Investigadores de armas químicas estão em Douma
Especialistas internacionais começam a recolher as provas do alegado ataque químico contra civis na região de Ghouta
Os especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas entraram ontem na cidade de Douma para investigar o alegado ataque com gás neurotóxico contra civis, após terem sido superados os “problemas de segurança” de véspera, anunciaram fontes russas e sírias.
A televisão e a agência estatais sírias anunciaram que os peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas chegaram a Douma, cidade-alvo de um alegado ataque químico, que o Ocidente atribui às forças governamentais, no passado dia 7 de Abril.
“Peritos da comissão de armas químicas entram em Douma”, anunciou a agência Sana. Os Estados Unidos e França acusaram a Síria de colocar entraves à investigação dos peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas, cuja chegada a Douma esteve inicialmente prevista para sábado, depois para domingo e, ontem de manhã, adiada para esta quarta-feira.
Sírios e russos justificaram os adiamentos com “problemas de segurança”.
“Na quarta-feira, prevemos a chegada dos especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas”, disse segundafeira um alto responsável russo, numa conferência de imprensa na embaixada da Rússia em Haia, depois de informar que as estradas que levam a Douma estavam a ser desminadas.
As declarações do diplomata russo surgiram depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Riabkov, ter atribuído à ONU a responsabilidade pelo atraso no acesso a Douma dos inspectores que devem investigar o alegado ataque ali ocorrido a 7 de Abril e que fez, pelo menos, 40 mortos e 500 feridos, de acordo com uma organização não governamental norteamericana e uma equipa de Capacetes Brancos do Crescente Vermelho. Riabkov disse, em Moscovo, que o departamento de segurança da ONU não havia dado aos especialistas a autorização para se deslocarem a Douma, cidade próxima da capital síria, Damasco.
Por sua vez, a ONU rejeitou as afirmações russas, tendo o porta-voz da organização, Stéphane Dujarric, assegurado que foram dadas aos especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas todas as autorizações de segurança necessárias para se deslocarem a Douma.
Depois disso, a própria Organização para a Proibição de Armas Químicas esclareceu que a equipa não pôde entrar em Douma por “questões de segurança” alegadas pelas autoridades russas e sírias.
“Os funcionários sírios e russos que participaram nas reuniões preparatórias em Damasco informaram a equipa de investigadores de que ainda estão a resolver questões de segurança pendentes, antes que se possa realizar qualquer deslocação”, disse na ocasião o director da Organização para a Proibição de Armas Químicas, Ahmet Üzümcü.
Em contrapartida, as autoridades sírias propuseram à equipa de investigadores que chegou a Damasco no passado sábado que entrevistasse um total de 22 supostas testemunhas do alegado ataque químico. A ONU disse que quer que os inspectores tenham acesso a todos os locais que considerem importantes para esclarecer o que aconteceu.
Tensão diplomática
A tensão internacional não dá mostras de diminuir após os bombardeamentos realizados no sábado pelos Estados Unidos, França e Reino Unido contra instalações militares do Governo na Síria, após o alegado ataque químico à cidade então rebelde de Douma, em Ghouta Oriental, às portas de Damasco.
Os ataques do Ocidente, de dimensões inéditas, ocorreram apesar da presença na Síria dos inspectores da OPAQ, que têm como missão investigar sobre a eventual utilização de armas químicas.
O seu trabalho anunciase complicado, mais de uma semana após os acontecimentos, numa zona que desde então passou para o controlo das autoridades do Governo sírio e da polícia militar russa.
Os últimos combatentes rebeldes de Douma abandonaram no sábado a cidade em ruínas, no âmbito de um acordo de rendição assinado a 9 de Abril, dois dias depois do suposto ataque químico.
Os Estados Unidos e seus aliados da França e Reino Unido suspeitam de que a Rússia poderá ter manipulado o local para impedir a descoberta de provas.
“Os russos podem ter visitado o local do ataque. Receamos que eles o tenham alterado, com a intenção de frustrar os esforços da missão da OPAQ para realizar uma investigação eficaz”, declarou o embaixador americano junto da organização, Ken Ward. A França disse ser “muito provável” que desapareçam “elementos essenciais” de Douma antes da chegada dos inspectores internacionais.
Organização das Nações Unidas defende acesso irrestrito dos investigadores a todos os locais que considerem importantes para esclarecer o que aconteceu