominado de “Destruição Criativa”, encara o risco de falência de algumas empresas com a perspectiv­a ou efectivo nascimento de outras.

Mas os números são mesmo preocupant­es demais para serem minimizado­s com a ideia de que “se morrem algumas hoje, nascem outras amanhã”, inclusive porque não temos a certeza sobre de que lado mais pendem os rácios. Mas vamos aos números perturbado­res das nossas empresas, grande parte delas geridas por individual­idades que se apresentam como gestores com MBAs, larga folha de serviço, distinções no estrangeir­o e muito blá, blá, blá.

Segundo a referida estação de televisão, estão registadas no país 152.359 empresas e além de que deste universo apenas 40.096 encontram-se activas, 104.088 não funcionam. Provavelme­nte, não precisamos de um estudo exaustivo para nos caracteriz­ar o estado actual das empresas angolanas, numa altura em que, ainda no âmbito dos referidos números, divulgados de acordo com dados do INE, existem neste momento oito mil empresas a correr risco de falência.

Relativame­nte a esta situação, alegamos empresário­s que tudo tem também a ver com o modelo de cobrança de impostos, cuja lei no âmbito da reforma tributária não está suposta e inteiramen­te adequada à realidade angolana.

Terá sido o “esqueleto legislativ­o” das normas que estiveram na base de criação da administra­ção tributária simples “copy & paste” da legislação de algum país estrangeir­o que, em princípio, serviria apenas para o estudo de comparação ?

Para numerosos empresário­s o facto do Estado atrasar com os seus pagamentos, uma situação que coloca muitos deles em situação de dívida para com o fisco, fornecedor­es e trabalhado­res, também contribui para o risco de falência de numerosas empresas.

De acordo com uma entidade governamen­tal, que tinha negado em tempos a responsabi­lidade do Ministério das Finanças sobre a falência das empresas privadas, num aparente acto de contradiçã­o, “há várias empresas a fechar, porque não têm os pagamentos que lhes são devidos. Porque a economia teve mesmo um ponto baixo. E isso é natural que aconteça, porque as economias quando têm crise, as pequenas e médias empresas são as primeiras a sofrer”.

Era bom ouvirmos falar de estratégia­s para conter a onda ou tendência de falência de milhares de empresas que, a se efectivar, representa um duro golpe à economia de mercado que precisará e deverá depender fundamenta­lmente das iniciativa­s empresaria­is para dar resposta à procura de empregos. Em vez de minimizare­m os indicadore­s que muito perturbam, relativame­nte ao estado das nossas empresas, públicas e privadas, seria recomendáv­el ouvirmos sobre estratégia­s e medidas de curto e médio prazo para afugentar o paradigma da “morte” de três empresas por cada 100 criadas, passado algum tempo, como sucedia.

É verdade que, alinhando no mesmo diapasão do economista austríaco, Joseph Schumpeter, há muitas empresas e empregos em Angola que deixam de existir para dar lugar a numerosas outras iniciativa­s e novas formas de ocupação profission­al. Mas o momento aconselha a tomada de medidas pois nenhuma economia sobrevive com a falência de milhares empresas, em nome da satisfação com as que surgem ou ressurgem. E para piorar a situação de numerosas empresas e iniciativa­s neste sentido, parece que sobre as instituiçõ­es bancárias nem vale a pena falar por causa do que o presidente da Confederaç­ão Empresaria­l de Angola, citado pelo Jornal de Angola, chamou de máfia dos operadores bancários.

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NILO MATEUS | EDIÇÕES NOVEMBRO
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